A Globo segue refém de Galvão Bueno. Ele narra a Copa de 2022
A emissora 'criou um monstro'. No futebol não há ninguém pronto para substituir o vaidoso narrador. A saída é seguir com ele até os 72 anos
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
São quatro Copas do Mundo seguidas transmitindo fracassos.
Seu grande parceiro cansou.
Depois de 25 anos, Arnaldo Cezar Coelho vai se aposentar.
Termina seu ciclo como comentarista de árbitros no fim do ano.
A Rússia foi desgastante demais para os seus 75 anos
A voz rouca já é não é mais a mesma.
A bola não é acompanhada mais de pé em pé.
Assim como as narrações se transformaram mais em comentários.
Truque inteligente para se poupar.
Aos 68 anos, completados hoje, 21 de julho, Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno vive um impasse. Contratado pela Globo em 1981, passou um ano, em 1992, na lucrativa e fracassada aventura no futebol da rede paranaense rede OM (atual CNT). Voltou em 1993. São 36 anos como principal narrador.
Desde que trabalhava em uma fábrica de materiais plásticos, em 1973, ele sonhava em ser comentarista esportivo, não narrador. A voz grave, a entonação emocionante, o tempo de respiração, foram desevolvidos com a ajuda da mãe, Mildred dos Santos, atriz importante da transição do interesse da população do rádio para a tevê, na década de 50.
Só que as correntes de couro, os beijos na boca de Pedro Bial, as incursões no humoristíco de Marcelo Adnet, não são suficientes para disfarçar que o tempo passou.
O fôlego não é mais o mesmo.
Basta comparar a narração de um gol, com trinta, vinte, dez anos atrás.
Galvão Bueno é muito inteligente.
Sabe que tem a imagem a preservar.
Por isso, pensava em comentar, se tornar um apresentador especial nas principais transmissões de futebol, de Fórmula 1 ou dos principais esportes na Olímpiada de Tóquio, em 2020. Ou ter um programa de entrevistas com os principais esportistas do Brasil e do mundo. Adaptação para a tevê aberta do que já faz no Sportv, com o Bem, Amigos.
Seu contrato termina em julho de 2022, quando completará 72 anos.
Na África do Sul, em 2010, deixou escapar que seria a última Copa que narraria fora do Brasil. Seu sonho dourado era transmitir o Mundial de 2014, com a vitória da Seleção e encerrar a carreira no auge.
Só que o time de Felipão deu o enorme vexame dos 7 a 1 contra a Alemanha, acabou em quarto. E Galvão Bueno percebeu que sua motivação continuou forte para continuar. Pelo mesmo motivo que o fez ontem, em entrevista, ao canal do Youtube do filho, garantir que não vai se aposentar tão cedo.
De acordo com a colunista Keyla Gimenez, ele tem mais de cinco milhões de motivos para seguir. Seu salário mensal alcançaria, de acordo com a muito bem informada colunista, nos R$ 5 milhões a cada 30 dias.
Só que, seguindo nas transmissões, Galvão deverá ter um substancial aumento. Diante da crise financeira que domina o Brasil, a emissora vai acabar cedendo a ofertas milionárias da publicidade. Pedro Bial já coloca sua voz em propagandas de um banco. Há um acordo de divisão de verba entre o apresentador e a Globo.
A possibilidade de maior lucro mensal será apresentada a Galvão. Ele poderá emprestar a narração a uma marca multinacional esportiva, a um carro ou a uma rede de fast food, por exemplo.
Executivos globais administram há décadas a corrida, por enquanto inútil, na busca do substituto de Galvão Bueno. Luís Roberto está atualmente na frente de Cléber Machado. Por isso narrou a semifinal da Copa entre Inglaterra e Bélgica. Os bordões e a emoção que trouxe do rádio cativaram o público.
Mas esta briga é volúvel. Na emissora carioca já acreditaram que a descontração de Milton Leite seria ideal. Depois, apostaram na sobriedade, na juventude de Gustavo Villani, que tiraram do Fox Sports. Cléber Machado e Luís Roberto seguem sempre por perto. É como se fosse a corrida dos cavalinhos de pelúcia que a emissora eternizou nos Campeonatos Brasileiros.
Só que todos juntos não alcançam o carisma de Galvão.
Ele segue disparado a voz e a imagem do futebol da emissora.
A Globo criou um monstro que tem medo de se livrar.
Como o narrador ficou com os melhores eventos nas últimas décadas, tudo o que ele transmite traz uma aura de especial. A conclusão é do jornalistas e sociólogo Ali Kamel, diretor geral de Jornalismo e Esportes da Globo.
Kamel não quer a aposentadoria de Galvão.
O deseja, se conseguir manter o padrão de sua voz, até 2022.
Estar no Catar no cargo que o consagrou.
Nestes quatro anos, amadurecerá Villani e estimulará o eterno duelo entre Luís Roberto e Cléber Machado.
Não há o que fazer.
A emissora segue refém da figura de Galvão Bueno.
A Globo pode até fazer alguns testes o colocando como comentarista. Só que há a certeza que ele não deixará espaço para Casagrande, Júnior, Caio e Roger, ex-jogadores. Nenhum narrador teria autoridade para cortar uma explanação de Galvão, seria problemático. Ele comanda as transmissões há 36 anos.
Há, porém, um desejo. O de reaproximação do narrador de Neymar, o principal jogador do Brasil. As duras críticas de Galvão magoaram o atacante e o seu pai.
A ideia é clara, como diria Arnaldo César Coelho.
Galvão segue narrando, preservado aos grandes eventos.
E a emissora busca em quatro anos um substituto.
Com direito a mais dinheiro ao narrador, com as propagandas.
Galvão seguirá com os jogos do Brasil até os 72 anos.
É a melhor saída.
Para alegria dos aliados.
E dos críticos.
Este é o presente de aniversário de Galvão Bueno...