Renato Gaúcho desafia a democracia. Ameaça boicote à Band
Treinador do Grêmio aponta repórter 'recalcado', com inveja da vida de jogadores. E ameaça pedir aos gremistas não assistirem programa na Band
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Direito de resposta.
É o recurso que uma pessoa tem de se defender de críticas públicas, no mesmo meio, em que foram publicadas ou ditas.
No jornalismo esportivo do Brasil, os questionamentos ao futebol são equivalentes à importância do principal esporte do país.
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Se questiona preparação, escalação, rendimento, talento, competência, psicologia. E, também o comportamento do atleta, fora do gramado. Não por acaso. Mas porque ele precisa de alimentação regrada, sono, descanso.
Álcool, noites viradas fazem o rendimento cair.
Refletem em campo, para a maioria dos jogadores.
Renato Gaúcho sempre foi claro, sem meias palavras, quando era jogador.
"Eu vou para a festa que quiser, durmo quando quiser.
"Mas tem uma coisa: eu me garanto.
"Nos treinos ou nos jogos, pode contar comigo."
E era assim mesmo.
Só que nem todos os outros jogadores eram ou são como Renato Gaúcho. Por tentarem acompanhá-lo nas baladas, muitos ficaram pelo caminho. Sabotaram suas carreiras.
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E foram cobrados por jornalistas.
21 anos após encerrar a carreira de jogador, Renato Gaúcho é um técnico consagrado. E que sabe que o Grêmio tem suas limitações financeiras. A saída é buscar atletas com potencial, mas que passam por momentos ruins nas suas carreiras, e recuperá-los.
Foi assim que fez com Cortez, André, Tardelli, Edilson... Uns deram certo, outros nem tanto.
Agora, ele aposta em Thiago Neves e Diego Souza.
Suas decisões são questionadas e analisadas em Porto Alegre. Estado que conta com apenas dois clubes grandes, tudo ganha proporção enorme.
O programa Os Donos da Bola, da TV Bandeirantes, oferece 30 minutos de discussão sobre o Internacional e o Grêmio. Com tanto tempo, os dois clubes são dissecados.
E a coletiva de Renato Gaúcho, na quarta-feira, véspera do jogo contra o São José, acabou sendo o 'prato principal'.
O treinador estava irritado com as críticas pelas apostas nos dois atletas.
E resolveu atacar.
"Têm pessoas aqui na imprensa do Rio Grande do Sul que são recalcadas.
"Eu não vivo de elogios, mas você percebe que tem cara que critica que tá indo pelo pessoal, que é recalcado.
"Que ele queria ter a vida do jogador, do treinador, e não tem.
"O bom é que é 1%
"Você percebe no semblante do cara que ele é recalcado. Eu quero que o torcedor perceba isso e, se ver que o cara é recalcado, troca de emissora."
Renato cometeu, sim, um grande erro.
Quando o jogador, o treinador ou o dirigente é criticado, o jornalista fala quem é. O treinador gremista deveria ter sido claro. Indentificar o 'recalcado'. Os jornalistas, esse tal 1%.
No debate na tevê, durante a hora do almoço, a sua postura foi criticada. Classificada como 'covarde'.
Após a vitória de ontem, contra o São José, o inevitável questionamento foi feito.
Pelo repórter da rádio Bandeirantes João Batista Filho que, ocasionalmente, comenta no programa Os Donos da Bola.
João perguntou e Renato exerceu seu direito de resposta, ao vivo.
"Renato, ontem tu disse na coletiva que tinha recalcado na imprensa. Falou um ou dois por cento da imprensa faziam parte de pessoas recalcadas, com inveja dos jogadores e enfim. Justo, direito teu, pode falar e tal. Mas tu acha justo não falar o nome?
Um (dos recalcados da imprensa) é você.
Por que?
Em primeiro lugar…
E quais seriam as outras pessoas, por favor?
Um ou dois colegas teus
Quais?
Um ou dois colegas teus
O que eles fizeram?
Se você deixar eu falar, vou explicar. Primeiro lugar você não pode baixar o nível lá na TV. Não podem jogar treinador e jogador contra a torcida com vida pessoal. Vocês estão apelando muito fácil. Se vocês nos respeitarem, vamos respeitar vocês. Vocês estão apelando muito e muito fácil.
Se querem Ibope, continuem apelando.
Não vai ser o toma lá, da cá. Porque aqui somos pessoas inteligentes, vamos respeitar todo mundo. Vocês tem um gremista no programa e quatro ou cinco colorados, até tudo bem.
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Mas não adianta vestir a camisa e ir contra o clube.
Se continuar assim, vou pedir para nossa torcida não assistir mais vocês.
Aqui é 50 a 50, então risquem 50%. Eu fico sabendo, não vejo o programa de vocês, não vejo televisão. Falaram que fui covarde ao não dar os nomes.
Um é você.
Outra coisa: covarde é quem usa espaço na mídia falando da vida pessoal sem ter o cara lá para falar. Ser corajoso é fazer o que estou fazendo com você. E você, comigo. Olho no olho.
Se começar a pegar pesado, vou falar de novo para nossa torcida não ver mais vocês.
Aí eu quero ver como vocês vão ficar com os patrocinadores.
Querem comprar essa briga?
Eu compro.
Vocês agridem demais a família.
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Critiquem se o jogador não estiver jogando bem. Se quiser apelar, vamos ver quem vai ganhar.
De covarde não tenho nada.
Tem alguma outra pergunta?
Esse assunto está encerrado...
Tenho ...
Mas você não vai mais perguntar hoje."
Renato Gaúcho acabou aplaudido por torcedores gremistas que acompanhavam a coletiva.
O técnico usou seu direito de resposta da maneira que quis.
Disse ao repórter que, na sua avaliação, ele seria um dos 'recalcados'. Ficou faltando os tais 'um ou dois'.
Negou ser covarde.
Atacou os jornalistas que fazem o programa.
E ameaçou pedir boicote à torcida do Grêmio, para que não assista ao Debate Bola gaúcho.
Aí Renato errou, extrapolou.
Não é com ameaça, boicote ao veículo que se resolvem 'injustiças' cometidas por jornalistas.
Existem meios legais, fora o direito de não falar com o repórter ou com o canal que ele representa.
Prometer campanha para os torcedores não assistirem, caso as críticas não diminuam e para que os patrocinadores abandonem o programa, beira a chantagem.
Renato tem todo o direito de responder a ataques, cobranças que acreditar serem injustas.
Até na justiça.
Mas ameaçar boicote é intolerável.
Renato Gaúcho é um dos melhores treinadores deste país.
Tem todo o direito de desejar a Seleção.
Inteligente, vivido.
Ganhador de títulos.
Precisa ser melhor orientado.
Não é com ameaças que se corrige injustiças.
Este ainda é um país democrático...
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