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Cosme Rímoli - Blogs

Del Nero banido. O futebol brasileiro passa vergonha outra vez

A Fifa baniu definitivamente do futebol outro presidente da CBF. Os últimos três comandantes da entidade tiveram problemas com a justiça. Um vexame

Cosme Rímoli|Do R7

Del Nero segue o caminho do presidiário Marin. Banidos, envergonham o país
Del Nero segue o caminho do presidiário Marin. Banidos, envergonham o país

Primeiro foi José Maria Marin.

No dia 27 de maio de 2015, o ex-governador biônico de São Paulo e ex-presidente da CBF, foi banido do futebol. 

Marin agora carrega no peito sua identificação. Ele é o preso #8656053, do Centro de Detenção Metropolitana do Broklin, em Nova York. Ele foi condenado por seis delitos. Três crimes de fraude, ligados à Copa América, à Libertadores e à Copa do Brasil; por dois de lavagem de dinheiro, relativos à Copa América e à Libertadores; e por um de organização criminosa.

Aos 85 anos, é mais do que provável que morra na cadeia. Sua pena deve ficar entre 20 e 60 anos. E, apesar de julgado culpado em dezembro, a decisão de quantos anos ficará encarcerado será definida apenas nas próximas semanas.


Mas o julgamento de Marin foi fundamental para que o país pentacampeão do mundo passasse por outro vexame. A Fifa acaba de anunciar que o atual presidente da CBF, Marco Polo del Nero, foi banido para sempre do futebol.

"A câmara de decisão (do Comitê de Ética) concordou com as recomendações da câmara de investigação e considerou o senhor Del Nero culpado de violar os artigos 21 (suborno e corrupção), 20 (oferecer ou aceitar presentes ou outros benefícios), 19 (conflitos de interesse), 15 (lealdade) e 13 (regras gerais de conduta) do Código de Ética da Fifa", diz o comunicado.


E ele terá de pagar uma multa de um milhão de francos suíços, R$ 3,5 milhões.

Del Nero já havia sido afastado por 45 dias do cargo, para investigações. Agora ele está banido de vez. Não poderá jamais exercer qualquer função no futebol.


Na verdade, o que a Fifa fez foi referendar, concordar absolutamente com as investigações do FBI e do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Elas apontavam o que foi exposto de maneira definitiva por Marin, no seu julgamento em Nova York.

"Marin sempre estava com Del Nero. Era sempre Del Nero quem tomava as decisões. Marin estava fora, estava à margem. Por isso peço que vocês voltem até a analogia que fiz: Marin era alguém que só completava o time. Peço que vocês realmente tenham isso em mente: Marin era só um interino", disse, abertamente, o advogado de defesa de Marin, Charles Stillman.

Marco Polo del Nero foi citado pelos promotores norte-americanos de haver recebido 6,5 milhões de dólares (cerca de R$ 21,5 milhões) de propina de agências esportivas. Exatamente a mesma quantia que Marin.

Del Nero sempre se disse inocente. Que não havia nenhuma prova contra ele. Mas, desde que Marin foi preso na Suíça, ele nunca mais deixou o Brasil. O país não tem acordo de extradição com os Estados Unidos, que comandou a ação contra os dirigentes acusados de serem corruptos na Fifa.

Marin, Blatter e Del Nero. Os três fizeram o que quiseram na Copa do Mundo no Brasil
Marin, Blatter e Del Nero. Os três fizeram o que quiseram na Copa do Mundo no Brasil

O banimento do futebol não foi supresa para Del Nero. Ele já havia antecipado o que aconteceria para a diretoria que montou na CBF. E por isso, agiu com rapidez para garantir que não sofreria represália da entidade brasileira.

Como uma devassa nas suas contas. Ou a revelação de detalhes de contratos de patrocínio da Seleção ou dos direitos de transmissão dos vários torneios nacionais. Tudo seguirá a sete chaves. Indevassável.

Isso foi o que assegurou o coronel Antônio Nunes, presidente da Federação Acreana, e que assumiu provisoriamente o cargo de Del Nero, por ser o vice mais velho. Ele ficará até abril, quando assumirá Rogério Caboclo, candidato único na última eleição da CBF. O atual diretor executivo foi imposto por Marco Polo, em uma demonstração de força. Ele ficará no cargo até 2022.

E também promete seguir fiel ao seu mentor. Não haverá nenhuma investigação interna sobre a postura de Del Nero como presidente da Fifa. Ele pode ficar tranquilo em relação à CBF, onde segue sendo a pessoa mais influente.

O banimento matou de vez o seu projeto de passar 12 anos no poder. Ele assumiu o cargo em 2015 seu mandato terminaria em março de 2019. Como houve a pressão do governo federal para que houvesse o fim das dinastias na CBF, os presidentes passariam a ter o direito de apenas uma reeleição. Isso valeria apenas para o próximo ano. Del Nero conseguiria, tranquilamente, ser eleito até 2022. E só entregar o poder em 2017.

Houve até uma festa particular entre ele e seus parceiros mais próximos, em março do ano passado, quando Marco Polo mudou os estatutos da CBF, tirando o poder dos clubes nas eleições.

O colégio eleitoral da entidade é formado pelas 27 federações, os 20 clubes da Série A e os 20 clubes da Série B.

Marco Polo humilhou os clubes.

Del Nero saiu. Mas deixou Rogério Caboclo no cargo. Marco Polo ainda manda na CBF
Del Nero saiu. Mas deixou Rogério Caboclo no cargo. Marco Polo ainda manda na CBF

A CBF estabeleceu que os votos das federações estaduais passaram a ter peso 3, os votos dos clubes das Séries A, peso 2. E os clubes da Série B, peso 1.

Na prática, basta, desde 2017, as 27 federações estaduais votarem no mesmo candidato, elas terão 81 votos. Se os clubes se unirem, terão 60 votos. 

Além do fato de os candidatos à CBF precisarem ter o apoio mínimo e aberto de oito Federações.

Del Nero amarrou o pescoço dos dirigentes de clubes, como Andrés Sanchez que sonhava enfrentá-lo. E também ex-jogadores, considerados como 'aventureiros' por parceiros de Marco Polo, como Leonardo, Raí ou Ronaldo Fenômeno.

Nenhum deles sequer tentou porque sabia que não teria apoio de oito federações. Assim como também o presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos.

Advogados de Marco Polo confirmam que irão recorrer da decisão do Comitê de Ética da Fifa. A chance é nula de reversão de sentença. A questão deverá chegar na Corte do Esporte, última instância. Mas a chance do brasileiro é nenhuma. E ele sabe disso.

As acusações não só de Marin, mas do empresário Jota Hawilla, ex-dono da Traffic, e que fez delação premiada, para não ser preso, são explícitas. De acordo com elas, ele era quem dizia o que o ex-governador biônico de São Paulo deveria ou não fazer.

Del Nero está banido. Mas só um ingênuo para acreditar que ele está longe do futebol. Pelo contrário. Ele pode não ter mais cargo. Mas sua influência é total na atual direção da CBF.

Resta saber se Caboclo fará como José Maria Marin.

Ele havia jurado fidelidade total ao ex-presidente Ricardo Teixeira, que pediu demissão da CBF, pressionado pelas investigações do FBI, da Fifa e da Polícia Federal do Brasil. E mal Teixeira virou as costas, Marin chamou Del Nero e passaram a determinar tudo o que acontecia no futebol brasileiro.

Vale lembrar que a América do Sul perdeu espaço de vez com a corrupção. Dirigentes da Conmebol e das confederações da Venezuela, Equador, Chile, Colômbia e Bolívia foram indiciados e perderam seus cargos.

Confirmado o banimento, o Palmeiras quer destituir Del Nero como conselheiro
Confirmado o banimento, o Palmeiras quer destituir Del Nero como conselheiro

Caso o banimento de Del Nero seja confirmado, na última instância, ele terá outro dissabor.

O Conselho Deliberativo do Palmeiras quer expulsá-lo.

Não permitir que seja conselheiro benemérito do clube.

Marco Polo tomou duas decisões depois do banimento imposto pela Fifa.

Não dar entrevistas.

E seguir não viajando para o Exterior.

O futebol brasileiro segue cada vez mais envergonhado.

Ricardo Teixeira abandonou o comando da CBF.

E não viaja para fora do país pelas investigações do FBI.

José Maria Marin deverá morrer na cadeia.

E Del Nero está banido.

Está claro o tipo de gente que comanda o futebol neste país...

Marin e Del Nero. Banidos do futebol. Esse tipo de gente preside a CBF
Marin e Del Nero. Banidos do futebol. Esse tipo de gente preside a CBF

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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