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Cosme Rimoli Copa 2018

"Neymar transformou a euforia em decepção no PSG, em toda França"

O correspondente do L'Equipe e autor do livro 'Neymar, o príncipe do Brasil', Eric Frosio mostra o outro lado da maior esperança na Rússia

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

"Neymar precisa saber que futebol não é tênis. Ninguém joga sozinho", Eric Frosio
"Neymar precisa saber que futebol não é tênis. Ninguém joga sozinho", Eric Frosio

"Houve uma mudança radical na postura da direção, da torcida do PSG e da mídia francesa em relação ao Neymar.

"Passou da euforia da contratação de um top três do mundo à decepção. Não só no PSG. Mas em toda França."

"Por culpa dele.

"Pela falta de envolvimento, o desinteresse de participar de verdade na vida do clube, nas horas mais importantes, na decisão de seguir ou não da Champions.


"Não se interessar nem em aprender a falar francês. 

"E seguir estimulando os rumores que vai para o Real Madrid.


"Neymar cansou os franceses.

"Deixa claro que está no PSG de passagem."


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As declarações são do jornalista francês Eric Frosio, correspondente do L’Équipe e RTL no Brasil. 

Ele é autor do livro Neymar, o Príncipe do Brasil. 

Depois de ouvir as pessoas mais importantes na vida do principal jogador brasileiro da autualidade, ele chegou à conclusões frias e que contrastam com o ufanismo, principalmente agora, às vésperas da Copa do Mundo.

Eric é firme, não esconde sua opinião, nas entrevistas que deu sobre o livro. Explica porque Neymar não é o ídolo que poderia ser. 

"Por seu comportamento, sua falta de maturidade. Já era assim com 19 ou 20 anos no Santos, mas era mais jovem, estava crescendo e aqui as pessoas gostavam dessas atitudes. Agora é maior, considerado o terceiro melhor jogador do mundo, tem um poder financeiro e uma imagem incríveis... Tem mais seguidores que muitos países do mundo tem de habitantes. Deveria comportar-se de uma forma mais discreta. Mbappé, que tem 19 anos, parece mais maduro."

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Mas acredita que essa postura seja influência do pai do jogador.

"Todas as pessoas que eu conheci e que viveram essa transformação de vida me disseram que ele (Neymar Pai) mudou muito, que se perdeu por culpa do dinheiro, do sucesso, das mulheres... E que ele pode ser um problema para a trajetória do filho. Neymar precisa cortar o cordão umbilical. Não pode seguir deixando o pai decidir seu futuro."

Na conversa exclusiva com o blog, não poderia ser mais direto.

Talvez essa transparência tenha assustado as editoras brasileiras, que se interessaram pelo livro. Mas não fecharam contrato com a publicação, que só saiu na França.

Há ainda muita gente que prefere fantasiar sobre Neymar.

Toda a festa pela chegada de Neymar ao PSG ficou no passado
Toda a festa pela chegada de Neymar ao PSG ficou no passado

Eric, porque acabou a euforia na França em relação a Neymar?

Por culpa do próprio Neymar. O país ficou eufórico quando foi efetivada sua contratação. E eu revelo no livro que já estava tudo certo em 2016. O PSG já tinha negociado com o pai dele e deixado tudo certo. Foi a imposição do Fair Play financeiro que adiou a transação. O Neymar já sonha em ser o número um do mundo desde que começou a fazer sucesso acima do normal, no Santos. Quando tinha 15, 16 anos, colocou isso na cabeça e foi decisivo ao deixar o Barcelona de Messi. Ele quis ter um clube só voltado para ele. Por isso foi para o PSG.

Só que sua postura individualista fez com que passasse a empolgação. E viessem os questionamentos. Futebol não é tênis. Ter como meta na carreira ser o número um do mundo é algo que não combina com o coletivo. O Iniesta nunca foi número um, mas está no coração de todos. Não se colocou como mais importante do que o clube, como o Neymar está fazendo. Daí o desencanto.

Mas ele revolucionou o futebol francês?

Sem dúvida, dentro do campo, ele é um jogador fantástico. Na história, a França já teve vários talentos, vários ídolos internacionais. Foi assim como Ibrahimovic, Weah, Klinsmann, o Zidane, antes dos anos 2000, antes de brilhar na Espanha. Mas nenhum deles se compara à idolatria do Neymar. Até porque os tempos são outros. Ele trouxe toda a atenção do mundo para o PSG. Essa ligação deveria ser muito mais profunda do que é. Daí a decepção da imprensa, torcida e até diretoria do PSG.

Você trabalha para o L'Équipe, principal jornal esportivo francês, e várias matérias mostraram Neymar com problemas de relacionamento no clube. Por que isso aconteceu?

O Neymar tinha a possibilidade de acabar com os três clãs que dominam o time. Existe o dos brasileiros, com ele, Thiago Silva, Daniel Alves entre outros, o dos franceses e o dos argentinos e uruguaios, que se juntaram. Não existe união de verdade no elenco. E o Neymar não exerce o seu papel. Ele poderia aproximar os três clãs e transformá-los em um. Mas não tem interesse. Ele só está preocupado com a própria carreira. Isso é algo que todos na França já perceberam.

Neymar e o seu clã de brasileiros no PSG. Ele não quis nem aprender a falar francês
Neymar e o seu clã de brasileiros no PSG. Ele não quis nem aprender a falar francês

Ele sempre foi assim?

Esta é a orientação dada desde o início da carreira pelo pai. Se preocupar com ele, não com o time. Isso reflete até na sua saída do Santos. Eu como jornalista, acho um absurdo o pai de Neymar ter recebido 10 milhões de euros (cerca de R$ 40 milhões) dias antes da final do Mundial. E do próprio Barcelona, o adversário do Santos. Eu até demorei para acreditar que fosse verdade, tamanho o absurdo. Mas foi verdade. Falei com o Léo, ex-capitão do Santos, na época, até hoje ele prefere se recusar a acreditar. Mas o pai do Neymar e ele pensaram na sua carreira. Portanto, não é surpresa que o Neymar siga focado nele e não nos clubes. Seja no Santos, Barcelona ou no PSG. Sempre foi assim.

Você ficará surpreso se ele for para o Real Madrid depois da Copa?

Nem eu e nem a imprensa francesa. Porque sua postura em relação à negociação é outra decepção. Os rumores já crescem desde dezembro. Se ele quisesse colocar um fim, falaria que quer e vai seguir no PSG, que lhe paga 35 milhões de euros (cerca de R$ 150 milhões) por ano. Mas ele faz questão de nunca ser direto. Deixa a conversa prosseguir. O que é frustrante para os franceses.

"Neymar não é mais adolescente. Precisar cortar o cordão umbilical", Eric
"Neymar não é mais adolescente. Precisar cortar o cordão umbilical", Eric

O Neymar foi responsável pela queda do Unay Emery do PSG?

A relação que ele tinha com o Unay era morna. Não havia maior envolvimento. O Unay foi demitido pelo fracasso na Champions. Ele já havia feito o PSG tomar 6 a 1 para o Barcelona na temporada passada. Ficou. E fracassou novamente. Daí veio a troca. O PSG contratou o alemão Thomas Tuchel. E ele tem a personalidade forte, ao contrário do espanhol demitido. Se o Neymar não se adequar haverá problemas. Todos na França já sabem disso. Até mesmo o Neymar.

Você acredita que o Neymar pode prejudicar o Brasil na Rússia? Pelo seu gênio explosivo com árbitros e adversários. E também por seu egoísmo que mostrou quando Dunga era o treinador?

O Neymar precisa respeitar profundamente o técnico para seguir as suas determinações. Com o Dunga ele era o capitão e fazia o que queria. Daí, as expulsões, confusões, futebol individualista. Com o Tite é algo absolutamente diferente. Está claro o respeito que mantém. Coloca o seu futebol de maneira coletiva para a Seleção. Isso é excelente para o Brasil. Não há como negar o talento acima do normal com a bola nos pés. E ele fica produtivo quando é a favor da equipe. Isso faz com que a Seleção Brasileira chegue bem mais forte para a disputa do título. Se o Brasil for campeão, já tenho acordo com a minha editora. Vou escrever dois ou três novos capítulos e farei uma atualização do livro. Estarei na Rússia atento ao que ele fizer.

O livro de Eric sobre Neymar
O livro de Eric sobre Neymar

Que conclusão você chegou em relação ao Neymar, depois de escrever o livro?

A de que ele é um guerreiro. Tem um talento fora do comum. Batalhou muito para chegar onde chegou. Enfrentou inúmeras dificuldades. Mas por influência do pai e de sua personalidade, ficou individualista demais. E não faz questão de esconder. Futebol não é tênis. Ele precisa dos companheiros, do clube para seguir brilhando como jogador. 

Por isso, acredito que ele precisa ter coragem de romper de verdade o cordão umbilical com o pai. A influência dele deixou de ser boa há muito tempo. Não há cabimento ele ir para as redes sociais atacar o Casagrande porque chamou o filho de mimado. Neymar já é um homem. Ele pode se defender sozinho. Não é mais um adolescente (tem 26 anos). Está na hora de se emancipar, ser responsável por suas atitudes. Porque sempre há quem o defenda, o proteja. Ele é cercado por gente demais.

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