Renata Fan, de biquíni. Alimento ao estúpido machismo no futebol
A luta pela igualdade, pela meritocracia da mulher, atinge todas as áreas. Inclusive o futebol. Por anos, foi objeto sexual. Não há espaço para retrocesso
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Qual seria o impacto se Galvão Bueno prometesse?
Se o 'seu' Flamengo vencesse a Libertadores de 2019, ele posaria de sunga no dia seguinte.
Ou se Felipe Andreoli jurasse que estaria nas redes sociais com um calção, sem camisa, caso o Corinthians vencesse o tricampeonato paulista em 2019?
Esse tipo de recurso é absolutamente desnecessário, dispensável até desprezível.
Leia também
Só Renato Gaúcho para apostar em Thiago Neves e Diego Souza
Flamengo comemora. Ida de Pablo Marí ao Arsenal cancelada
Filhas com Jean. Agressor consegue reviravolta no futebol e na vida
O trágico adeus a um gênio bilionário e polêmico. Kobe Bryant
Defesa de Bruno reconhece. Futebol do Brasil não perdoa um feminicida
Quando se refere a homens.
Em pleno 2020, quando, depois da luta terrível, de décadas, pela equiparação de salários, valorização do trabalho da mulher, duelo contra o machismo, busca pela meritocracia, não há explicação para um passo atrás.
Quando as mulheres europeias e norte-americanas foram para o mercado de trabalho, enquanto os homens travavam a Segunda Guerra Mundial, elas transformaram uma relação submissa de milhares de anos.
Elas já foram proibidas de aprender a ler e escrever, a estudar, a votar, a dirigir. Tudo foi conquistado com muita luta diante do poder dos homens.
Desde a década de 40, o feminismo cresce e ganhou robustez, respeito. Abriu espaço para as mulheres em todas as frentes, depois de 80 anos.
Veja mais: Boicotar patrocinadores. Cruel fórmula para evitar volta de Bruno
Elas estão, por direito, trabalhando em absolutamente todas as profissões. Presidem países, pilotam aviões, comandam quartéis militares, conglomerados bilionários, coordenam estudos científicos, dirigem filmes, estúdios, são médicas "Sem Fronteiras".
Ganham prêmio Nobel, desde 1903, com Marie Curie, primeira pessoa a receber dois, outro em 1911. E perder a vida pela exposição à radiação.
Mulheres ficaram proibidas por 40 anos de jogar futebol no Brasil.
"Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”, resumia o decreto-lei 3.199 de 14 de abril de 1941.
Esse absurdo só acabou em 1981.
A Copa do Mundo da França, em 2019, o Ibope mostrou que mais de 35 milhões de pessoas acompanharam o duelo entre brasileiras e francesas.
Foram mais de um bilhão de pessoas que assistiram aos jogos durante a competição.
Veja mais: Globo desesperada. Não existe Carioca sem o Flamengo
Ou seja, a mulher está incorporada ao futebol, sem preconceito.
A RAI, estatal italiana, tinha o domínio completo do futebol na tevê durante décadas. No tradicional programa La Giostra dei Gol, a fórmula era a mesma. E que se firmou internacionamente entre 1990 e 2000.
Homens debatiam futebol e havia um mulher belíssima que também mostrava seus conhecimentos. Ela era Ilaria D'Amico.
Jornalistas esportivos brasileiros ficaram fascinados com a ideia. Principalmente Luciano do Valle e José Francisco Leal. Os dois formaram uma produtora independente, a Luqui.
Se aproveitaram que na década de 80 não havia canais de esporte no país, e fizeram do domingo, uma sequência de eventos, que iam do futebol ao bilhar, passando pelo boxe, basquete, vôlei.
Veja mais: Gabigol cansou de esperar. Foco será no Flamengo e na seleção
Abriu espaço para a criação do programa SuperTécnico. Entre 1999 e 2001, os melhores treinadores do país discutiam futebol. Além da apresentação de Milton Neves, havia um 'elemento infiltrado'. Uma mulher bonita, absolutamente copiando o que La Giostra del Gol, com Ilaria.
Foram elas: Nereide Nogueira, Luize Altenhofen, Bianca Russo e Daniela Freitas.
Não entendiam de futebol. Estavam lá como símbolo sexuais. Altenhofen e Freitas foram parar nuas em revistas masculinas.
Foi um retrocesso para as mulheres no futebol.
Renata Bomfiglio Fan, não. Apesar de linda, foi Miss Brasil e 12ª mulher mais bonita do mundo, no concurso Miss Universo, de 1999. Ela era advogada e se formou jornalista. Tinha experiência como apresentadora de rádio, no Rio Grande do Sul.
Quando teve chance de trabalhar com Milton Neves na Record TV e na extinta TV Mulher, em 2003, surpreendeu com seu conhecimento de futebol, desenvoltura no ar.
Logo rompeu a barreira de símbolo sexual.
Desde 2007 apresenta o programa Jogo Aberto, na Bandeirantes.
São 13 anos no ar.
Veja mais: Globo se nega a chamar milionário Red Bull pelo nome. Só se pagar
Ela abriu caminhos para várias outras profissionais.
Como Ana Thais Matos, a primeira comentarista de futebol, nos 54 anos da Globo.
Renata é torcedora assumida do Internacional, já comemorou título, chorou.
Mas ontem fez algo completamente desnecessário.
Ela havia prometido.
Se o Inter vencesse a Copa São Paulo, postaria uma foto de biquíni nas redes sociais.
E foi o que fez.
Abriu espaço para inúmeros comentários machistas. Outros ironizando uso de photoshop, que distorceu até o piso de madeira.
Mas não é isso que importa.
O que precisa ficar claro: essa exposição da mulher como objeto no futebol é algo desnecessário.
Para Denílson ficar admirando no ar.
Não há cabimento.
Não pode ser um prêmio, a apresentadora ficar de biquíni se seu time vence.
É ir contra conquistas históricas da mulher no mundo.
Na busca pela meritocracia, independente dos gêneros.
Das jornalistas, das apresentadoras brasileiras.
Das jogadoras.
Da própria vida pessoal de Renata.
Ela que reflita no que representa.
Para as milhões de meninas do país.
Que gostam e querem o caminho do futebol.
E no seu legado...
Curta a página do R7 Esportes no Facebook
Kobe Bryant para sempre! Fãs prestam homenagens para ídolo
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.