Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

"Neymar transformou a euforia em decepção no PSG, em toda França"

O correspondente do L'Equipe e autor do livro 'Neymar, o príncipe do Brasil', Eric Frosio mostra o outro lado da maior esperança na Rússia

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

"Neymar precisa saber que futebol não é tênis. Ninguém joga sozinho", Eric Frosio
"Neymar precisa saber que futebol não é tênis. Ninguém joga sozinho", Eric Frosio "Neymar precisa saber que futebol não é tênis. Ninguém joga sozinho", Eric Frosio

"Houve uma mudança radical na postura da direção, da torcida do PSG e da mídia francesa em relação ao Neymar.

"Passou da euforia da contratação de um top três do mundo à decepção. Não só no PSG. Mas em toda França."

"Por culpa dele.

"Pela falta de envolvimento, o desinteresse de participar de verdade na vida do clube, nas horas mais importantes, na decisão de seguir ou não da Champions.

Publicidade

"Não se interessar nem em aprender a falar francês. 

"E seguir estimulando os rumores que vai para o Real Madrid.

Publicidade

"Neymar cansou os franceses.

"Deixa claro que está no PSG de passagem."

Publicidade

Curta a página R7 Esportes no Facebook

As declarações são do jornalista francês Eric Frosio, correspondente do L’Équipe e RTL no Brasil. 

Ele é autor do livro Neymar, o Príncipe do Brasil. 

Depois de ouvir as pessoas mais importantes na vida do principal jogador brasileiro da autualidade, ele chegou à conclusões frias e que contrastam com o ufanismo, principalmente agora, às vésperas da Copa do Mundo.

Eric é firme, não esconde sua opinião, nas entrevistas que deu sobre o livro. Explica porque Neymar não é o ídolo que poderia ser. 

"Por seu comportamento, sua falta de maturidade. Já era assim com 19 ou 20 anos no Santos, mas era mais jovem, estava crescendo e aqui as pessoas gostavam dessas atitudes. Agora é maior, considerado o terceiro melhor jogador do mundo, tem um poder financeiro e uma imagem incríveis... Tem mais seguidores que muitos países do mundo tem de habitantes. Deveria comportar-se de uma forma mais discreta. Mbappé, que tem 19 anos, parece mais maduro."

Confira tudo sobre Copa 2018 no R7 Esportes

Mas acredita que essa postura seja influência do pai do jogador.

"Todas as pessoas que eu conheci e que viveram essa transformação de vida me disseram que ele (Neymar Pai) mudou muito, que se perdeu por culpa do dinheiro, do sucesso, das mulheres... E que ele pode ser um problema para a trajetória do filho. Neymar precisa cortar o cordão umbilical. Não pode seguir deixando o pai decidir seu futuro."

Na conversa exclusiva com o blog, não poderia ser mais direto.

Talvez essa transparência tenha assustado as editoras brasileiras, que se interessaram pelo livro. Mas não fecharam contrato com a publicação, que só saiu na França.

Há ainda muita gente que prefere fantasiar sobre Neymar.

Toda a festa pela chegada de Neymar ao PSG ficou no passado
Toda a festa pela chegada de Neymar ao PSG ficou no passado Toda a festa pela chegada de Neymar ao PSG ficou no passado

Eric, porque acabou a euforia na França em relação a Neymar?

Por culpa do próprio Neymar. O país ficou eufórico quando foi efetivada sua contratação. E eu revelo no livro que já estava tudo certo em 2016. O PSG já tinha negociado com o pai dele e deixado tudo certo. Foi a imposição do Fair Play financeiro que adiou a transação. O Neymar já sonha em ser o número um do mundo desde que começou a fazer sucesso acima do normal, no Santos. Quando tinha 15, 16 anos, colocou isso na cabeça e foi decisivo ao deixar o Barcelona de Messi. Ele quis ter um clube só voltado para ele. Por isso foi para o PSG.

Só que sua postura individualista fez com que passasse a empolgação. E viessem os questionamentos. Futebol não é tênis. Ter como meta na carreira ser o número um do mundo é algo que não combina com o coletivo. O Iniesta nunca foi número um, mas está no coração de todos. Não se colocou como mais importante do que o clube, como o Neymar está fazendo. Daí o desencanto.

Mas ele revolucionou o futebol francês?

Sem dúvida, dentro do campo, ele é um jogador fantástico. Na história, a França já teve vários talentos, vários ídolos internacionais. Foi assim como Ibrahimovic, Weah, Klinsmann, o Zidane, antes dos anos 2000, antes de brilhar na Espanha. Mas nenhum deles se compara à idolatria do Neymar. Até porque os tempos são outros. Ele trouxe toda a atenção do mundo para o PSG. Essa ligação deveria ser muito mais profunda do que é. Daí a decepção da imprensa, torcida e até diretoria do PSG.

Você trabalha para o L'Équipe, principal jornal esportivo francês, e várias matérias mostraram Neymar com problemas de relacionamento no clube. Por que isso aconteceu?

O Neymar tinha a possibilidade de acabar com os três clãs que dominam o time. Existe o dos brasileiros, com ele, Thiago Silva, Daniel Alves entre outros, o dos franceses e o dos argentinos e uruguaios, que se juntaram. Não existe união de verdade no elenco. E o Neymar não exerce o seu papel. Ele poderia aproximar os três clãs e transformá-los em um. Mas não tem interesse. Ele só está preocupado com a própria carreira. Isso é algo que todos na França já perceberam.

Neymar e o seu clã de brasileiros no PSG. Ele não quis nem aprender a falar francês
Neymar e o seu clã de brasileiros no PSG. Ele não quis nem aprender a falar francês Neymar e o seu clã de brasileiros no PSG. Ele não quis nem aprender a falar francês

Ele sempre foi assim?

Esta é a orientação dada desde o início da carreira pelo pai. Se preocupar com ele, não com o time. Isso reflete até na sua saída do Santos. Eu como jornalista, acho um absurdo o pai de Neymar ter recebido 10 milhões de euros (cerca de R$ 40 milhões) dias antes da final do Mundial. E do próprio Barcelona, o adversário do Santos. Eu até demorei para acreditar que fosse verdade, tamanho o absurdo. Mas foi verdade. Falei com o Léo, ex-capitão do Santos, na época, até hoje ele prefere se recusar a acreditar. Mas o pai do Neymar e ele pensaram na sua carreira. Portanto, não é surpresa que o Neymar siga focado nele e não nos clubes. Seja no Santos, Barcelona ou no PSG. Sempre foi assim.

Você ficará surpreso se ele for para o Real Madrid depois da Copa?

Nem eu e nem a imprensa francesa. Porque sua postura em relação à negociação é outra decepção. Os rumores já crescem desde dezembro. Se ele quisesse colocar um fim, falaria que quer e vai seguir no PSG, que lhe paga 35 milhões de euros (cerca de R$ 150 milhões) por ano. Mas ele faz questão de nunca ser direto. Deixa a conversa prosseguir. O que é frustrante para os franceses.

"Neymar não é mais adolescente. Precisar cortar o cordão umbilical", Eric
"Neymar não é mais adolescente. Precisar cortar o cordão umbilical", Eric "Neymar não é mais adolescente. Precisar cortar o cordão umbilical", Eric

O Neymar foi responsável pela queda do Unay Emery do PSG?

A relação que ele tinha com o Unay era morna. Não havia maior envolvimento. O Unay foi demitido pelo fracasso na Champions. Ele já havia feito o PSG tomar 6 a 1 para o Barcelona na temporada passada. Ficou. E fracassou novamente. Daí veio a troca. O PSG contratou o alemão Thomas Tuchel. E ele tem a personalidade forte, ao contrário do espanhol demitido. Se o Neymar não se adequar haverá problemas. Todos na França já sabem disso. Até mesmo o Neymar.

Você acredita que o Neymar pode prejudicar o Brasil na Rússia? Pelo seu gênio explosivo com árbitros e adversários. E também por seu egoísmo que mostrou quando Dunga era o treinador?

O Neymar precisa respeitar profundamente o técnico para seguir as suas determinações. Com o Dunga ele era o capitão e fazia o que queria. Daí, as expulsões, confusões, futebol individualista. Com o Tite é algo absolutamente diferente. Está claro o respeito que mantém. Coloca o seu futebol de maneira coletiva para a Seleção. Isso é excelente para o Brasil. Não há como negar o talento acima do normal com a bola nos pés. E ele fica produtivo quando é a favor da equipe. Isso faz com que a Seleção Brasileira chegue bem mais forte para a disputa do título. Se o Brasil for campeão, já tenho acordo com a minha editora. Vou escrever dois ou três novos capítulos e farei uma atualização do livro. Estarei na Rússia atento ao que ele fizer.

O livro de Eric sobre Neymar
O livro de Eric sobre Neymar O livro de Eric sobre Neymar

Que conclusão você chegou em relação ao Neymar, depois de escrever o livro?

A de que ele é um guerreiro. Tem um talento fora do comum. Batalhou muito para chegar onde chegou. Enfrentou inúmeras dificuldades. Mas por influência do pai e de sua personalidade, ficou individualista demais. E não faz questão de esconder. Futebol não é tênis. Ele precisa dos companheiros, do clube para seguir brilhando como jogador. 

Por isso, acredito que ele precisa ter coragem de romper de verdade o cordão umbilical com o pai. A influência dele deixou de ser boa há muito tempo. Não há cabimento ele ir para as redes sociais atacar o Casagrande porque chamou o filho de mimado. Neymar já é um homem. Ele pode se defender sozinho. Não é mais um adolescente (tem 26 anos). Está na hora de se emancipar, ser responsável por suas atitudes. Porque sempre há quem o defenda, o proteja. Ele é cercado por gente demais.

Neymar precisa crescer...

Já confundiu muita gente. Conheça um pouco mais do sósia de Neymar

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.