O Brasil dá um aviso para o Mundo. Está pronto para a Copa
Com o time mais ofensivo de Tite, a Seleção acabou com a invencibilidade da Áustria. 3 a 0 foi pouco. Mas ainda há detalhes para ser corrigidos
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
Não poderia ser mais animador o último amistoso do Brasil, antes da Copa. Com paciência e autoridade, a Seleção de Tite se impôs diante da Áustria, em Viena, por 3 a 0. O jogo mostrou todo o potencial ofensivo brasileiro, quando tem espaço para atuar.
E por trás de toda merecida festa pelos gols de Gabriel Jesus, Neymar e Phillipe Coutinho, o time mostrou alguns problemas. Possíveis de serem corrigidos. Como a irritação de Neymar no primeiro tempo. A insegurança de Danilo, que torna Willian menos produtivo. E a perigosa insistência em sair com a bola dominada, a qualquer tiro de meta. Exagero.
Tite queria o 'pior amistoso possível, antes da Copa'. Queria ter pela frente um futebol competitivo, de muita intensidade, marção forte na intermediária e alta. Capaz de tentar travar não só a saída de bola, como a habilidade no terço final do gramado, com os dribles, as tabelas, as triangulações pelas laterais. Parar Neymar, Philippe Coutinho, Marcelo e Paulinho, que abrem espaço para as finalizações de Gabriel Jesus.
A direita deixou de ser uma preocupação para os adversários. Com o corte de Daniel Alves, Danilo segue tímido para atacar e inseguro na marcação. E prejudicou Willian. Virou um ponto fraco da Seleção.
Tite desejava um adversário para incomodar, acordar o time antes da Copa do Mundo, que começa daqui a uma semana, na próxima semana, aqui em Rostov, contra a Sérvia.
E encontrou.
A Áustria de Franco Foda, treinador alemão, que assumiu a equipe com a missão de preparar a boa geração para a Eurocopa de 2022 e para o Mundial de 2022. Seu time, eliminado da Copa, está empolgado com a visão moderna do treinador. E assim venceu o Uruguai, Rússia e Alemanha em amistosos que nada tiveram de amigáveis. Estavam com sete vitórias seguidas e um empate.
A Áustria foi o sparring perfeito. Com sua marcação fortíssima na intermediária e até na saída de bola brasileira, exigiu o que o treinador tanto queria. Criar dificuldades.
E foi fácil perceber o primeiro problema.
Neymar.
Os três meses parado pela fratura no metatarso direito atrapalharam o maior talento brasileiro. Começando o jogo, ao contrário do que aconteceu contra os croatas, quando entrou no segundo tempo, Neymar teve de enfrentar os rivais com todo fôlego. E Foda tratou de encaixotar o brasileiro, com volantes e meias.
Neymar se irritava com as entradas duras. E passou a fazer o que não pode. Forçar dribles desnecessários, facilitando a marcação austríaca, atrasando contragolpes brasileiros. Marcelo estava visivelmente se poupando. Vem de uma temporada terrivelmente desgastantes, com a conquista da Champions. Não foi nem sombra do que costuma ser. O que prejudicou a objetividade do time.
Neymar estava fora de jogo, o que é normal.
Philippe Coutinho ficou sobrecarregado, mas enfrentou com talento os austríacos. Com a colaboração ótima de Paulinho. Ele está no melhor de sua forma física. E, mesmo com os rivais alertados, apareceu sempre como surpresa. Até mesmo Casemiro teve de se adiantar para ajudar no ataque. Até porque Willian estava completamente apagado.
Uma outra situação evitável está à tona. Tite tem insistido com o Brasil sair jogando com a bola dominada desde o tiro de meta. Algo que é muito perigoso. Mesmo o Barcelona de Guardiola tomou gols que sabotaram seus caminhos por bolas dominadas e perdidas. É preciso redescobrir a humildade para dar um chutão. Principalmente Danilo.
O time obedeceu o que Tite mandou. E tocou a bola com tranquilidade, diante da forte retranca na segunda metade do primeiro tempo. Chegou a trocar 18 passes em 56 segundos, enquanto encurralava o adversário.
Mas faltavam chances claras.
A saída estava nos chutes de fora da área.
Tanto era assim que, aos 34 minutos, Marcelo bateu forte. A bola desviou na zaga e chegou a Gabriel Jesus, impedido, dar um toque de curva, sem chance para a saída do desesperado goleiro Lindner. 1 a 0, aos 34 minutos.
O Brasil ficou 64% de posse de bola no primeiro tempo.
Foda não queria perder o jogo de maneira alguma. E fez tudo o que não deveria. Ele esqueceu o 4-5-1 e passou a atuar no 4-3-3, abriu o meio de campo. Seu time não tem talento para isso.
Deixou tudo mais fácil.
Passou a ser um massacre.
Com as intermediárias abertas, o Brasil mostrou toda a sua força ofensiva nos contragolpes velozes. Logo aos 17 minutos, bola roubada na intermediária, Willian serviu Neymar livre dentro da grande área. Deu um drible humilhante em Dragovic e chutou no meio das pernas de Linder. 2 a 0.
O terceiro, não demoraria. Apenas oito minutos depois, Roberto Firmino, que entrou muito bem outra vez, mostrou seu entrosamento do seu ex-companheiro do Liverpool. Em um toque objetivo, na diagonal, deixou Philippe Coutinho sozinho diante de Lindner. O toque consciente, cruzado, decretou 3 a 0.
E ainda desperdiçou chances incríveis para marcar mais dois, três gols. O placar deveria ter sido muito mais dilatado.
Neymar ficou 83 minutos em campo.
O que também foi importante.
Até como as pancadas que levou.
O time mais ofensivo brasileiro mostrou qualidades.
Fernandinho deixa a equipe burocrática, lenta.
Alguns defeitos importantes precisam ser corrigidos.
Só que o treinador tem potencial para consertar.
De um modo geral, o Brasil está pronto para a Copa...