Tite entendeu com o fracasso. É técnico e não 'o rei da autoajuda'
Tite apareceu mais do que Neymar em propagadas para a Copa. Com a péssima campanha no Brasil, o efeito rebote veio. A rejeição também
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Acha que ficou muito exposto elos comerciais antes da Copa?
Fiquei. Embora tivesse gravado bem antes, tenho consciência disso. Gravei numa folga, entre dezembro e janeiro. Mas não faria de novo, porque fica veiculando o tempo todo, enche o saco do pessoal.
Esta foi a última pergunta da entrevista que o jornal O Globo fez para Tite.
A publicação foi feita na última quinta-feira.
E não repercutiu como acontecia nas entrevistas exclusivas do treinador da Seleção.
Há uma enorme decepção, rejeição ao técnico depois da Copa do Mundo.
O motivo vai além do fracasso na Rússia.
Itaú, Samsung, a Uninassau e a Cimed garantiram ao treinador nada menos do que R$ 10 milhões.
Tite deu a missão ao seu empresário, Gilmar Veloz, de negociar com os anunciantes. Fez duas exigências. A primeira: que nenhuma empresa fosse concorrente dos patrocinadores da CBF. E a segunda foi não anunciar bebidas alcoólicas.
Foi atendido.
Houve uma escolha unânime entre os publicitários.
Apresentaram Tite ao público brasileiro como o homem que sabia todas as respostas. Quase um guru de autoajuda. Embasados na incrível recuperação da Seleção nas Eliminatórias, sob o seu comando, os diretores das propagandas fizeram questão de mostrar o técnico como um homem que sabia, sem a menor dúvida, o caminho da vitória.
A mensagem subliminar era de conquista da Copa do Mundo.
E milhões de pessoas acreditaram na incrível sinceridade com que Tite interpretou os textos.
Faltou orientação ao treinador.
Ele estava lidando com uma geração instável, com pouquíssimo interecãmbio como seleção, com os times europeus. E ainda com Neymar e seus chiliques.
Não havia escapatória para quem assistisse às suas propagandas.
Tite levaria o Brasil à conquista do hexa.
Por uma questão de espaço do Itaú na tevê, as propagandas de Tite foram mais exibidas até do que as de Neymar.
Além disso, murais e páginas inteiras de revistas e jornais.
Foi enorme overdose das lições, das certezas de Adenor.
Só que chegou a Copa do Mundo e veio o fracasso.
O futebol decepcionante.
Neymar xingando companheiros, juízes e virando piada mundial, rolando no gramado, simulando faltas.
E a eliminação nas quartas de final para a Bélgica.
As propagandas foram suspensas imediatamente.
Os contratos com Tite encerrados.
A rejeição segue o técnico até hoje.
Além de sua incrível teimosia em impor, nos amistosos pós-Copa, a esmagadora maioria dos convocados que fracassou na Rússia.
Ele tenta amenizar sua fidelidade aos atletas que fizeram o técnico ser respeitado na Seleção, depois da incrível reação do time nas Eliminatórias. Nas mãos de Dunga havia a real possibilidade de eliminação.
"Sou fiel até a página 2. Sabe qual é a página 2? Desempenho. Se o do Richarlison for superior ao do Willian, é o Richarlison. Se o do Cebolinha (Éverton, do Grêmio) for superior ao do Douglas Costa, vai o Cebolinha. Se Allan for mais do que Paulinho, é Allan.
"E pode haver situações eventuais. Vai que se firma alguém, o Rodrygo (do Santos). Mas o Rodrygo precisa amadurecer fisicamente, porque ele tem futebol na cabeça. As tomadas de decisão dele são incríveis."
Outra vez, a maioria dos jornalistas que acompanham a Seleção, não acreditou.
Os nomes estão sendo repetidos. Pouco importando se terão 37 no Mundial do Qatar, como Thiago Silva e Miranda.
Fora isso, Tite segue vítimas da Pitch, empresa que administra os amistosos da Seleção, e fazem o time enfrentar equipes modestas e que nada acrescentam, como El Salvador, Arábia Saudita, reservas dos Estados Unidos. Bem longe do Brasil.
E o treinador segue fiel, defendendo a CBF e, por tabela, a Pitch.
Tite termina o ano com a imagem abalada.
Acabou a unanimidade em torno do seu nome.
Segue, mas com a obrigação de vencer a Copa América, que será disputada por aqui, em 2019.
Desta vez sem tantas publicidades.
O efeito da superexposição foi daninho.
Acabou com a aura de vencedor de Tite.
Seus conselhos se mostraram inúteis na Rússia.
Não soube comandar Neymar.
E nada de hexacampeonato mundial.
Seu time ficou entre os oito melhores.
E olhe lá.
Campanha incompatível para o guru das propagandas...
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