Xenofobia, falta de concorrentes. Seleção: presente de Natal para Tite
Tite tem o que agradecer à meia-noite de hoje. Segue absoluto na Seleção. Apesar do fracasso na Rússia e da falta de novos rumos
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Tem nome e sobrenome o homem que recebeu o presente antecipadamente o presente mais valioso no futebol deste país.
Ele se chama Adenor Leonardo Bachi.
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Nunca na história do Brasil, um treinador fracassou em um Mundial e foi mantido no cargo até a próxima Copa.
Cláudio Coutinho foi o 'campeão moral' do Mundial de 1978, na Argentina. Na verdade, amargou, de forma invicta, a terceira colocação. Foi mantido no cargo até a Copa América de 1979. Caiu depois da derrota diante do Paraguai na semifinal.
Telê Santana por desprezar a vantagem do empate contra a Itália, fracassou em 1982, com um selecionado espetacular. Só chegou ao Mundial de 1986 depois de trabalhos pífios de Carlos Alberto Parreira e Edu Coimbra, o irmão de Zico.
Tite, não.
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O homem que manda na CBF, Rogério Caboclo, jura a presidentes de Federações, a jornalistas amigos e ao próprio treinador: ele ficará até o Mundial do Catar, em 2022. Não importa o qua acontecer na Copa América de 2019 e nas Eliminatórias.
O contrato foi renovado após a eliminação na Rússia, diante da Bélgica. E há uma alta multa. O pagamento do contrato até o final do Mundial de 2022. Para dar mais confiança a Tite.
Rogério Caboclo é pupilo de Marco Polo del Nero. O ex-presidente segue com enorme influência na CBF, embora banido do futebol pela Fifa. E pessoas ligadas a ambos detalham que o destino foi muito generoso com Tite após o Mundial.
Não surgiu nenhuma ameaça no horizonte.
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Nenhum treinador com moral para cogitar sua vaga.
Isso partindo do princípio básico imposto por Del Nero.
Nem se Pep Guardiola sair no Carnaval na ala das baianas da Mangueira ou Didier Deschamps estiver na posse de Bolsonaro com uma camiseta amarela estampada, "Meu Partido é o Brasil". Ou ainda se Jürgen Klopp decidir se naturalizar brasileiro e montar uma ONG na Amazônia para preservar os botos.
Ou mesmo se Jorge Sampaoli decidir trocar sua paixão por bandas de rock argentino, como Patrício Rey y sus Redonditos de Ricota e Pato Fontanet por Pablo Vittar e Jojô Todinho.
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Nada disso adiantaria.
Para sorte de Tite, segue a xenofobia imposta pelo presidiário José Maria Marin, seguida com um mandamento por Del Nero e por Rogério Caboclo.
Treinador estrangeiro não assume a Seleção Brasileira.
Com essa reserva de mercado, Tite pode respirar aliviado.
Sem a concorrência de fora, o produto nacional não oferece perigo.
Não para 2019.
Os grandes vencedores da temporada 2018 foram dois nomes vetados na Seleção Brasileira.
O campeão brasileiro, Luiz Felipe Scolari, de 70 anos, foi o último a conquistar o Mundial. Há 16 anos. Mas a imagem mais recente e inesquecível no comando da Seleção foi a mais vergonhosa derrota da história do esporte neste país. O 7 a 1 para a Alemanha, em 2014, foi tão marcante que enterrou o Maracanazo, a virada por 2 a 1 para o Uruguai na Copa de 50.
Felipão tinha a promessa do hoje presidiário José Maria Marin e de Del Nero que seguiria na Seleção, fosse qual fosse o resultado da Copa. Só que a queda no 7 a 1 foi pesada demais. E os dois não cumpriram suas palavras. Queriam distância do técnico. E é esse o espírito que ainda prevalece no milionário prédio na Barra da Tijuca, que serve de sede da entidade.
Mano Menezes venceu a Copa do Brasil. Mas ninguém se esqueceu que, entre 10 de agosto de 2010 até 21 de novembro de 2012, ele convocou 102 jogadores. E não conseguiu formar um time coerente. Sua insegurança segue lembrada na CBF cada vez que seu nome é lembrado.
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Renato Gaúcho que chegou a ser celebrado, ganhar defensores em 2017, ficou para trás em 2018. Mesmo com chance clara de vencer a Copa do Brasil e o Brasileiro, apostou tudo na Libertadores. E caiu na semifinal. Não venceu nada relevante, no ano do fracasso da Seleção na Copa da Rússia.
Ou seja, o cenário para Tite segue o melhor possível.
O cargo de técnico da Seleção segue seu.
Mas tão seu, que ele seguirá tentando provar que estava certo na Copa.
E segue fiel a 90% dos jogadores que fracassaram no Mundial.
Algo que todos fingem não enxergar.
Até mesmo Neymar, depois do vexame que deu no gramados russos, virando piada mundial, foi premiado por Tite.
Virou capitão da Seleção.
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Com a bênção de Caboclo, as empresas a quem Ricardo Teixeira vendeu os amistosos da Seleção, têm imposto jogos inúteis como contra El Salvador, reservas dos Estados Unidos, Arábia Saudita. Nem os triufos contra os argentinos e uruguaios em renovação não enganaram ninguém.
A renovação da Seleção não aconteceu.
Por teimosia de Tite.
Ele se sente em dívida com o grupo pelas Eliminatórias.
O que é um risco.
E remete ao Grêmio de 2011, equipe que fracassou, depois de ter conquistado a Copa do Brasil em 2010. E que Tite se tornou refém emocional dos jogadores.
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Ele quer provar que pode ganhar a Copa de 2022 com 90% do time de 2018.
A dependência de Neymar é total, absoluta.
Até maior do que com Mano, Dunga e Felipão.
Não há solução no time sem ele.
Nem é procurada.
Por enquanto, ninguém o questiona abertamente.
Porque Papai Noel segue generoso demais com Adenor.
Neste final de 2018 não há concorrência no horizonte.
Mas restam três anos e meio até o Qatar.
O que é uma eternidade no futebol.
A postura de Tite segue de alto risco.
Sua absurda ligação umbilical com Neymar.
O apoio cego ao time fracassado na Rússia.
Ele que comemore seu Natal em paz.
Mas repense seus conceitos para o ano que vai nascer...
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