Tite resgatou o jogador que queria para a Copa. Thiago Silva
O treinador o considera um dos melhores zagueiros do mundo. E injustiçado pelo massacre que sofreu na Copa do Mundo de 2014. Virou seu titular
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
Tite já havia dito a Edu Gaspar.
Thiago Silva foi o maior sacrificado na caça às bruxas, depois da Copa do Mundo no Brasil. Seu choro desmedido depois da vitória do Brasil diante do Chile, nas cobranças de pênaltis, nas oitavas de final, ficou associado aos 7 a 1 diante da Alemanha, na semifinal. E ele não jogou, por estar suspenso.
O treinador depois acompanhou, com agonia, a volta do capitão de Felipão, à Seleção Brasileira. Só que, desta vez, com Dunga. Não houve o menor cuidado psicológico com o jogador. E veio novo vexame com um tapa na bola, na eliminação da Copa América de 2015, diante do Paraguai.
"Quem botou a mão na bola, foi eu?", perguntava, desesperado, a Filipe Luís.
Assim que herdou o cargo no lugar de Dunga, em junho de 2016, ele ficou obcecado. Resgataria aquele que considera um dos melhores zagueiros do mundo. O melhor nascido neste país.
Comprou a briga aos poucos.
Thiago estava na seleção da Fifa por três anos seguidos e era deixado de fora das convocações, desde o pênalti contra o Paraguai. As cenas, em que desabava no choro, eram repetidas à exaustão nos canais de esporte no país para explicar sua ausência.
No dia 14 de junho de 2016, o Brasil era eliminado da Copa América dos Estados Unidos, pelo Peru. Dunga foi demitido. No dia seguinte, Tite foi contatado e afirmou que aceitaria assumir a Seleção. Deu tempo suficiente para indicar Thiago Silva a Rogério Micale, treinador da Seleção Olímpica.
Micale atendeu a determinação e colocou Thiago Silva na lista dos pré-convocados. Seria o capitão na Olimpíada. Mas a direção do PSG, que não era obrigada a liberá-lo, travou a convocação. Só autorizou que Marquinhos jogasse a competição.
Mas o caminho de volta a Thiago Silva estava aberto.
Só que Marquinhos e Miranda formaram uma excelente dupla de zagueiros. E deu conta muito bem dos jogos restantes das Eliminatórias, sob o comando de Tite.
O treinador passou a chamar seu zagueiro predileto. O fez jogar nos últimos minutos, contra a Argentina, no Mineirão, dos 7 a 1. Ele entrou com a partida decidida. Foi aplaudido, como esperava o técnico.
O retorno foi lento e gradual.
Até mesmo a faixa de capitão ele recuperou, no rodízio promovido pelo técnico.
E Marquinhos e Miranda seguiam jogando muito bem, entrosados, rápidos na cobertura, técnicos para sair com a bola dominada, de cabeça erguida.
Mas vieram os treinamentos decisivos para a Copa, em Teresópolis.
E foi impossível não notar a satisfação de Tite com Thiago Silva.
Ele era o melhor dos três nos cruzamentos aéreos, maior medo do treinador na Copa. E, aos 33 anos, segue com uma visão privilegiada nas antecipações e cobertura dos laterais.
O treinador decidiu fazer o que já havia decidido há tempos, contra a Croácia. Definiu Thiago Silva titular absoluto, ao lado de Miranda.
A 'dor no coração' por tirar Marquinhos, alegada por Tite, é real.
Ele foi muito bem com a camisa da Seleção. E está vivendo uma fase excelente. Assim como Miranda. E também, para fazer justiça, Geromel, que ganhou duelo com Rodrigo Caio, na última hora. O gremista tem mostrado recursos até para ser titular.
"Cosme, por que eu resgatei o Thiago Silva?
"Porque ele joga muito. Mas joga muito", me disse Tite na exclusiva que fizemos em janeiro.
O brilho nos olhos do treinador foi até maior do que quando falou de Neymar, de quem é apaixonado.
Além do futebol, ele considera Thiago Silva o grande líder no elenco atual da Seleção. Ele já esteve na Copa da África do Sul, como reserva. E atuou na de 2014. Tem experiência de sobra para determinar o comportamento do time na Rússia.
Também controlar Neymar. Os dois são companheiros e amigos íntimos no PSG. Só Daniel Alves, cortado por contusão, é mais próximo do maior talento brasileiro.
Ver Thiago Silva na Seleção, sem contestação, é uma das maiores vitórias de Tite. O próprio jogador acreditou estar queimado de vez na Seleção. Pelas fortes críticas da imprensa brasileira. Tanto ao choro como ao pênalti diante do Paraguai.
Tite teve várias conversas com o jogador. E tem toda a confiança que seu lado psicológico está recupado, pronto para suportar a enorme pressão por disputar a sua última Copa do Mundo.
O treinador teve longa conversa com Marquinhos. E ele aceitou a reserva, sem criar qualquer problema. Avisou que treinará até mais forte para tentar recuperar a posição. O técnico gostou do que ouviu. E muito mais pelo respeito à sua decisão.
Adenor tinha outro desejo. Mas logo ficou claro que ele não se realizaria. "Você tentou também resgatar o David Luiz para a Seleção, Tite", lembrei.
"É verdade. Mas não foi possível", respondeu.
O zagueiro do Chelsea nunca mais foi o mesmo depois do Mundial do Brasil.
Seu futebol piorou de forma assustadora.
Esse resgate Tite não conseguiu...