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Cosme Rimoli Copa 2018

O Canarinho Pistola tem mais espaço que Neymar. A CBF venceu

O maquiavélico plano para controlar os 300 jornalistas que cobrem a Seleção. Em detalhes, como a CBF pasteuriza as informações do Brasil

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

Como a CBF obrigou a imprensa a correr atrás do mascote e torcedores bêbados
Como a CBF obrigou a imprensa a correr atrás do mascote e torcedores bêbados

Sochi, Rússia.

A raiva disseminada de Neymar dos críticos foi o ingrediente que faltava. A CBF desenvolveu uma estratégia muito bem organizada de controlar todas as informações possíveis sobre a Seleção.

Jamais na história das Copas o Brasil esteve tão fechado, isolado, longe do alcance dos jornalistas.

A disseminação indiscriminada de cobertura das ações do Canarinho Pistola, um garoto dentro de uma fantasia de um pássaro enfezado, não é por acaso. Como também a de torcidas organizadas de endinheirados que tentam emplacar artificialmente a 'música da Copa'. Para depois ganhar os direitos da composição, lógico.


Nunca se cobriu tanto torcedores embriagados, fantasiados de forma mais ridícula possível. Jamais tantas estátuas e monumentos foram mostrados à exaustão. Assim como pratos típicos explicados por quem deveria estar falando de futebol. 

O idioma russo, eslavo, e seu alfabeto cirílico, tão diferentes do português, são pano de fundo perfeitos. Assim como a ocidentalização da nova geração nas ruas, que consagra o fracasso do comunismo.


Até vídeos de machistas idiotizados, forçando belas jovens russas a gritarem palavrões em português, viralizam. Se transformam em justas demissões e discussões intermináveis na Internet.

Horas e horas de gravação, espaço precioso em portais e em jornais são usados para amarrar o torcedor. Forçá-lo a tirar os olhos da Seleção Brasileira. 


Não há entrevistas exclusivas dos jogadores, de Tite. Os bastidores são controlados de forma arquitetada com primazia. Mesmo os poucos assessores de jornalistas e do treinador, que estão aqui na Rússia, não têm como colocar seus contratados para falar. Há uma ordem da presidência da CBF proibindo as conversas com repórteres.

Os mais de 300 jornalistas brasileiros que cobrem o dia-a-dia da Seleção, na Rússia, não se contentam com a situação. Só que os celulares não respondem. As mensagens de whatsapp não têm retorno. Quando os atletas decidem ficar com seus familiares, longe da concentração, não adianta a abordagem. Não falam.

O vergonhoso vídeo dos torcedores bêbados com a torcedora russa
O vergonhoso vídeo dos torcedores bêbados com a torcedora russa

A rotina é a seguinte. Faltando quatro dias para o jogo, apenas um treino, pela intensidade, pelos jogos seguidos da Copa. E um atleta é escolhido em consenso com Tite e assessoria de imprensa para dar entrevista, após a prática, de banho tomado. Ele chega devidamente instruído para as perguntas mais complicadas. As respostas costumam ser rasas, sem comprometimento.

Esse treino, com os reservas, pode ser observado.

Já quando faltam do três dias, o treinamento é aberto por 20 minutos. O restante é fechado, os jornalistas não podem nem ver. Depois de duas horas, em média, um jogador fala.

A 48 horas da partida, o treino é fechado. E ninguém dá entrevista. E o time viaja para o local da partida, deixando a paradisíaca concentração de Sochi.

Na véspera do jogo, Tite e o capitão do jogo são obrigados pela Fifa e dividem meia hora de entrevista. O técnico brasileiro passou a dividir essa conversa com seus auxiliares Silvinho e Cléber Xavier, o que diluiu a importância das respostas. E dimui o tempo de exposição do treinador.

Após a partida, Tite é obrigado a falar por meia hora. E os jogadores passaram a tomar banho, jantar depois dos jogos. E só duas horas depois, todos saem para encarar os mais de 300 jornalistas, o número aumenta muito com repórteres de outros países. A Fifa até proíbe fotos para não ser mostrada a situação constrangedora, com os jornalistas se espremendo para tentar colocar seus celulares com gravadores perto da boca dos jogadores.

A estratégia é sair em grupo, todos ao mesmo tempo. Para falarem o menos possível. Os assessores da CBF estão sempre ao lado dos atletas envolvidos em lances polêmicos. As poucas palavras são ainda aceleradas, para que eles não se comprometerem. 

Mas quem não quiser falar, não fala. Como Neymar fez contra a Costa Rica. Acompanhado por Roberto Firmino. 

O tempo de entrevistas do time todo, que demorou duas horas para sair do vestiário depois do jogo da Costa Rica, foi de exatos 12 minutos para a imprensa escrita. 12 minutos o elenco todo.

O acesso da CBF TV é total. Jogadores são obrigados a falar
O acesso da CBF TV é total. Jogadores são obrigados a falar

A esculhambação de 2014 virou distribuição de informações oficiais. Divulgadas pela própria CBF. A entidade desestimula as televisões e fotógrafos a se desdobrarem para filmar e registrar imagens da saída e chegada nos hotéis da Copa. A intimidade, oficial e pasteurizada, é filmada, fotografada pela CBF. Os registros no seu site se tornaram imperdíveis, obrigatórios. 

Lá também há as entrevistas exclusivas 'limpas', sem perguntas mais profundas, constrangedoras. Voltadas para situações positivas e artificiais. Como os clubes do mundo todo estão fazendo.

A cobertura da Seleção Brasileira virou uma busca insana de informações sobre o em torno da equipe. Ela nunca esteve tão dentro de um campo de força invisível, impenetrável. 

Jornalistas mais antigos estranham, reclamam, mas não há o que fazer. Mesmo a dona do futebol no país, a TV Globo, não tem mais o privilégio das inúmeras Copas. Como a passada, quando tinha livre acesso aos bastidores e até contrato de exclusividade de Neymar. Desde que ela rompeu com o banido Marco Polo Del Nero, acabou seu espaço também.

A CBF é dona da Seleção e exerce seu direito.

Os jornalistas que se contentem o pouquíssimo que ela permite.

Os jogadores se mostram satisfeitos, preferem essa distância.

E usam suas redes sociais quando querem se manifestar. E estão mais do que satisfeitos.

Assim como o simpático Tite, que está preservado pelo esquema.

Sem exclusivas, com 300 repórteres repartindo quase nada, não há saída. Todos estão na Rússia. Precisam escfrever, preencher a programação imensa de suas televisões, reservadas ao Mundial. 

A Seleção Brasileira é insuficiente para a cobertura.

Phillippe Coutinho e a tranquilidade nas coletivas. Só se aprofunda quando quer
Phillippe Coutinho e a tranquilidade nas coletivas. Só se aprofunda quando quer

Por isso, dá-lhe Canarinho Pistola, cantor sertanejo de 11 anos que Neymar cantou uma música, Bruna Marquezine, músicas das arquibancadas, corte de cabelo, torcedores bêbados e fantasiados. Russas gritando palavrões, explicações sobre o nascimento do strogonofe. Jornalistas bebendo vodca e comendo peixes secos. 

Detalhes sobre a Revolução Russa, a Guerra Fria, a corrida à Lua, o fim da União Soviética, a abertura à Ocidentalização. Vale tudo para preencher a programação.

E debates e mais debates sobre os mesmos cansativos temas.

Os 300 jornalistas que cobrem o Brasil estão travados.

A CBF conseguiu.

Amarrou por todos os lados as informações da Seleção.

Onde estiver, Marco Polo deve estar gargalhando.

Está vingado...

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