Dinheiro, Cristiano Ronaldo e elenco estelar fizeram Castro desprezar o líder Botafogo. Adeus será hoje. Ceni, Lage ou Severino cotados
Frustrado, o amor virou rancor. A torcida ontem tratou o treinador português como mercenário. O líder do Brasileiro perde seu maior personagem. Ceni, Bruno Lage e Severino, auxiliar de Castro, cotados como substitutos
Cosme Rímoli|Cosme Rímoli e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
A última vez que o Botafogo liderou o Brasileiro foi em 2013 — ou seja, há dez anos.
Depois de um ano e três meses, Luís Castro sofreu, mas conseguiu montar uma equipe com seu perfil: competitiva, vibrante, intensa, solidária, confiante.
Forte o suficiente para a torcida sonhar com a possibilidade de recuperar o título brasileiro, que não comemora desde o distante ano de 1995.
São 28 anos de expectativa.
Mas tudo acabou por dinheiro.
E prestígio mundial.
São R$ 58 milhões e uma mansão de R$ 13 milhões.
Mais a chance de comandar Cristiano Ronaldo, que o recomendou, e um grupo estelar, que está sendo montado pelo Al-Nassr, da Arábia Saudita.
E o português Luís Castro já avisou a diretoria botafoguense que vai embora.
A decisão foi só dele.
Até a comissão técnica que comanda queria ficar no Rio de Janeiro, completar o trabalho que começou em março de 2022.
Castro recebe 3,2 milhões de dólares por ano, cerca de R$ 15,5 milhões. O que equivale a um salário de R$ 1,3 milhão por mês. Na Arábia, receberá R$ 2,4 milhões.
O bilionário John Textor, dono do Botafogo, ofereceu aumento. Mas Castro não quis conversa. Já havia decidido ir para a Arábia.
O Al-Nassr vai pagar cerca de R$ 10 milhões como multa rescisória e terá o técnico.
A situação mais constrangedora é que todos os movimentos que envolvem a saída do treinador português se tornaram públicos antes do "adeus".
E ele passou pelo momento mais embaraçoso de sua carreira, ontem, no Estádio Nilton Santos, na casa do Botafogo.
"Luís Castro, vá se f...
"O Botafogo não precisa de você."
O coro dos torcedores dominou a arena.
Não bastasse a cantoria rancorosa, houve a distribuição de cédulas com o rosto do técnico.
Impressa em notas falsas de R$ 1.
E também de 1 rial, moeda adotada na Arábia Saudita.
Para configurar a imagem de mercenário.
Lógico que a notícia da saída do técnico afetou os jogadores.
E eles tiveram uma atuação comprometedora e apenas empataram com o Magallanes, do Chile, em 1 a 1. O time precisava vencer para se classificar diretamente para as oitavas da Copa Sul-Americana. Agora, terá de enfrentar jogos eliminatórios com o Patronato, time da segunda divisão da Argentina.
O primeiro lugar do seu grupo ficou com a LDU, do Equador, com o péssimo resultado do time carioca.
Luís Castro não quis assumir ontem que vai embora.
Com medo da reação da própria torcida botafoguense.
Deixou para anunciar hoje.
Mas falou o tempo todo em tom de despedida.
Fez o balanço da sua passagem, da reorganização do clube.
"Minha vinda para cá foi para reorganizar o clube, para formarmos um elenco competitivo, lutar por algo maior. Era um clube que estava vindo da Série B, com vários problemas. Não tínhamos campo de treino, um estádio com gramado problemático, e pusemos mãos à obra.
"Conseguimos um lugar para treinarmos, fomos até o Lonier, e hoje temos vestiários para todos os lugares. Abandonamos compartimentos de dois, três blocos. Hoje temos refeitórios. Felizmente, hoje temos um estádio renovado, com melhores condições, temos um elenco que continua na Sul-Americana, que está em primeiro lugar no Brasileirão e me deixa muito feliz. Todos foram muito importantes."
E depois deixou mais escancarado possível o adeus.
"O conceito de família não depende só de uma pessoa. Quando se ama, ama-se mesmo ao longe, não é preciso estar junto para se amar.
"Se eu tomar a decisão após a reunião de amanhã [hoje] e partir, sei que a família estará instalada. Sei que há um elenco aqui pronto para todas as batalhas. Fique ou parta, o Botafogo é muito maior que as pessoas. O Botafogo jamais será maltratado como maltratam muitas pessoas. Merece o respeito de todos.
"O Botafogo hoje é um clube respeitado."
Mas as palavras mais reveladoras foi quando foi questionado sobre "o que mudou" que o está fazendo deixar o clube.
"O que mudou é o que também acontece contigo, quando você recebe uma boa proposta de trabalho. O que você faz quando recebe uma boa proposta de trabalho? Pensa nela ou coloca de lado? Todos aqui são iguais. Não sejamos hipócritas. Vocês sabem que comigo é olho no olho. Para cima de mim, não!"
A despedida vai se confirmar.
E a direção já analisava nomes para substituir Castro.
O óbvio é Vítor Severino, seu principal auxiliar.
Mas Rogério Ceni e o também português Bruno Lage têm defensores.
Jorge Jesus também foi citado.
A certeza é que acabará uma liga que demorou um ano e três meses para se consolidar.
O líder Botafogo perde seu principal personagem.
Mas não pode continuar comandado por quem não deseja ficar...
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