Denner e boate Kiss. Os aliados na economia do Fla com seus mortos
A assustadora lentidão da justiça deste país com indenizações ajuda clube carioca. Familiares dos meninos começam a ceder
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
A família de Denner, morto em um acidente de carro na Lagoa de Freitas, precisou de 21 anos para receber o seguro de vida do atacante por parte do Vasco da Gama.
A batalha jurídica pela indenização foi terrível.
E contou até com calote do clube carioca, depois que tudo estava acertado.
A mulher do falecido jogador e seus três filhos passaram inúmeras dificuldades financeiras até receberem.
O terrível incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, completou seis anos, em janeiro.
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Foram 242 mortos e 623 feridos.
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul contabilizava mais de mil ações exigindo reparação financeira às mortes e às pessoas feridas. Porque muitas pessoas entraram com dois, três ações, tentando viabilizar, antecipar qualquer pagamento.
Advogados da prefeitura de Santa Maria e empresa que administrava a boate seguem adiando, travando as ações. Fazendo o tempo passar de maneira cruel.
Esses dois terríveis exemplos estão sendo usados pela exaustão pela diretoria do Flamengo.
A lentidão da Justiça Brasileira se tornou cúmplice para que o clube carioca.
O medo de ficar décadas esperando o dinheiro de indenização dos dez meninos mortos no absurdo incêndio no Ninho do Urubu, está acelerando o processo.
E desprezando a atuação de promotores do Ministério Público do Trabalho que brigavam por uma indenização de R$ 2 milhões e mais R$ 10 mil mensalmente para as famílias, até que cada um deles atingisse 40 anos do seu nascimento.
O Flamengo, que faturará R$ 750 milhões em 2019, ofereceu R$ 700 mil parcelados para cada família dos dez garotos do sub-15 e sub-17. Eles morreram no dormitório do Centro de Treinamento, improvisado em contêineres.
Com a falta de acordo, os dirigentes do clube desistiram de usar o Ministério Público do Trabalho como intermediário. Passaram a procurar os familiares diretamente.
Além de oferecer um pouco mais do que a primeira proposta, usaram os exemplos de Denner e, principalmente, da boate Kiss para que aceitassem o dinheiro do Flamengo, que não chega nem à metade que o MPT indicava.
Não há sequer uma família rica entre os meninos mortos. E várias que tinham nos garotos a esperança de sair da pobreza. Daí a pressão psicológica começar a funcionar.
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Até porque os advogados do clube decidiram que todas as 26 famílias dos 26 meninos que dormiam na concentração na madrugada do dia 8 de fevereiro vão receber indenizações. As ofertas são ainda menores para os garotos que não morreram. E menor ainda aos que não se feriram. O objetivo é antecipar processos futuros.
No dia primeiro de março, na última sexta-feira, o clube comemorou publicamente o acerto com uma família.
E usando como desculpa a segurança das pessoas, não divulgou quais parentes de qual menino morto aceitaram a proposta financeira do clube.
Mas a notícia repercutiu.
De acordo com os promotores do Ministério do Trabalho, os familiares haviam se comprometido lutarem juntos para que tivessem mais força para exigir uma compensação financeira maior por suas perdas.
Mas o vazamento de que uma família cedeu aos argumentos do Flamengo repercutiu. Exatamente como os advogados do clube acreditavam que iria acontecer.
De acordo com o clube, mais quatro grupo de parentes estão próximos de acordos diretos, sem a intermediação do Ministério Público.
As conversas seguiram neste Carnaval.
Mesmo com a absurda postura do presidente Rodolfo Landim e seu vice geral e jurídico Rodrigo Dunshee decidirem se licenciar para viajar, mesmo com o clube passando por uma das maiores crises de sua história.
Com as delicadas buscas de acerto sobre as indenizações dos meninos que morreram no dormitório do clube. Com o Centro de Treinamento Ninho do Urubu fechado. E ainda a estreia do clube na Libertadores da América.
Mesmo passeando com seus familiares, Landim e Dunshee têm motivos para comemorar.
Advogados do clube conseguiram convencer os primeiros parentes dos dez meninos mortos no clube.
O Flamengo vai pagar muito menos do que o Ministério do Trabalho exigia.
Os motivos são simples.
Necessidades financeiras das famílias dos mortos.
E o medo da lentidão da justiça desse país.
Veja mais: Fla acerta base de indenização com família de uma vítima do incêndio
Denner e a boate Kiss são os grandes exemplos.
E ajudaram o Flamengo a economizar.
Dinheiro guardado dos seus meninos mortos.
Garotos que perderam a vida no dormitório do clube.
Certos que estavam seguros, protegidos...
(Alguns jornalistas cariocas cravam que a indenização para a primeira família foi de R$ 1 milhão e salários de R$ 8 mil por 20 anos. Falta confirmação oficial. Mas se os números estiverem perto, o Flamengo conseguiu. Economizou com seus meninos mortos...)
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