Não houve escândalos.
Ironias.
Desprezo.
Questionamentos públicos.
Ismaily, Willian José, Talisca, Neto, Taison, Fred, Mariano, Arthur, Camilo. Fossem convocados por Dunga, Mano Menezes ou qualquer outro treinador, que não Tite, haveria protestos nacionais.
Mas o atual treinador da Seleção ganhou credibilidade inabalável. Pode fazer o teste que quiser. E foi assim que ele chegou com as convocações para os amistosos contra a Rússia e Alemanha a 64 jogadores chamados. Tite assumiu há um ano e três meses. Fez dez convocações.
Com exceção dos chamados ao jogo contra a Colômbia, em benefício das famílias das vítimas da tragédia com a Chapecoense, suas observações foram feitas à profusão.
O escudo de Tite são os seus resultados. Ele encontrou a Seleção em sexto nas Eliminatórias. Terminou a disputa em primeiro, sem perder um jogo diante dos adversários mais tradicionais: Argentina, Uruguai, Paraguai. Colocou o Brasil na Copa da Rússia sem dificuldade, desmistificando o que grande parte da imprensa repetia sem pensar. A fábula que a Seleção Brasileira estava disputando as Eliminatórias mais difíceis de todos os tempos. Na verdade, Dunga as estava deixando tão torturantes.
No atual momento que o país vive, cercado de corrupção por todos os lados, Tite se tornou rara exceção.
"Trabalho com a consciência limpa. Me foi dada a oportunidade de convocar, chamar quem eu achar interessante para a Seleção Brasleira. E é o que eu faço. Tenho os meus assessores de total confiança. Eu não encontrei nenhum relatório sobre qualquer jogador com potencial de convocação no mundo. Tive de começar do zero. Então, sigo as observações de quem confio plenamente, de quem eu escolhi para trabalhar comigo.
"Este é o meu segredo. Trabalhar da forma mais aberta, transparente possível", me resumiu Tite. Avisando que faria todos os testes que quisesse até a Copa do Mundo.
"Incoerência é deixar de chamar um jogador que considero importante. Pode ser quando for. Até na última convocação, na chamada derradeira para a Copa. Não importa que ele não tenha sido convocado nunca. Mas posso te garantir que ele foi observado por mim e pelo meu grupo de trabalho", me garantiu Tite, em entrevista, na sede da CBF, no final de janeiro.
"Em relação aos jogadores chamados pelo Dunga, nós também observamos, fazemos um trabalho cuidadoso. O que tem atrapalhado é a pressa de resultados. Isso cria um clima negativo que dá a oportunidade para quem quiser questionar de forma pejorativa. Fica difícil demais para trabalhar", me confidenciou Gilmar Rinaldi, em 2015, quando era o coordenador da Seleção Brasileira.
"Eu peguei a Seleção depois do fracasso na Copa da África. Era o fim de uma geração. Tive de testar inúmeros jogadores. Não havia outra saída", explicou Mano Menezes, chegando a 102 convocações, de agosto de 2010 a dezembro de 2012.
"Eu precisava ser mais certeiro. O Mano havia testado muita gente. Ficou mais fácil", disse Luiz Felipe Scolari, que chamou 52 jogadores, de janeiro de 2013 até junho de 2014. Ele também teve o escudo, não foi tão questionado quanto Dunga e Mano. Porque venceu a Copa das Confederações. Depois dos 7 a 1 para a Alemanha, até sua existência acabou questionada.
O que vale é que Tite está exercendo o direito de testar realmente quem ele queira. Sem maiores críticas histéricas, escândalos ou protestos.
Ismaily, Willian José, Talisca estão na Rússia treinando com a camisa da Seleção, sem problemas. Assim como Rodrigo Caio, que vive o seu pior momento na carreira. Vanderlei e Marcelo Grohe estão no Brasil, injustiçados.
Mas o escudo de Tite segue firme, inalterado.
No futebol, os resultados trazem o manto de respeito.
O jogo contra a Alemanha, na próxima semana, lembrará isso a todos.
Princpalmente ao treinador do Brasil na Copa da Rússia.
Técnico que deseja ardentemente seguir até 2022.
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