Didico abraça a champanhe. E mostra os velhos troféus de Adriano
Ele foi chamado de Imperador. Era uma das maiores esperanças do futebol brasileiro no início dos anos 2000. Foi vencido pelo alcoolismo, pela depressão
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
A cena é simbólica.
Cercado entre os troféus e medalhas que conquistou na carrreira, Adriano está abraçado à uma enorme garrafa de champanhe.
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Sem camisa, descalço, se permite o físico de ex-jogador, com uma barriga proeminente.
Barbardo, seu olhar não é de orgulho, como seria lógico.
Transpira tristeza.
Mesmo cercado de Bolas de Prata, de Ouro, chuteira de ouro, premiações por artilharia. Troféu de melhor no gramado.
Muitos de campeão.
Só ele sabe o quanto poderia ir mais longe na carreira.
Depois de ser o personagem principal da estupenda conquista da Copa América, no Peru, com o Brasil derrotando a Argentina, em 2004, a perspectiva era sensacional.
O jogador com seu potencial físico de gladiador, chute certeiro, artilheiro nato tinha tudo para deslanchar de vez. Compensar os sacrifícios do pai office boy Almir e da mãe, Rosilda, empregada e cozinheira, que vendia bolo e doces, para que ele tivesse dinheiro para tomar ônibus da favela da Vila Cruzeiro até a Gávea. Eles iriam aproveitar tudo que a vida oferece de melhor.
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Só que Almir, que tinha uma bala alojada na cabeça por conta de um tiroteio, teve infarto fulminante um mês após a maior façanha de Adriano em campo.
Desde setembro de 2004 até 2010, até onde efetivamente sua carreira jogou, de verdade, futebol, viveu a mais dramática decadência esportiva da era moderna.
Ele entregou de corpo e alma ao alcoolismo.
Tentava esquecer a morte do pai, mentor, orientador e única pessoa que respeitava no mundo, com noitadas e mais noitadas.
Chegava bêbado aos treinamentos.
Os treinadores da Inter de Milão, São Paulo, Flamengo e Roma tentaram de tudo para salvar sua carreira.
No Corinthians, na tentativa de volta ao Flamengo, no Athletico Paraense e no Miami United já era um ex-jogador.
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O ex-coordenador da Seleção Brasileira e empresário de Adriano desde o início da carreira, Gilmar Rinaldi, já falou ao blog o quanto sofreu por ver o atacante sabotar a própria vida.
"Eu tentei de todas as formas. Conversamos, orientei. Mas foi a forma que descobriu para tentar escapar da dor da perda do pai.
"O Adriano não quis, de jeito nenhum, ir para uma clínica de reabilitação.
"Quando insisti, deixamos de trabalhar juntos", revelou Rinaldi.
Bebendo muito, dormindo pouco, logo Adriano passou a comer demais.
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Na Copa do Mundo de 2006, que deveria ser o seu auge, com 24 anos, ele chegou com mais de 100 quilos.
O técnico Parreira fazia de conta que não percebia.
E ainda dava folga ao time, após os jogos, até as cinco horas da manhã.
Adriano bebia toda a madrugada de folga.
O seu rendimento foi lastimável.
Por trás do Quarteto Fantástico, um cenário assustador.
Kaká jogando com fortes dores, Ronaldinho Gaúcho, desinteressado, só pensando em festas; Ronaldo e Adriano disputando quem entrava em campo mais gordo.
E Parreira assistindo impassível tudo de camarote.
A partir daquele Mundial, Adriano foi dando lugar a Didico da Vila Cruzeiro.
Menos e menos jogos.
Mais e mais farras na favela onde é feliz.
Ele tinha um potencial fabuloso. Técnico e físico. Poderia ter jogado em alto nível por gigantes europeus e disputar os Mundiais de 2010 e 2014.
Mas não conseguiu sair da depressão.
Mesmo assim, ganhou a Copa das Confederações de 2005, a Copa América de 2004, o Mundial sub-17, em 1999, o Sul-Americano, sub-20, em 2001.
Além de ser tetracampeão italiano nas temporadas 2005-06, 2006-07, 2007-08, 2008-09; tricampeão brasileiro. 2008 com o São Paulo, 2009, com o São Paulo e; pertenceu ao elenco que venceu o de 2010, com o Corinthians.
Esses foram apenas alguns títulos.
Poderiam ter vencido inúmeros outros.
Perdeu para a depressão.
Para o alcool.
Não superou a morte do pai até hoje.
Tem apenas 37 anos.
Mas sua fisionomia sofrida demonstra muito mais.
Em meio à tanta festa do seu amado Flamengo, ele resolveu mostrar nas suas redes sociais que também é um vencedor.
Sem dúvida.
De onde saiu, o que conquistou, é algo para ser reverenciado.
Ganhou muito dinheiro.
Vive hoje do que adquiriu na curta carreira.
E ele sabe que poderia ter ido mais longe.
Não conseguiu por algo que os clubes renegam.
Apoio psicológico sério.
Faltou coragem para enfrentar o ídolo.
Ajudá-lo a superar a morte do pai.
Por isso, Adriano ficou pelo caminho.
Com seus troféus cada vez mais antigos...
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