Com coração e talento, a Croácia rompe a tradição
Os croatas superaram a terceira prorrogação seguida. E ganharam, de virada, dos ingleses. 2 a 1. E farão a inesperada final contra a França
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
Moscou, Rússia
Heróicos, vibrantes, implacáveis. Qualquer adjetivo
épico vale. O que os jogadores da Croácia acabam de fazer em Moscou é histórico.
De virada, venceram o desgaste de três prorrogações seguidas. Viraram a semifinal contra a Inglaterra porf 2 a 1. E se tornaram a grande surpresa da Copa da Rússia.
No domingo farão uma das finais mais improváveis da história. Levaram o Leste europeu para a final do Mundial contra a França.
A Croácia tinha uma signficativa desvantaagem em relação à Inglaterra. E o treinador Garen Southgate sabia.
Em um torneio curto como a Copa do Mundo, duas prorrogações e decisões por pênaltis, nas oitavas, contra a Dinamarca e nas quartas, diante da Rússia iriam pesar.
Não só no lado físico, mas no psicolóagico.
Os ingleses trataram de buscar aproveitar a vantagem física. A marcação na saída de bola croata era fortíssima. E na retomada, os contragolpes em velocidade, em bloco.
O plano tático de Zlatko Dailc era tentar impor o toque de bola, a movimentação impressionante que Modric e Rakitic impunham nas intermediárias. Buscar infiltrações e lançamentos aéreos para o tanque de guerra chamado Mandzukic.
Mas os deuses do futebol sorriam para os ingleses. Nem se Southgate tivesse escrito o roteiro do jogo, não teria sido tão generoso com seu time. Em uma troca de bola com velocidade e objetiva, Lingard serviu Dele Alli. Na entrada da área, de frente para o gol. Modric se precipitou e o derrubou.
Falta perigosíssima. O melhor direto da Copa do Mundo, Trippier cobrou com perfeição. Bola com curva, por cima do segundo homem da barreira, como ensinava Zico. Subasic estava dois passos à mais à direita. Foi impossível sequer tocar na bola. Gol da Inglaterra, aos quatro minutos de jogo.
Pronto. Era o que os britânicos sonhavam. A desgastada Croácia teria de correr atrás do resultado. O time de Southgate se postou na da intermediária para trás. Não havia espaço para as arrancadas, os dribles, as tabelas dos croatas. Principalmente Modric tinha sua vida dificuldada pelo forte poder de recomposição.
Faltava à Croácia jogadas pelas laterais. O time insistia em tentar jogar pelo meio, facilitando a marcação inglesa. De nada adiantava ter na frente Mandzucic se as bolas eram levantadas da intermediária. Walker e Stones saíram da partida com dor de cabeça, de tanto testar a bola.
Os ingleses seguiram pragmáticos, frios. Só saindo para o jogo com a sua defesa montada, organizada.Conseguiam proteger sua intermediária e buscavam os contragolpes em bolas esticadas para a velocidade de Sterling e Young. O badalado Harry Kane, artilheiro da Copa, ficava esperando uma sobra de bola.
Faltava poder de fogo aos croatas. A Inglaterra conseguia travar a partida nas intermediárias.
No segundo tempo, Dalic tratou de adiantar seu meio de campo. A ordem era travar qualquer saída de bola. O desejo era empatar a partida o mais rápido possível. Só que os ingleses seguiram firmes. Cinco jogadores atrás, quatro na intermediária e Kane na frente. Para tentar imprensar, forçar o erro do adversário.
Se não havia como organizar a tabela, a penetração, o método mais simples era levantar a bola na área. E o lance deu certo. Por arrojo de Perisic. Ele não esperou Walker fazer a pose para cabecear. Entrou com o pé esquerdo, convicto. E conseguiu antecipar o cruzamento de Vrsaljko. 1 a 1, aos 22 minutos.
Os ingleses sentiram o empate. E os croatas ficaram confiantes. Lutariam pela virada histórica. E ela quase saiu, depois de uma jogada individual de Perisic. Ele se aproveitou de um falha de Stones, que pegou mal na bola. Dominouy, pedalou e acertou a trave esquerdo do assustado goleiro Pickford.
A pressão croata seguiu até o final do segundo tempo. Os ingleses tiveram muita sorte em não tomar a virada. Faltou apenas convicção nos arremates. O domínio foi amplo, total, irrestrito.
Mas faltou o gol.
A Croácia chegava à sua terceira prorrogação consecutiva.
A Inglaterra conseguiu colocar os nervos no lugar. Adiantou suas linhas e contou também com o cansaço croata. O jogo estava equilibrado.
E um escanteio, quase a Inglaterra faz seu segundo gol. Stones cabeceou livre, a bola iria entar. Mas Vrsaljko salvou em cima da linha, de cabeça também, aos oito minutos. No último minuto do primeiro tempo da prorrogação, Pickford abafou Mandzukic, entrou livre na pequena área.
O jogo seguia imprevisível.
Até que aos dois minutos, a bola foi levantada na área inglesa, Raktik a recolocou de cabeça. Mandzukic surgiu como um raio, se aproveitando de bobeada incrível de Stones, que não o acompanhou. O atacante acertou chute fortissimo, cruzado, indefensável.
2 a 1, Croácia.
Os ingleses abandonaram qualquer estratégia e tentaram empatar no coração. Mas os croatas seguiram bem postados, com personalidade. E se transformaram na grande surpresa da Copa da Rússia.
Farão a final, domingo, contra a França...