Cinco motivos constrangedores, de bastidores, que explicam a humilhante demissão de Carpini, do São Paulo
Treinador suportou apenas 18 partidas. Não teve o respaldo que sonhava, Presidente Julio Casares se arrependeu de ter seguido a indicação de Muricy Ramalho. Carpini perdeu o controle do time. E a confiança da direção, por seu comportamento inseguro
Há cinco capítulos que explicam a mais humilhante demissão no Morumbi, nos últimos anos.
O primeiro.
A desilusão de seu nome para substituir Dorival Junior
Quando o treinador que conseguiu vencer a inédita Copa do Brasil e foi escolhido pela CBF para treinar o Brasil, primeiro houve inconformismo no São Paulo.
Dorival havia conseguido ter o grupo de jogadores nas mãos.
Seguindo um esquema tático simples, mas que exigia enorme entrega física, pela intensidade, ele conseguiu tirar o máximo de atletas.
A expectativa era que o clube conseguiria contratar um argentino que disse não ao Corinthians, ao Santos, ao Atlético Mineiro, ao Internacional, ao Grêmio.
Juan Pablo Vojvoda.
Mas ele preferiu ficar no Fortaleza.
Foi quando o coordenador de futebol, Muricy Ramalho, sugeriu Thiago Carpini.
O técnico havia eliminado o próprio São Paulo, do Paulista, em 2023, com o Água Santa.
Fez um trabalho brilhante no Juventude, tirando o clube da zona do rebaixamento na Série B.
E o classificando para a Série A, deste ano.
Muricy se prontificou a ser o ‘guia’, o escudo de Carpini.
Casares decidiu ouvir Dorival, que referendou o nome.
Só que conselheiros e muitos membros da própria diretoria se decepcionaram.
Um treinador que jamais havia trabalhado em clube grande assumia o São Paulo.
E para ganhar uma competição que nunca disputou: a Libertadores.
Carpini sentiu o clima, mas fingiu não entender.
Acreditava que daria a volta por cima, com vitórias.
O segundo motivo.
A necessidade de se explicar
Quem frequenta o Morumbi sabe que Carpini não tinha algo fundamental para qualquer treinador.
Autonomia.
Pelo menos, aparentemente.
Situação que, muitas vezes, é pior.
O diretor de futebol, Carlos Belmonte, fazia questão de entender como o São Paulo jogaria.
A proximidade do treinador, nas vésperas das partidas, era percebida pelos atletas.
Belmonte não interferia nas escalações ou plano tático.
Só fazia questão de saber antes.
E passava para o presidente Julio Casares.
Era situação que poderia ser explicada para a imprensa como ‘proximidade’, cumplicidade.
Só que os atletas não percebiam essa atitude com Dorival Junior.
O ex-treinador aceitava, até para respeitar a hierarquia.
Mas é algo impensável para treinadores importantes, como Abel Ferreira ou Tite, por exemplo.
Terceiro motivo.
A intolerância com treinadores que começam carreira no São Paulo
Desta vez não é algo pessoal com Carpini.
Até mesmo o maior ídolo da história do Morumbi sentiu essa rejeição.
Rogério Ceni, André Jardine, Doriva, Vizzoli.
Os dirigentes do clube se acostumaram, e confiam, em treinadores rodados, experientes.
É uma questão de confiança, de tradição fortíssima do clube.
Não há paciência para os fracassos dos iniciantes.
Tudo é muito mais difícil.
E a ala política que colocou o presidente no poder cobra muito forte.
Trava, incomoda.
Julio Casares recebe inúmeros pedidos para a troca de Carpini.
Foram esquecidos rapidamente a quebra de tabu em Itaquera, com o São Paulo vencendo o Corinthians pela primeira vez no seu estádio.
E também a conquista da Supercopa do Brasil, diante do seu grande rival Palmeiras.
A eliminação no Campeonato Paulista, para o Novorizontino, em pleno Morumbi, já abalou Carpini.
O fraquíssimo futebol, na estreia da Libertadores, com fracasso diante do Talleres.
Outra derrota na estreia no Brasileiro, contra o Fortaleza, fez chover mensagens nos grupos de WhatsApp de Casares, exigindo a saída do treinador.
As longas conversas do presidente e o treinador deixaram de existir.
Emissários do São Paulo já começaram a sondar nomes para substituí-lo.
E vários conselheiros passavam esses nomes para jornalistas amigos.
O espanhol Rafa Benítez foi sondado, mas não quer vir ao Brasil.
O uruguaio Diego Alonso também recebeu convite, mas prefere seguir acreditando que assumirá um clube na Europa, depois da demissão do Sevilla.
Conselheiros insistiam que o clube deveria fazer uma proposta ‘irrecusável’ para Vojvoda.
Tudo isso acontecia com Carpini ainda no cargo.
Quarto motivo.
O aviso das organizadas que o tempo de Carpini havia acabado
As torcidas organizadas têm força na direção do São Paulo, como em quase todos os clubes do país.
“Para o bem do São Paulo Futebol Clube e para o bem do Carpini também, ele tem que ser demitido, sabe por quê? O nosso pacto que a gente fez, que iria apoiar os 90 [minutos] mais os acréscimos, a gente apoiou os 90 mais os acréscimos. A gente não xingou os jogadores e não xingou o técnico. Só que, a partir de agora, cara, a diretoria tem que vir e falar o plano, o porquê de manter o Carpini como técnico. Já deu, cara. O cara não tem o comando do time, o cara não tem um padrão técnico, tá ligado? Eu queria muito que desse certo, né, mano? O São Paulo não é laboratório. Então, o Muricy Ramalho, o Rui Costa, o [Carlos] Belmonte o [presidente] Júlio Casares: ‘amigo, acabou, amigo. Você tem que mandar o cara embora, a gente tem que arrumar outro técnico com urgência.”
Esse foi o aviso de Henrique Gomes, líder da Torcida Independente, a que tem maior influência no São Paulo.
Carpini sabia dessa rejeição.
Era na Independente que nascia o coro de ‘burro, burro, burro’ que o acompanhou nas últimas partidas comandando a equipe.
A direção não o defendeu publicamente.
Estava claro que os dirigentes concordavam.
Só um milagre, ontem no Maracanã, como uma apresentação de gala, vitória por goleada, para ter a mínima chance de sobrevivência.
Não veio e Baby ficou feliz, ao meio-dia e meia, quando Carpini foi oficialmente demitido hoje.
O quinto motivo
Enfrentar James Rodríguez
Quando Dorival Junior barrou o colombiano, jogador midiático que Casares teve o orgulho de contratar, a situação tinha um peso.
Quando Carpini resolveu fazer a mesma coisa, já que o atleta não consegue mostrar a intensidade que o esquema do treinador exige, tudo foi muito diferente.
Nada do apoio incondicional, que Dorival teve, para ganhar a Copa do Brasil.
Primeiro, o treinador enfrentou um silêncio, que mais se aproximava de uma censura.
Casares queria o aproveitamento do meia colombiano.
O dirigente sonhava em vender bonecos, camisetas e até baldes de pipocas com a estampa do rosto de James Rodríguez.
Mas não existe ídolo na reserva.
E o colombiano sabia que a direção estava do seu lado.
Diante do pouco aproveitamento, ele não buscou a reaproximação com Carpini.
Pelo contrário, fazia o que o treinador mandava.
Mas nada de conversas, cumplicidade, parceria.
Estava desgostoso com a reserva.
Ele deixou o clima muito pesado nos vestiários do São Paulo.
Carpini não teve forças para afastá-lo.
Como tirar do elenco uma estrela que recebe R$ 1,5 milhão por mês.
Foi assim, aos poucos, que Carpini foi perdendo força no São Paulo.
E durou apenas 18 partidas.
O São Paulo está buscando um treinador vivido no mercado.
Casares quer um estrangeiro ‘de confiança’.
Nada mais de apostas.
Carpini é resumido assim entre os dirigentes.
Uma aposta que não deu certo.
E o sonho do clube, em 2024, não seguirá mais sob seu comando.
A conquista da Libertadores da América...
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