Com privilégios, Tite só aumenta a rejeição do Brasil a Neymar
Cedendo a todas as vontades de Neymar, Tite acredita que ganhará a Copa do Qatar. Mas não percebe o mal que faz à Seleção e até ao jogador
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Jogador convocado e confirmado titular, mesmo sem atuar por três meses.
Para ele não importam os atos de indisciplina, como dar um soco na cara de um torcedor na cerimônia de premiação da um torneior importante da Europa.
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Nem rebolar 'até o chão', dois dias depois de haver retirado a proteção do seu pé direito, por uma segunda fratura.
Muito menos passar toda a Copa do Mundo simulando faltas não recebidas e tendo chiliques histéricos contra os árbitros.
Nem ter o privilégio de ser o único a levar sua família ao hotel reservado à Seleção na Rússia.
E os parças ficarem à vontade para assistirem treinamentos fechados ao mundo. Fazendo selfies, esnobando serem os 'escolhidos'.
É o único que dá entrevista quando quiser, não aceita imposição da assessoria de imprensa.
Também tem a exclusividade da visita do pai quando se contunde, em pleno vestiário da Seleção.
Cobra de todas as faltas que quiser.
Os pênaltis são dele.
A camisa 10 tomou de Oscar.
Pelé, Romário, Ronaldo, Rivaldo, Rivellino, Didi, Garrincha.
Ninguém teve tantos privilégios quanto Neymar.
É uma realidade que passará para a história.
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Mas, talvez por falta de assunto e de imaginação, ou pela desimportância do amistoso de amanhã, em Singapura, contra o Senegal, pela centésima vez Tite foi perguntado sobre o tratamento diferenciado que ele e a CBF reservam ao jogador.
E pela centésima vez, o técnico foi contra a realidade.
"Não pago preço para ficar bajulando jogador nenhum. Isso é a minha educação, não como técnico. Como ser humano."
"Não passamos a mão na cabeça de ninguém. Ninguém se engana. Isso não faço. Faço o que tenho que fazer com Neymar, com Marquinhos, com Gabriel Jesus... não tenho isso."
Tite talvez precisasse contabilizar os abraços e beijos que dá em Neymar. Talvez ficasse mais fácil assumir.
Tite segue com a ideia fixa, que não externa publicamente, que a atual geração não vencerá a Copa do Mundo sem Neymar. De jeito algum.
E o treinador está obcecado pela conquista.
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Não está sozinho nesta veneração. Mano Menezes, Felipão e Dunga também agiram parecido.
Neymar é oportunista.
Sabe que é o único jogador diferenciado desta geração e se aproveita de todos os privilégios possíveis. Todos.
Os outos atletas percebem que há um 'presidente' na delegação.
E muito mais mimado do que foram Romário e Ronaldo, para ficar nos mais recentes.
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A submissão do grupo a Neymar é algo inacreditável.
A situação traz incômodo, porque todos são tratados com cuidado nos seus clubes. Na Seleção, o carinho, a atenção são reservados apenas a um.
Ele tem o direito de reclamar, cobrar jogadas erradas, passes que não chegaram aos seus pés, dribles desnecessários. Mas o resto da equipe, não.
Na Copa do Mundo da Rússia, houve um exemplo raro. Um jogador da Costa Rica caiu, pretensamente, contundido. Thiago Silva teve fair play e chutou a bola fora. Neymar olhou para o zagueiro e o xingou. "Filho da p...".
Thiago Silva devolveu na mesma moeda e o encarou.
Assim que a partida acabou o zagueiro percebeu que ficaria isolado no grupo e que a briga poderia ter consequências até no PSG. E fez as pazes com o atacante.
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Atualmente, ninguém ousa questioná-lo.
Todos sabem que ele tem tratamento especial na Seleção.
Assim como a população que, cada vez mais, o rejeita.
Ele paga funcionários para bloquearem comentários contra ele nas suas redes sociais.
Mas como ele não controla o mundo, as mensagens criticando os privilégios dominam o twitter, o facebook, o instagram.
O comportamento parcial de Tite tem muito a ver com essa rejeição.
A CBF segue com interesse financeiro.
O jornal Estado de São Paulo publicou documentos relacionados à venda de amistosos da Seleção entre 2012 e 2022, ato absurdo feito pelo ex-presidente Ricardo Teixeira.
O comprador foi a empresa árabe ISE, Sports, ligada ao grupo Dallah Al Baraka, um dos maiores conglomerados do Oriente Médio, cuja sede financeira fica nas Ilhas Cayman, um paraíso fiscal. A ISE subloca os amistosos para a inglesa Pitch International.
E sem a presença de Neymar, o principal jogador brasileiro, o cachê da Seleção cai pela metade.
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Os itens do contrato revelado em 2015.
“A CBF garantirá e assegurará que os jogadores do Time A que estão jogando nas competições oficiais participarão em qualquer e toda partida”, artigo 9.1.
Em caso de descumprimento da condição, a ISE deixa claro que o cachê é reduzido a 50% do combinado.
A CBF recebe US$ 1,05 milhão por jogo até 2022. Ou seja, na cotação atual, R$ 4,3 milhões.
Sem Neymar, desde que ele tenha condições físicas de jogo, claro, seriam R$ 2,15 milhões.
Ele é o representante do Time A.
Tite fala uma coisa.
Mas suas atitudes mostram outras.
Seja na Rússia, na Bolívia, em Singapura.
Neymar segue intocável, acima do mal e do bem.
Como ninguém jamais foi na Seleção.
Nem Pelé.
E o que rendeu tanta submissão desde 2010?
Só frustração.
Neymar é o ídolo mais rejeitado deste país.
Porque nem todos precisam agir como Tite...
Neymar é homenageado na chegada a Singapura por 100º jogo na seleção
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