Surfistas da neve: Jovens do litoral de SP se destacam no snowboard
Irmãos Matheus e Davi Dias, de 8 e 13 anos, tinham tudo para seguir nas ondas, mas preferiram viajar o mundo em busca da lugares gelados
Especiais|André Avelar, do R7
Eles tinham tudo para escolher o surfe: ondas na porta de casa, ídolo na praia local e até pai surfista. Mas mesmo assim fizeram a incomum opção pelo snowboard.
Os irmãos Matheus e Davi Dias, moradores da Praia Vermelha, em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, ainda brincam nas mesmas ondas do líder do ranking mundial Filipe Toledo. A busca pela neve ao redor do mundo, no entanto, fala mais alto. E eles têm conseguidos bons resultados em um possível caminho para a profissionalização.
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“É uma diversão, mas também tem muita competição. Tenho conseguido bons resultados contra outros meninos de outros países”, disse Matheus, de 13 anos, que começou no surfe, passou pelo futebol e pratica snowboard há seis. “Eu já comecei no snow e também ando de skate”, se apressou em completar Davi, de 8 anos.
O pai Anderson, hoje representante comercial de marcas de surfe e skate, tenta a todo custo não colocar aquela conhecida pressão por um futuro no esporte em garotos tão novos. Mais do que isso, faz questão que, ao lado da mãe Carina, a família passe a maior tempo juntos em viagens para lugares gelados.
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Por questões naturais de ausência de neve, os treinos são feitos longe de casa. Um clube de snowboard, no Colorado, no Estados Unidos, é o destino mais comum. Com o passar dos anos, as visitas a lugares gelados passaram de 40, 45 dias para quase cem dias na neve.
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Se sonhadas medalhas não se materializarem na parede do quarto dividido com pôsteres do multicampeão Shaun White, pelo menos este tempo em lugares magníficos já valeu a pena — o ídolo norte-americano é dono de três ouros olímpicos na neve do halfpipe e outras 18 medalhas no X-Games de Inverno.
“Tento passar para eles não só o lado da competição. O quão legal é ser atleta, conhecido pelo que faz, ganhar medalhas. Mas o principal é o amor que você tem pelo esporte. O mais importante neste momento é o prazer que você tem em vivenciar a natureza, a montanha, a neve”, disse Anderson.
Referência e técnica
Outra referência para os esportes na neve é a mesma de tantos outros praticantes brasileiros: Isabel Clark. A atleta que, aos 41 anos vai deixando o alto-rendimento, agora trata de ajudar os pequenos atletas. A melhor brasileira em uma edição dos Jogos Olímpicos de Inverno participa de clínicas e auxilia na organização de torneios da CBDN (Confederação Brasileira de Desportos na Neve).
A família Dias esteve no último mês de setembro no Campeonato Brasileiro de Snowboard, por questões óbvias, disputado fora do Brasil. A 24 edição foi disputada em Corralco, no Chile, e garantiu para Matheus além de índice para campeonatos mundiais, mais um encontro com Isabel.
“Quando vi a Isabel pela primeira vez falei: ‘caraca, é a Isabel Clark’. Fiz parte da clínica, aprendi muita coisa e pretendo evoluir sempre. A gente treina na neve, mas também no skate, no surfe. Tudo é base para o snowboard”, disse Matheus.
A trilha para repetir os feitos de Isabel já foi desbravada, mas ainda tem inúmeros obstáculos, principalmente, para os que vivem em um país tropical. Enquanto o futuro não chegam, os irmãos vão se divertindo e elevando o próprio nível técnico.
“Quando ele (Matheus) aprende uma manobra, eu quero aprender também”, disse Davi.