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Há 60 anos, basquete brasileiro igualava futebol e ganhava Mundial

Time verde-amarelo precisou superar seu 'Maracanazo' para conquistar título em 1959; Amaury Pasos e Wlamir Marques eram os grandes nomes da equipe

Especiais|André Avelar, do R7

Brasil, do técnico Kanela (segundo em pé), treinou três meses para Mundial
Brasil, do técnico Kanela (segundo em pé), treinou três meses para Mundial

O time era Algodão, Waldemar, Wlamir, Edson Bispo e Amaury; mas, naquele 31 de janeiro de 1959, eles eram Didi, Zagallo, Garrincha, Vavá e Pelé. Há exatos 60 anos, a seleção brasileira de basquete se apresentava verdadeiramente ao mundo, igualava o futebol e conquistava pela primeira vez um título mundial.

“A pátria continuou sendo de chuteiras”, como disse Wlamir Marques, em entrevista ao R7, ainda que a vitória contra o Chile, em uma quadra montada em pleno Estádio Nacional de Santiago, tivesse sido bastante comemorada. Se o futebol sofreu com o vice em 1950 para conquistar a Copa do Mundo em 1958, o basquete sofreu o mesmo revés em 1954 para vencer cinco anos depois.

Wlamir comandou conquistas
Wlamir comandou conquistas ARQUIVO/AE

“É difícil... Até hoje nós vivemos do futebol. Lembro que a repercussão foi muito grande e fomos acolhidos da mesma forma que o futebol. Certamente, foi uma época dourada em que o país viveu grandes momentos”, disse Wlamir, hoje com 81 anos, comentarista de basquete na ESPN. 

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A equipe do exigente técnico Togo Renan Soares, o Kanela, já havia sido vice-campeão em 1954, no Rio de Janeiro, em episódio semelhante ao Maracanazo. Daquelas histórias em que se aprende na derrota, o time passou a treinar ainda mais para conseguir a vitória em um torneio com algumas peculiaridades.

Inicialmente, a competição chilena seria disputada um ano antes, mas a organização não conseguiu entregar as instalações em tempo e as partidas começaram só em janeiro. Além disso, uma crise diplomática também invadiu a competição da Fiba (Federação Internacional de Basquetebol, na sigla em inglês) com a Bulgária e a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) se recusando a continuar no torneio.


Os dois países estavam do lado da China no bloco socialista da Guerra Fria e se recuaram a enfrentar Formosa (atual território de Taiwan). Bulgária e URSS então também não reconheciam a ilha chinesa como país independente e, por isso, tiveram suas partidas creditadas como W.O na segunda fase — a URSS venceu todas as suas partidas, exceto o resultado para Formosa, quando não entrou em quadra.

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Quando olhado para trás, a conquista parece ainda mais surpreendente. Pecente, que era o que se diz hoje o ‘sexto homem’ do quinteto titular, lembra que pouco sabia o que ‘representava aquela sigla no uniforme’ adversário.

“Naquela época, o esporte como um todo ficou em evidência. Dividíamos as conquistas com Estados Unidos e a União Soviética. Era uma coisa inacreditável”, garantiu Pecente. “A nossa base era o jogo de velocidade, com muito contra-ataque. A bola chegava muito rápido ao ataque e com jogadores que se completavam. Isso foi fundamental para a nossa equipe.”

O sistema de disputa da competição não contemplava a fase eliminatória. Calhou do último jogo ser contra os donos da casa. O Brasil conquistou sua quinta vitória em seis jogos na fase final e bateu o Chile na decisão por 73 a 49. Os Estados Unidos, hoje dono de cinco ouros, acabaram na segunda colocação.

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A seleção brasileira de basquete ainda conseguiu boas campanhas nas principais competições pelo mundo. Além do bicampeonato mundial em 1963 e o vice em 1970, o time verde-amarelo também levou outras duas medalhas olímpicas na mesma época, em 1960 e 1964.

Quando a geração se desfez, no entanto, os títulos minguaram. Para ficar só em Jogos Olímpicos, a equipe chegou a ficar três edições sem sequer se classificar. Já na Rio 2016, o time foi eliminado ainda na primeira fase da competição.

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“Estamos falando agora de uma conquista de 60 anos por que não tem outra. Naquela época deu certo. Éramos jovens, desprendidos de desejos pessoais em busca de títulos. Para esse Mundial, o Kanela deixou a gente três meses treinando”, disse Wlamir, que esteve longe das atuais fortunas do basquete milionário da NBA.

“Os tempos eram outros, mas me sinto reconhecido. É um título que ficou gravado na memória, está na história do basquete brasileiro e ninguém vai tirar”, resumiu Pecente.

Dos jogadores que conquistaram o primeiro Mundial, apenas Amaury, Jatyr, Pecente e Wlamir estão vivos. O técnico Kanela morreu em 1992. 

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