Copa 2018 chega à metade, e machismo ainda não foi superado
Vários vídeos com torcedores sul-americanos constrangendo mulheres e crianças foram divulgados nas redes sociais
Copa 2018|Thais Skodowski, do R7
A Copa do Mundo de 2018 já passou da metade [completou 32 jogos de 64 no último domingo (24)], mas não é só o futebol que tem se destacado nesta primeira etapa da competição. O comportamento ofensivo de torcedores de vários países, principalmente dos sul-americanos, também tem chamado a atenção.
Nas últimas semanas, vários vídeos ganharam repercussão nas redes sociais. Neles, torcedores se aproveitam da barreira do idioma para humilharem mulheres e crianças. Jornalistas também foram assediadas enquanto trabalhavam.
O primeiro vídeo divulgado foi o de um grupo de torcedores que pedem para uma mulher que não entende português repetir uma frase com termos chulos. Pelo menos quatro participantes do assédio foram identificados: o engenheiro civil Luciano Gil Mendes Coelho, do Piauí; o Policial Militar Eduardo Nunes, de Santa Catarina; o advogado Diego Valença Jatobá, de Pernambuco e o jornalista Leonardo da Silva Junior.
Além de sanções dos locais onde trabalham, os participantes do vídeo vão ser investigados pelo MPF (Ministério Público Federal) por crime de injúria.
Mais casos
Mas esse não foi o único exemplo de machismo por partes de torcedores brasileiros na Rússia. Outras imagens semelhantes foram aparecendo durante os dias da Copa.
Em outra filmagem, um brasileiro pede para três russas repetirem uma frase em que elas dizem que vão manter relações sexuais com ele e mais dois homens. O rapaz, identificado como Felipe Wilson, foi demitido do emprego por causa da atitude.
Ao menos outros quatro vídeos de brasileiros com comportamentos hostis foram amplamente divulgados. Em um deles, um homem pede para uma criança russa xingar ela mesma. O brasileiro, por causa da repercussão das imagens, pediu desculpas em uma rede social.
Autoridades brasileiras, no entanto, se limitaram a repudiar verbalmente o ato dos brasileiros. Na Rússia, o ministro do Esporte Leandro Cruz da Silva disse que a atitude dos brasileiros filmados envergonharam todo o Brasil.
Já em nota, o Ministério do Turismo afirmou que o machismo e a misoginia não são aceitáveis sob nenhum aspecto, muito menos em um evento como a Copa do Mundo, realizado para “promover a integração entre povos e culturas do mundo todo”.
Os russos também se manifestaram contra a atitude desrespeitosa dos brasileiros. A jurista e ativista feminina russa Alena Popova iniciou uma petição online, endereçada ao Ministério de Assuntos Interiores da Rússia, pedindo que os autores dos vídeos sejam responsabilizados. Eles podem pegar até 15 dias de cadeia.
Outros países
Não foram só os brasileiros que tiveram atitudes vergonhosas durante a Copa do Mundo. Torcedores da Argentina, Peru, Colômbia e Chile também foram flagrados constrangendo mulheres.
Para um deles, o argentino Nestor Fernando Penovi, de 47 anos, que se filmou induzindo uma jovem russa a falar termos de cunho sexual em espanhol, a consequência da atitude foi além de uma simples nota de autoridades diplomáticas.
Nestor teve sua Fan ID (credencial de torcedor que dá acesso aos jogos) retirada e não poderá mais assistir as partidas da Copa do Mundo na Rússia. Depois da sanção, ele pediu desculpas.
Já a FMF (Federação Mexicana de Futebol) foi multada em 10 mil francos suíços (R4 37 mil) por causa dos gritos homofóbicos da torcida mexicana nos jogos na Rússia.
Assédio dos russos
Dois casos de jornalistas sendo assediadas por russos enquanto trabalhavam também foram expostos. Em um deles, um russo dá um beijo e apalpa o seio de uma repórter colombiana enquanto ela estava ao vivo. Um dia após o assédio, a jornalista pediu respeito nas redes sociais.
Uma jornalista de uma emissora de televisão brasileira também foi assediada por um russo. Ele tentou beijá-la antes dela entrar no ar. A repórter se esquivou do beijo e ainda deu uma bronca no torcedor.