Será guerra em Moscou. Sem direito a sobreviventes
Brasil terá a Sérvia, que encara a partida como um desafio à soberania nacional. Chegou o primeiro desafio de vida ou morte a Tite e Neymar
Cosme Rímoli|Do R7
Moscou, Rússia
O Brasil terá pela frente mais do que um adversário esportivo, no Spartak Stadium. Não, a Sérvia de Mladen Krstajić encara partida de logo mais, às 15 horas, no horário brasileiro, 21 horas por aqui, como uma missão patriótica.
A Iugoslávia era uma mescla de seis nações diferentes, que formaram um país à força em 1918. Eslovênia, Croácia, Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro e Macedônia conviviam mal, com preconceito, rivalidade, mortes. Um ditador socialista, Josip Broz Tito, não alinhado com a então União Soviética, manteve os territórios unidos à força.
Leia também
Fifa reconhece polêmicas, mas se diz feliz com árbitro de vídeo na Copa
Por que a Sérvia está no centro da principal crise política da Copa da Rússia?
Suíça embalada enfrenta Costa Rica e busca confirmar força
Por que Neymar é tão amado e tão odiado?
Hotel é evacuado em cidade-sede da Copa após ameaça de bomba
Com sua morte, eclodiu uma guerra civil sangrenta. Com inúmeras 'limpezas étnicas' de lado a lado. Foi o mais sangrento conflito na Europa, pós-guerra. Com o apoio russo, a Sérvia, mais importante região, se libertou da Croácia, sua maior inimiga e acabou com a ideia forçada da Iugoslávia. O tribunal de Haia levou a julgamentos vários militares das várias etnias. Mas o sérvios foram mais condenados à morte do que seus rivais.
A política está presente na seleção sérvia que está nesta Copa. Krstajić conseguiu convencer seus jogadores que estão em missão, na Rússia. Resgatar o respeito ao país, usando o futebol. E não teve dúvidas em usar até a velha aliança política com a Rússia para o jogo de hoje.
"Eu já disse que nos sentimos como se estivéssemos jogando na Sérvia. A Rússia é um país irmão, todo mundo dá apoio. Toda a nossa delegação se sente em casa dado ao apoio da Rússia para nós. Será assim que entraremos em campo contra o Brasil", garante.
O espírito será bélico, de confronto. Os sérvios já formam uma equipe forte fisicamente, vibrante, e com alguns jogadores com técnica interessante. O lateral esquerdo Kolarov, de 1m87, que atua na Roma, viu como provocação, desleixo, Tite confirmar a mesma equipe dos dois primeiros jogos do Brasil. Esperto, forçou um desprezo inexistente. Só para atiçar os ânimos.
A Sérvia é a seleção mais alta de toda a Copa, média de 1m82. E formada por jogadores que parecem atletas olímpicos. Fortes, velozes e que não fogem das divididas. São leais, porém ríspidos. Atuam defensivamente em duas linhas de cinco e quatro jogadores. Mas, ao contrário da Costa Rica e da Suíça, é mais ofensiva. E assim será hoje. Porque só a vitória garante o time nas oitavas de final.
A melhor maneira dos sérvios chegarem ao gol são em cruzamentos aéreos, escanteios. Eles costumam levar no mínimo seis jogadores às áreas adversárias para cabecearem. Além disso, há a movimentação constante dos seus meia atacantes Tadic, Savic e Kostic. Como pivô, o grandalhão Mitrovic. É um time forte na frente.
Mas seu ponto fraco está na defesa. Seus zagueiro Milenkovic e Tosic são lentos. O volante Matic não consegue dar conta de proteger os dois.
Tite foi sutil, quando confrontado com a força física sérvia. E deixou escapar. "A Natureza não dá tudo. Eles são fortes, maiores. Mas também têm suas deficiências." Ou seja, o treinador, vai explorar a habilidade e rapidez de Neymar, Phillipe Coutinho, Willian e Gabriel Jesus. Ele quer ganhar a partida por baixo, no toque de bola.
Para o Brasil sair vencedor será obrigatório que Neymar se controle. Porque ele vai receber pontapés. O árbitro será o iraniano Alireza Faghani, que trabalhou na final olímpica do Rio de Janeiro. E não se iludiu nas várias vezes que Neymar simulou sofrer faltas. Ou seja, um cuidado a mais nesta decisão.
O que mais fez, além de treinar bolas aéreas, Tite conversou com seus jogadores. E foi claro. Deu um último voto de confiança a Willian e Paulinho, que estão fazendo uma péssima Copa. Quer os dois mais participativos, com maior movimentação, firmeza. E no caso do atacante, mais confiança nos dribles e arremates.
Assim como exige que Gabriel Jesus busque mais o gol. Acabe com o excesso de solidariedade. E mostre seu poder de artlheiro.
Renato Augusto, Fernandinho e Roberto Firmino estão de prontidão para entrar no segundo tempo, se o trio não reagir.
A Suíça enfrenta a fraquíssima Costa Rica ao mesmo tempo. E tem tudo para manter a lógica e conseguir mais três pontos. Daí a necessidade de o Brasil vencer, se quiser ficar em primeiro. Além de abrir saldo de gols, que até começar esta rodada é favorável aos suíços.
Há mais um detalhe mais do que importante neste jogo. A possibilidade de escolha do adversário. A Alemanha dedirá sua vida quatro horas antes. Poderá ficar em primeiro ou em segundo no grupo F. Ou até ser eliminada. Em caso de classificação na liderança, os germânicos seriam os rivais se os brasileiros terminarem na vice liderança do grupo E. E jogariam em São Petersburgo. O mesmo confronto aconteceria se o time de Tite foi o primeiro e os alemães segundos. Só que se enfrentariam em Samara.
Agora, pode haver a chance de escapar dos atuais campeões mundiais. Tite saberá qual a classificação do tradicional rival antes. E daí, no decorrer da partida contra a Sérvia, optar pela primeira ou segunda colocação. Se escapar da Alemanha, México ou Suécia seriam os adversários nas oitavas.
Tite nega que sequer vá pensar na situação.
Quer o Brasil em primeiro, vencedor de qualquer maneira.
O desejo do treinador é fugir do voo que a CBF já preparou em Sochi, na sexta-feira, e tem destino Londres. Seria o voo da eliminação precoce do Mundial, com uma campanha igual à pior de todos os tempos, a de 1966, na Inglaterra.
Para isso, só não pode perder para os guerreiros sérvios...
A Argentina se classifica mas é Maradona quem rouba a cena: