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Técnica brasileira convidada para treinos de time da NFL pode não ir aos EUA por problema com visto

Ester Alencar foi selecionada entre 25 pessoas de todo mundo que participaram do National Coaching Academy dos Buccaneers

Jarda por Jarda|Lucas FerreiraOpens in new window


Ester Alencar conheceu o membro do Hall da Fama Tony Dungy, vencedor do Super Bowl como jogador e treinador Kyle Zedaker/Tampa Bay Buccaneers - 07.05.2024

Não é só o kicker Cairo Santos, do Chicago Bears, que representa o Brasil na NFL. A partir do próximo dia 22, a treinadora de quarterbacks Ester Alencar, do Rio Preto Weilers, deve se juntar à comissão técnica do Tampa Bay Buccaneers para participar do Training Camp da franquia na Flórida, Estados Unidos.

Ester esteve no último mês de maio com os Bucs no National Coaching Academy junto de outros 24 treinadores dos EUA e de outros lugares do mundo que participaram do Rookie Minicamp da franquia. Agora, a brasileira foi uma das cinco técnicas convidadas a retornar para o Training Camp, fase essencial de preparação para a temporada regular da NFL.

Em entrevista exclusiva ao Jarda por Jarda, Ester contou sobre o amor pelo futebol americano, como concilia a carreira de treinadora e atleta da seleção brasileira de flag football e a ansiedade para a participação nos treinos dos Buccaneers. A jovem de 26 anos também revelou as dificuldades com o visto, que podem impedir sua ida até os Estados Unidos.

Confira a entrevista completa com Ester Alencar:

Ester fez parte da National Coaching Academy dos Buccaneers Divulgação/Tampa Bay Buccaneers - Arquivo Pessoal

Jarda por Jarda: Não posso começar a entrevista sem te perguntar como está o coração para participar do Training Camp do Tampa Bay Buccaneers.


Ester Alencar: É um misto de sentimentos, na verdade. Estou muito feliz, nem nos sonhos mais distantes isso era algo que colocava na cabeça. Ao mesmo tempo, tento ser muito realista, porque ainda tem uma parte burocrática que precisa ser concluída para que isso aconteça. Então, assim, estou tentando manter o pé no chão e viver uma etapa por vez, honestamente.

Jarda por Jarda: Que espécie de burocracia que você está enfrentando?


Ester: Visto. Eu preciso de um visto específico e, enfim, estamos no processo aguardando uma petição. Os Buccaneers já entraram com um pedido de visto. Mas aí tem que esperar essa petição voltar dos Estados Unidos, aí eu posso de fato fazer uma entrevista. E assim, o relógio está rodando, então estou um pouco ansiosa com isso.

Jarda por Jarda: E na primeira fase que você participou, não teve problema com visto?


Ester: Não, porque era uma posição voluntária. Eu podia ir como meu visto de turista, mas agora é como se fosse um estágio remunerado. Então eu preciso ter um visto que me permite receber essa remuneração.

Ester participou do Rookie Minicamp dos Buccaneers em maio Tori Richman/Tampa Bay Buccaneers - 10.05.2024

Jarda por Jarda: Vamos voltar um pouco no tempo e falar da criança Ester: como começou o amor pelo futebol americano?

Ester: Sempre fui muito apaixonada por esportes no geral. Encontrei o futebol americano por causa do meu irmão, Gabriel. Ele descobriu o esporte, começou a jogar e, assim, sempre tive a tendência de fazer o que ele fazia, gostar das coisas que ele gostava.

Então, com 11 anos me apaixonei pela NFL. Acompanhava os treinos dele, jogava com ele em casa. Mas assim, estar no futebol americano era muito longe de ser uma possibilidade. Como menina, nem pensava nisso, né? Inclusive jogava vôlei na época, outros esportes. Fui encontrar futebol americano com uma possibilidade aos 17 anos, no processo de entrar na universidade. Enfim, desde então sigo aqui.

Jarda por Jarda: Você citou que começou a jogar aos 17 anos. É muito comum aqui no Brasil o atleta começar em uma modalidade do futebol americano e passar para outras. Como foi o seu processo?

Ester: Comecei direto no futebol americano com equipamento mesmo. Encontrei uma equipe feminina em Curitiba e, enfim, nunca mais parei. O flag só apareceu em Curitiba após a pandemia, na verdade. Por muito tempo, eu era uma das únicas pessoas que jogava flag, mas jogava por times fora de Curitiba, porque lá não tinha um programa de flag. Então, por muito tempo, foi realmente só o futebol americano para mim.

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Jarda por Jarda: Apesar de jogar, você se destacou como técnica. Como foi essa transição?

Ester: Acho que só os primeiros seis meses de futebol americano foi quando eu não era as duas coisas ao mesmo tempo. Por acompanhar o esporte desde muito cedo, quando comecei a jogar já entendia bem as dinâmicas do jogo. É claro que fazer isso no campo é totalmente diferente, mas eu já tinha uma noção dessa língua que é o futebol americano, já sabia falar, né?

Além disso estava estudando educação física. E aí, em certo momento, nós ficamos sem comissão técnica. Tinha eu e outras duas mulheres que ainda restaram no time. E a gente tinha uma decisão a tomar: a gente para de jogar futebol americano e segue a vida ou a gente recomeça isso tudo do zero. E nesse recomeçar tudo do zero, virei head coach e atleta.

Desde então, tenho levado essa carreira dupla, que é como falo. Por muito tempo, era no mesmo time. Então era coach e atleta estando no mesmo time, mas aí, a partir de 2018, decidi que eu gostaria de estar envolvida com o futebol americano masculino também. Então, era treinadora no time masculino e continuava jogando. Até hoje sigo nessa, agora com o flag e não com o futebol americano, nesse sentido de jornada dupla, mas sigo fazendo as duas coisas

Ester defendeu as cores do Brasil na Copa América de Flag Football, em 2023 Reprodução Instagram/@ester.alencar

Jarda por Jarda: Antes de falarmos dos Buccaneers, vi que você participou do Training Camp da seleção brasileira de flag football. Como está a preparação para o Mundial?

Ester: A gente teve agora o último Training Camp antes da Finlândia, acertando os últimos detalhes. Fiquei dizendo que foi um Training Camp bem, bem importante. A gente estava com a seleção completa, né? Então, refinamos alguns aspectos do jogo, especificamente.

Estamos com a cabeça boa, o grupo está muito bom. A gente tem atletas muito talentosas, assim, que entendem do flag, sabem jogar um bom flag. Então estou bem ansiosa para ver o que a gente vai conseguir fazer em campo, performar contra grandes times, né? Os outros países também seguiram um trabalho bem intenso desde o último Mundial. Já é outro flag, então estou empolgada para ver o que vai acontecer.

Jarda por Jarda: Você falou sobre o Mundial anterior, em 2021. Nesse meio tempo, o COI (Comitê Olímpico Internacional) anunciou o flag football como modalidade do programa esportivo de Los Angeles 2028. No Brasil, para vocês, aumentou o apoio com o esporte se tornando olímpico?

Ester: Isso ainda não teve muita influência. Desconheço como são os processos em relação a isso, mas por enquanto uma coisa não está conectada à outra. Para esse Mundial, está previsto que os atletas tenham o custo das passagens, ainda assim. Mas nos outros anos a gente tinha passagem, taxa, hospedagem... Todos os custos. Então, assim, houve uma pequena melhora nesse sentido, mas a gente ainda está por conta própria no sentido de arrecadar o valor das nossas passagens.

Jarda por Jarda: Você acha que o 4º lugar no Mundial Feminino de 2021 contribuiu para isso?

Ester: Acho que o bom resultado no último Mundial e a seleção masculina ter ido para o Mundial pela primeira vez deram um boom no esporte. Então a quantidade de praticantes e times que surgiram depois disso é significativo e exponencial. Foi uma mudança radical no contexto do esporte, mas acho que a questão olímpica deu apelo para, talvez, empresas investirem e permitirem que a gente consiga ter esse suporte que vai cuidar dessa parte das taxas de equipe, inscrição e etc., que num outro momento nós tínhamos que bancar tudo.

Além do trabalho em campo, Ester e os outros 24 treinadores participaram de reuniões de mentoria Kyle Zedaker/Tampa Bay Buccaneers - 09.05.2024

Jarda por Jarda: Vamos falar dos Buccaneers. Como foi esse tempo de voluntariado em Tampa Bay?

Ester: Essa experiência foi bem intensa. Os dias eram bem longos e cheios de atividade, mas foi incrível. Tive a possibilidade de conhecer muita gente dos Buccaneers. A gente teve contato com praticamente todas as pessoas. Realmente a organização abraçou esse projeto e estava todo mundo muito disposto a fazer disso uma experiência muito boa. Então desde o front office até o coaching staff, no geral, todo mundo fez com que nos sentíssemos muito bem-vindos. Então era uma troca muito legal com todo mundo, cada um do seu jeito, obviamente. Você via que eles estavam felizes desse programa estar acontecendo lá.

Tive muito mais troca com o coach de quarterbacks, Thaddeus Lewis. Um cara muito acessível, muito incrível, aprendi bastante com ele. A gente teve uma troca de experiência bem legal. Estou bem feliz de voltar e poder trabalhar, não só com ele, mas com outros coaches também, como o coach Jordan Somerville, que é assistente de quarterbacks.

A primeira parte dessa experiência era mais voltada numa capacitação profissional, então a gente tinha acesso a palestras e rodas de conversa, treinamento de mídia, de tudo um pouco, tanto com pessoas do Buccaneers como com pessoas da NFL. E aí, de fato, na metade para frente da semana, a gente estava no Rookie Minicamp, que foi por si só, talvez, a parte mais impactante e interessante de toda essa experiência.

Jarda por Jarda: Não faz tanto tempo que você voltou para o Brasil e já vai de novo para Tampa Bay. Na sua visão, o que você conseguiu trazer de ensinamento deste período que passou com os Bucs?

Ester: Então, cheguei no fim da fase de temporada regular e a gente já estava indo para os playoffs, então você não consegue de fato mudar muitas coisas. De forma prática, alguns drills que usei com os meus quarterbacks ou a forma de olhar algumas técnicas específicas, acho que isso já teve impacto direto no meu trabalho. Talvez algumas coisas que eu passei a questionar na nossa própria preparação, o plano de jogo, veio dessa bagagem que consegui construir estando com o Bucs lá, mas algumas outras coisas acho que só conseguiria implementar no contexto de renovação de uma temporada, à frente de um sistema ofensivo, buscando usar alguns dos ensinamentos que aprendi lá na implementação de um novo sistema aqui.

Ester conheceu Todd Bowles, head coach dos Buccaneers Kyle Zedaker/Tampa Bay Buccaners - 07.05.2024

Jarda por Jarda: Os Buccaneers vão entrar na fase de Training Camp e você vai estar lá trabalhando com caras como o quarterback Baker Mayfield. Qual a expectativa para esta segunda passagem?

Ester: Acho que em primeiro lugar é conseguir deixar o Bucs melhor de alguma forma. Contribuir, de fato, nesse processo. Porque estou muito feliz e eles vão me ensinar muita coisa, vou crescer muito, vai abrir portas da minha carreira, mas acho que quando a gente está falando sobre chegar a uma nova organização, buscar desenvolver carreira no futebol americano, não é só sobre o que eles podem me entregar, mas o que que eu posso dar e contribuir para a organização. Então a minha maior expectativa é essa: ser capaz de com a minha experiência aqui no Brasil, e o fato de sempre trabalhar com poucos recursos humanos, financeiros, materiais, encontrar soluções inesperadas para muitas coisas. Que essa minha versatilidade, capacidade de lidar com poucos recursos, consiga traduzir para o contexto da NFL e contribuir para o ataque.

Vai ser muito especial trabalhar com grandes atletas. Você citou Baker, mas também tem o Mike Evans e outros grandes nomes, até da comissão técnica. Então crescer no meu conhecimento de futebol americano: técnica, tática, cultura, tudo isso com certeza, mas assim, que eu consiga levar uma marca deixando o Bucs melhor do que do quando eu cheguei. Esse é uma maior objetivo.

Jarda por Jarda: Ester, você gostaria de deixar algum recado final?

Ester: Me sinto muito grata e privilegiada de estar ocupando esse espaço. De todas as pessoas que trabalham no futebol americano, ter sido escolhida para estar lá é muito especial, muito único, e eu sinto que eu só estou chegando nesse lugar pelas muitas pessoas que contribuíram na minha caminhada, para que eu tivesse aqui hoje. É um trabalho de pelo menos seis anos de uma construção constante visando esses voos maiores. Muitas pessoas contribuíram na minha carreira, no meu desenvolvimento, pessoal e profissional, para que isso fosse possível. O meu desejo é que as pessoas passem a olhar e respeitar o futebol americano que acontece no Brasil, que eu possa ser um bom exemplo disso lá fora.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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