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Ídolo do São Caetano, Adhemar quase parou na NFL: ‘Comer uma pizza com o Brady’

Em entrevista, ex-jogador conta do dia que foi kicker do Azulão, conselhos de Cairo Santos e preferência pelo futebol americano

Jarda por Jarda|Lucas FerreiraOpens in new window


Adhemar defendendo o São Caetano pelo Campeonato Brasileiro de Futebol de 2002 Paulo Pinto/Estadão Conteúdo - 23.10.2002

Uma das figuras mais icônicas do Campeonato Brasileiro no final dos anos 90 e início dos anos 2000 foi Adhemar. Pelo São Caetano, o atacante chegou a ser vice-campeão da Copa João Havelange, torneio no qual foi artilheiro, desbancando matadores como Romário e Magno Alves.

O torcedor do Azulão certamente lembra do forte chute de Adhemar, que era sua marca registrada. A pancada é tão famosa que teria despertado o interesse de um empresário ligado ao Tampa Bay Buccaners, franquia da NFL que anos mais tarde conquistaria seu segundo campeonato sob comando de Tom Brady.

Em entrevista ao Jarda por Jarda, o camisa 18 revelou como houve este contato para ser kicker na liga norte-americana, comentou sobre as dicas que recebeu de Cairo Santos, provocou o quarterback Peyton Manning e ainda chamou Brady para uma pizza.

Confira a entrevista completa com Adhemar:

Adhemar jogou uma partida pelo time de futebol americano do São Caetano Arquivo Pessoal

Jarda por Jarda: Comentei com uns amigos que ia entrevistar você e um deles disse: ‘Aquele que tinha um canhão na perna lá no São Caetano?’. Então queria te perguntar: foi isso que fez você tentar o futebol americano? Como que essa história chegou essa até você?


Adhemar Ferreira: Um amigo meu tinha contato com uma academia de tênis nos Estados Unidos. Eu o presenteei com um DVD dos meus gols, dos chutes. E era só míssil. Aí acho que ele sentou com um empresário americano, ligado ao Tampa Bay Buccanners, mostrou os gols, e o cara falou que ia tentar me chamar.

A primeira coisa que esse meu amigo fez quando chegou no Brasil foi me mandar mensagem, disse que o empresário tinha me mandado a bola de futebol americano para eu ir testando e ver como que era, em 2006.


Tinha todo um processo a ser percorrido, né? Talvez participar da seleção [Draft]. Claro que ficou a marca do canhão. Hoje, não tenho nenhuma cartilagem no joelho, o canhão hoje virou uma biribinha de festa junina. Mas sou feliz, porque em um futebol que tinha grandes jogadores, como Romário, Edmundo e Marcelinho Carioca, ficar marcado por uma qualidade me deixa muito feliz. Sou muito grato. O futebol me proporcionou coisas que não viveria se fosse em outra profissão.

Jarda: Como que foi esse seu primeiro contato com a bola de futebol americano? Porque apesar de chamar de bola, o formato é bem diferente daquilo que a gente entende como bola aqui no Brasil.


Adhemar: É praticamente uma banana. É totalmente diferente do que a gente chama de bola. Você tem que achar o lado que você vai bater nela, o lado que não tem costura. Deixar sempre o cadarço para frente. Depois de uma clínica, um training camp com Cairo Santos, bati um papo com ele sobre a batida na bola redonda, que é totalmente diferente do futebol americano.

A batida do futebol americano é como se sua perna fosse um taco de golfe, você não mexe a articulação. Você vem com ela reta, vira o pé de lado e bate tipo uma chapada, só que mais forte, elevando a perna para dar direção. Já no futebol, a gente tem essa parte debaixo da tíbia como um pêndulo, então você dobra a articulação e solta.

Eu consigo chutar a bola de 60, 70 jardas, porém não tem a direção que o Cairo consegue colocar. Ele é muito mais preciso do que eu.

Adhemar conheceu Cairo Santos durante uma clínica no Brasil Arquivo Pessoal

Jarda: Como foi esse encontro com o Cairo?

Adhemar: Foi muito legal, porque a gente, que vem do futebol, tem toda aquela resenha, né? Brincava com ele falando que o futebol americano era muito mais fácil porque não tinha barreira, não tinha goleiro... Era só chutar para cima que teria sucesso. No futebol, não é assim. Eu tenho que olhar o goleiro, ver se a barreira não vai pular, colocar a curva na bola dependendo do lugar que estiver no campo.

Aí ele me respondeu: ‘É, Adhemar, só tem uma coisa: e aquela hora que você tem que chutar o field goal para empatar a partida e a perna pesa 2 toneladas? Se você errar, você não presta porque você só faz isso’.

Existem os dois lados: no futebol você não tem tanta pressão, não é tanta responsabilidade sua. Se acertar uma falta, é mérito do batedor. O cara que vai para o extra point, field goal, no futebol americano, tem por obrigação acertar.

Jarda: Você chegou a jogar um tempo no time de futebol americano do São Caetano. Como foi essa experiência?

Adhemar: Essa parte da história é interessante. Nunca tinha jogado futebol americano. Cheguei lá, o auxiliar era brasileiro, e o técnico, canadense. Treinei com os caras, fiz os chutes e fui para o jogo contra o Corinthians. Estava acostumado com 80 mil pessoas me vaiando, me aplaudindo. Mas aí você vai jogar futebol americano e são uns 50 caras no time, sendo que no futebol tinha no máximo uns 20.

O pré-jogo era um alongando, outro tomando creatina, aí um reza, o outro escuta pagode... São várias vibes em um mesmo time para tentar o mesmo objetivo. Não é que nem no futebol, não tem um biótipo específico. No futebol americano tem o cara mais pesado para bloquear... São várias vibes para ganhar.

No vestiário já eram aquelas canções: ‘Vamo amassar esses galinhas’. Aí eu: ‘Caramba, que negócio doido. Olha a rivalidade’. E eu tranquilo porque já tinha ouvido muita gente xingando a minha mãe.

O Corinthians começou com a bola. Durante o primeiro tempo, não tive nenhuma chance de chute porque não estávamos bem, estava 33 a 0 para o Corinthians.

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No segundo tempo, eu chutei a bola no kickoff. Aí lembrei da NFL, que os jogadores costumam ajoelhar na end zone, e aí entra o ataque. Só que nosso time não era tão bom assim, então, o jogador do Corinthians retornou o chute e começou a correr na minha direção, e eu trotando, igual fazia no futebol. Do nada outro jogador do Corinthians veio com a máscara na minha cabeça. Caí no chão, fiquei com grama no capacete.

Na hora, eu fiquei maluco, fiquei doido: ‘Você tá maluco, mano? Eu vou quebrar as suas pernas na próxima vez’. Aí o cara me reconheceu e disse: ‘Adhemar, é futebol americano, não é mais futebol’. Então respondi: ‘Não quero saber, vou te dar um carrinho e quebrar suas pernas’. Ele retrucou que eu ia tomar 15 jardas e me pediu calma.

Adhemar jogou apenas uma partida pelo São Caetano Arquivo Pessoal

Jarda: Quantas partidas você jogou?

Adhemar: Só uma, que foi essa do paulista. E os únicos três pontos do time foram meus, depois de um cara conseguir um bom avanço. Aí vê a moral que eu estava: o treinador canadense queria bater um punt para colocar o Corinthians com as costas na parede. Aí o treinador brasileiro começou a fala que só tinham me trazido para isso, que era para a gente tentar. E o placar estava 33 a 0.

Na hora do field goal, estava tranquilo. Fui me posicionar, fiz toda a frescura que o Maikon Bonani tinha me ensinado em um encontro: você dá três passos para trás, depois dois para o lado e olha a diagonal. Fiz tudo isso e parei. Aí os caras do Corinthians que estavam na linha começaram a falar que iam furar os bloqueios e voar na minha perna. Aí começou a pressão: ‘E se os caras pularem com o capacete em cima de mim?’

Dei um grito para o meu time: ‘Segura os caras, mano. Eles estão doido para me pegar’. Tem um que até chegou próximo de mim, mas consegui chutar e foi o suficiente para acertar de 42 jardas. Não saiu muito para cima, foi mais reta, mas foi o suficiente. Gol é gol, field goal é field goal. São três pontos. Se eu tivesse jogado futebol americano na minha carreira, teria o triplo de gols que fiz.

Jarda: Muitas vezes o kicker acaba sendo o maior pontuador do time.

Adhemar: Em várias partidas o kicker decide, né? Às vezes o time não consegue chegar até a end zone e vai chutando field goal. Confesso que fiquei fanático pelo futebol americano. Veja o nosso futebol muito pragmático, enquanto o futebol americano tem emoção até os últimos segundos.

Mesmo que o quarterback esteja a 50 jardas da end zone, no último suspiro, ele pode mudar o jogo. Hoje, o futebol americano tem muito mais emoção que o nosso futebol.

Jarda: Ia até perguntar para você isso. Você acompanha a NFL? Está por dentro das novidades, dos jogos?

Adhemar: Acompanho muito. Inclusive, vou entrar com um processo contra o Peyton Manning porque ele jogava com a 18. E como você sabe, a 18 é patenteada. Não é assim, Peyton Manning. Sua sorte é que parei e você também.

Você pega os caras de hoje, como o Patrick Mahomes, ou os caras que recebem até de costas. Com o joelho que eu tenho, você tá maluco. Ia sair um monte de pino da minha perna.

Jarda: Vai ter jogo da NFL no Brasil. Se os Packers ou Eagles precisarem de um kicker na passagem aqui pelo país, você quebra o galho lá?

Adhemar: Pode chamar. Estou com a camisa de ir já. Só coloca aquela carenagem lá que eu tô dentro! Se vocês não tiverem kicker e precisarem de ajuda aqui no Brasil, saibam que 60 e 70 jardas eu consigo. Onde vai cair? Não sei, a bola pode parar lá na linha do trem de Itaquera.


Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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