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Cosme Rímoli - Blogs
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Ceni é o técnico mais aliviado do Brasil. Salvar o Bahia do rebaixamento salvou também seu prestígio. Ele estava envergonhado

Foram 16 partidas nas quais Ceni pôs em risco sua credibilidade. Mas conseguiu fazer com que o fraco elenco do Bahia ficasse na Série A. Aliviado, ele já pede reforços. Não quer o mesmo sufoco em 2024

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli


Rogério aliviado. Sabe que não foi só o Bahia que escapou do rebaixamento. Foi também o seu prestígio
Rogério aliviado. Sabe que não foi só o Bahia que escapou do rebaixamento. Foi também o seu prestígio

São Paulo, Brasil

"Ele estava atormentado.

"E muito envergonhado."

Assim, um velho amigo dos tempos de São Paulo, definiu o estado de espírito de Rogério Ceni ao blog.

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O treinador de 50 anos sabia que ontem estava em jogo muito mais do que o simples rebaixamento do Bahia.

Por mais que o CEO do grupo City, que é dono da SAF que controla o futebol do clube nordestino, tenha garantido que Ceni ficaria à frente da equipe na Série B, Ceni se mostrava inconformado.

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Tinha a plena convicção que seu patamar como treinador mudaria, caso não tivesse competência para evitar o rebaixamento de um dos clubes mais populares do Brasil.

Ceni assumiu a equipe no dia 8 de setembro, depois da saída do português Renato Paiva, que havia deixado o clube a um ponto dos quatro piores do Brasileiro.

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O treinador havia sido demitido, pela segunda vez, do São Paulo, clube onde é o maior ídolo da história. Completamente abatido psicologicamente, Ceni havia dito a amigos que precisa "de um tempo" para se recuperar. Se reciclar. 

Foi o que fez. 

Só fechou com o Bahia em setembro, depois de algumas sondagens de clubes médios.

O compromisso foi fechado até dezembro de 2025, com uma multa alta. Pagamento dos salários restantes, caso Ceni seja mandado embora antes do prazo final.

Ele encontrou um elenco fraco, sem confiança, pressionado pelas violentas torcidas organizadas do Bahia.

Nas 16 partidas para salvar o time, o técnico paulista passou por muito sufoco.

Enfrentou a descrença da mídia de Salvador, que influenciava não só os vândalos infiltrados nas organizadas, como os próprios jogadores, amedrontados.

Ceni deixou muito claro que exigia personalidade dos seus atletas.

Ele exigiu mais concentração, treinamentos mais intensos, mudança radical na preparação física. E extrema dedicação. 

Seu exemplo de dedicação impressionou a todos. 

Sempre o primeiro a chegar, quando não dormia na concentração, e o último a ir embora.

Foi firme, obsessivo.

Mesmo assim, a caminhada baiana foi muito instável. 

Foram sete vitórias, um empate e oito derrotas.

A partida contra o lanterna e já rebaixado América Mineiro foi a demonstração do descontrole emocional do time. A equipe teve nada menos do que 28 arremates ao gol. Desperdiçou chances seguidas. Os jogadores, principalmente o atacante Ademir, chegaram a ficar envergonhados depois de chutar para fora pelo menos quatro chances tendo apenas o goleiro Jori.

O clima de pessimismo dominava Salvador para o confronto de ontem contra o poderoso Atlético Mineiro, de Felipão, que tinha chances matemáticas de ficar com o título.

Bahia massacrou o Atlético Mineiro. 4 a 1. Confiança e estratégia. Ceni se aproveitou das brechas de Felipão
Bahia massacrou o Atlético Mineiro. 4 a 1. Confiança e estratégia. Ceni se aproveitou das brechas de Felipão

Não bastasse a dificuldade do jogo, foi divulgada nas redes sociais uma imagem repugnante.

Sacos plásticos pretos com as fotos dos atletas de Ceni, como se fossem corpos mortos. 

A ameaça de morte não poderia ser mais explícita.

Ceni tratou de se fechar com seu time.

E insistiu: se contra o América foram criadas chances para 28 arremates, o ataque poderia se impor também diante do Atlético, que iria atuar aberto, tentando não só vencer, como golear, para sonhar com a conquista do Brasileiro.

Rogério Ceni ganhou o duelo tático com Felipão, com muita coragem.

E estratégia.

Tratou de lotar as intermediárias. Explorou o maior número de jogadores no espaço fundamental do campo. O Atlético várias vezes, na ansiedade de vencer, mantinha apenas dois atletas e quatro jogadores assumiam a postura de atacantes.

Foi uma festa de vibração, correria e contragolpes muito bem aproveitados.

A torcida na Fonte Nova enlouqueceu com o 4 a 1.

Ceni estava visivelmente emocionado ao saber que o Santos havia perdido.

E o Bahia conseguira escapar do rebaixamento.

Perguntado se ele estava preocupado com o rebaixamento, ele foi direto.

"Eu? Muito. Quando me chamaram eu tinha 16 jogos. Olhei a tabela, vi o elenco, e fiz as contas que dava para chegar nos 43 pontos. Nas minhas contas, contra São Paulo e América seriam quatro pontos. Ficou então tudo para o último dia. Eu estava bem cabisbaixo. Até os atletas falaram comigo. Eu também sou humano. É natural depois de uma derrota", disse, citando os dois fracassos.

Mas os bastidores da reação são muito interessantes.

E mostram quanto Ceni teve de se aproximar dos jogadores.

Esquecer a postura hierárquica, de que tanto gosta.

Rogério Ceni muito concentrado. Agradecendo aos céus. Seu fraco Bahia não foi rebaixado
Rogério Ceni muito concentrado. Agradecendo aos céus. Seu fraco Bahia não foi rebaixado

"Na segunda-feira eles falaram comigo: 'Precisamos de você'. Na terça-feira eu fiz o movimento trocado. Ontem, o Ferran me ligou, ele me perguntou como eu estava, falei que estava triste e chateado. Ele falou que a tristeza tem que durar 24h, e disse que, independente de onde a gente acabe, que ele queria que eu continuasse o projeto, na Série A ou B. Isso faz diferença.

"É muito importante ter o suporte e apoio das pessoas. O Bahia é um clube de massa, esse é o principal ponto para você escrever uma história. Que o Bahia continue crescendo mais, chegando na Sul-Americana, na Libertadores. Não sei até quando vamos ficar aqui, mas quero dizer que fiz parte da construção de um clube que já era gigante, bicampeão brasileiro. Não esqueço tudo de ruim e errado que aconteceu, é importante ser lembrado isso para diminuir o número de erros para o próximo ano."

Ceni já começou esta quinta-feira mais do que aliviado.

Ele ganhou até mais prestígio por salvar o Bahia do rebaixamento.

Chegou a um percentual de 46% de pontos, enquanto o português Renato Paiva conseguiu apenas 33%.

Ele já avisou à direção do grupo City que o time precisa de reforços importantes para a temporada de 2024.

Ceni nunca mais quer passar pela pressão do rebaixamento.

Nem perder credibilidade como técnico...

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