Interpretação e pressão externa: os pontos que geram debate no VAR

Reclamação de jogadores, ironia e irritação de treinadores: VAR gera debate - com ou sem fundamento - no Brasil, e o LANCE! mostra alguns pontos

15/04/2019 - 11h26 (Atualizado em 21/02/2024 - 14h25)

O VAR foi protagonista nas finais estaduais que aconteceram neste domingo. Entre reclamações, soluções e até piada pelo desligamento elétrico, o árbitro de vídeo ficou marcado na decisão do Campeonato Carioca - anulando o gol de Bruno Henrique -, no Campeonato Paulista - com gritos de vergonha - e em outros estados,veja alguns pontos que tem virado debate, nestas e em outras partidas no futebol brasileiro. Confira!

Leia também

A DECISÃO É DE QUEM?

A utilização do VAR é clara nesse sentido: a decisão final é do árbitro de campo, mas os auxiliares podem ajudá-lo na marcação.

Dentro das quatro linhas, no entanto, uma das principais reclamações feitas por jogadores e treinadores é que o árbitro já está intencionado a mudar de posição quando é acionado pelo recurso. É o caso, por exemplo, do técnico Felipão, do Palmeiras, que reclamou na semifinal do Campeonato Paulista.

‌

- Eu já disse uma vez, que não tem o que falar. Todos estão vendo que quem manda no jogo é quem está na cabine. Se assobiar na cabine, o cara troca aqui. O árbitro não manda mais nada, zero, ele não toma decisão nenhuma. Ele está esperando que o lá de cima fale alguma coisa. Ele não tem autoridade mais nenhuma. Zero. Não é pelo jogo de hoje. Está sendo assim em todo lugar. Aqui, no Rio - declarou.

DEMORA PARA TOMADA DE DECISÃO

‌

Foram três minutos e 12 segundos de demora para os auxiliares de vídeo analisarem o lance em que foi anotado impedimento do atacante Deyverson no empate por 0 a 0 contra o São Paulo, no Allianz Parque. Isso gerou reclamação no Campeonato Paulista, mas é um problema nacional - muito pela falta de costume com o recurso.

Veja mais: Entenda como será usado o VAR no Paulista e no Brasileirão

‌

Ainda se demora muito para tomar decisões. Os 192 segundos superam o tempo considerado ideal pela Fifa, que é de menos de 60 segundos. Entretanto, o relatório de utilização do VAR apresentado pela Fifa mostra que se perde mais tempo com tiros de meta, cobranças de falta e laterais que na utilização do recurso.

LANCES INTERPRETATIVOS

Esse tem sido - de longe - o principal problema dos árbitros porque, claramente, não há uma decisão matemática. Interpretação não é sim ou não, é talvez. E o talvez no futebol brasileiro, historicamente, é carregado de confusão, polêmica e reclamação. No Campeonato Carioca, dois lances interpretativos viraram problemas para o VAR.

Veja mais: 'Eu estava impedido, por isso não deram pênalti', diz Love sobre VAR

Na semifinal da Taça Rio, o gol de Léo Santos, do Fluminense, contra o Flamengo, foi anulado devido uma suposta falta de Matheus Ferraz no lance. A decisão dividiu opiniões, mas o árbitro viu falta. Assim como na decisão do torneio, neste domingo, onde o tento de Bruno Henrique foi anulado por impedimento, mas muitos defendem que a rebatida de Werley iniciou uma nova jogada.

VELOCIDADE VISTA NO VAR

O Cruzeiro sofreu um enorme prejuízo durante o jogo contra o Boca Juniors, pelas quartas de final da Libertadores. Depois de um choque entre Dedé e Andrada, o zagueiro da Raposa acabou expulso pelo árbitro Eber Aquino. O cartão vermelho saiu após o VAR ser acionado.

Veja mais: VAR é aprovado por unanimidade e deve estrear no Brasileirão

Mas, a polêmica foi pela velocidade em que o árbitro viu o lance. Nas câmeras que mostraram o replay, ficou claro que a velocidade - mais lenta que o normal - deram a entender que o choque foi intencional. Pouco depois, isso foi corrigido e os lances em velocidade normal também passaram a ser exibidas.

QUALIDADE DE IMAGEM NO VAR

No Campeonato Paulista, a FPF classificou a jogada do gol do Novorizontino, que abriu o placar no empate por 1 a 1 contra o Palmeiras, como normal por não ter toque de braço de Murilo Henrique na bola. A Federação divulgou vídeo com ângulo específico para sustentar a tese, mas o Palmeiras reclamou de forma acintosa.

Enquete: Você é a favor do uso do VAR no Brasileirão 2019?

O ângulo apresentado foi diferente do usado pelo clube paulista para se queixar de que a arbitragem não deveria ter validado o gol. Além disso, a qualidade da imagem - muito baixa quando comparado com a televisão - chamou atenção. Na sequência, voltou a chamar o torneio de "Paulistinha".

TUMULTUO ENTRE JOGADORES E TÉCNICOS

Mesmo com o VAR, a reclamação rola solta no futebol brasileiro. Tudo é motivo para questionar a decisão ou pedir para o árbitro observar o vídeo. Isso tem criado um clima de nervosismo nas partidas em que o recurso está presente - principalmente fases finais de torneios. Os próprios técnicos tem sido advertidos com frequência pela exaltação durante as partidas.

Veja mais: Lugano critica arbitragem na final do Paulistão: 'Não há limites'

No documento divulgado pela Fifa, diz que o jogador que pedir o uso do VAR sem a concordância da arbitragem pode ser punido com cartão amarelo, mas isso é pouco visto no Brasil. Por outro lado, rodinhas de reclamações são frequentes a cada partida. O árbitro acaba virando um refém da ferramenta.

PRESSÃO NOS ÁRBITROS

Incomodada com o clima hostil em torno dos árbitros, a Ferj alterou o posicionamento do monitor do árbitro de vídeo no Maracanã. Inicialmente presente na saída do túnel de acesso ao vestiário, a tela foi instalada na linha lateral oposta. No Fla-Flu da semifinal da Taça Rio, ambos os bancos ficaram pressionando o árbitro durante as suas revisões.

COMEMORAÇÕES EM VÃO

Luan, do Atlético-MG, teve dois gols anulados contra o Boa Esporte, na semifinal do Campeonato Mineiro. Pouco depois, disparou contra o recurso, dizendo que "não sabe se comemora o gol ou não". Essa reclamação não é de agora, tendo outros jogadores que também questionaram sobre o atraso nas comemorações de gols no futebol brasileiro.

Final é sinônimo de clássico? Confira as zebras dos Estaduais pelo Brasil

Relegados por muitos clubes de grande expressão, tidos como uma pré-temporada estendida ou chamados no diminutivo, graças à sua suposta perda de relevância no cenário nacional, os estaduais chegam ao seu ápice nesta semana, com finais repletas de clássicos Brasil afora.

Mas se engana quem pensa que em todos os estados a dominância foi total dos times tradicionais. Até mesmo em locais com dois clubes que disputam as divisões principais do Brasileirão, houve casos das famosas zebras.

A expressão "zebra" talvez soe como um desmerecimento ao grande campeonato que estas equipes de menor expressão fizeram em seus respectivos estados neste ano para alcançar o confronto mais esperado da história para alguns.

Veja a seguir quem são as surpresas nas finais de estaduais neste ano

Campeonato Paranaense — Athletico x Toledo

Com apenas 15 anos de existência e três rebaixamentos para a divisão de acesso estadual, o Toledo alcançou sua primeira final no Paraná neste ano, desbancando o tradicional Coritiba na final do primeiro turno (Taça Barcímio Sicupira Júnior). Na segunda etapa do campeonato, a equipe do oeste paranaense não conseguiu manter o bom rendimento e acabou em último. Mas, graças ao título do primeiro turno, o Porco disputa as duas partidas mais importantes de sua história nos próximos dois domingos (14 e 21 de abril).

Campeonato Baiano — Bahia x Bahia de Feira

Mais tradicional e até com um título estadual no currículo, o Bahia de Feira foi o time com maior pontuação durante a primeira fase do campeonato e, enfrentando o quarto colocado na semifinal, honrou esta campanha e chegou ao confronto final passado pelo Vitória da Conquista. O mais esperado aqui seria um "Ba-Vi", mas o Vitória não conseguiu nem chegar às semifinais, ficando nas últimas cinco rodadas, sem vitória.

Campeonato Paraense: Remo x Independente

Outro clube com uma taça do estado em sua galeria, o Independente venceu o favorito Paysandu na semifinal e impediu o que seria o terceiro clássico Re-Pa consecutivo a decidir o campeão no Pará. A equipe de Tucuruí terminou a primeira fase em segundo no grupo A2, atrás daquele que viria a ser seu rival na fase seguinte. O Papão da Curuzu foi também derrotado pelo Galo elétrico na final de seu único título no estado, em 2011.

Campeonato Piauiense: River x Altos

Apesar de ser o atual campeão no Piauí, o Altos é um clube muito jovem. Com 6 anos de fundação, teve a terceira melhor campanha da primeira fase, despachou o 4 de Julho na semi e agora enfrenta um dos clubes mais tradicionais do estado e maior vencedor da história do estadual na final. O segundo na lista de título, Flamengo-PI, não conseguiu alcançar pontuação suficiente para jogar a semifinal. O jogo deste sábado (13) definirá o novo campeão, já que, na quarta-feira (10), as duas equipes já se enfrentaram e o River venceu por 3 a 2.

Campeonato Sergipano: Frei Paulistano x Itabaiana

Falando em clubes jovens, mas que já escrevem seu nome na história do futebol em seu estado, o Frei Paulistano, em seu terceiro ano de vida, já chega ao principal jogo de Sergipe. Confronto este que será o que é tido como um clássico local, o chamado "Agresteiro". Os dois maiores vencedores do estado, Sergipe — com 35 títulos — e Confiança — com 21 —, foram eliminados no hexagonal da segunda fase.

Campeonato Maranhense: Imperatriz x Moto Clube

Com dois títulos no século — 2005 e 2015 — o Imperatriz vem jogando para se posicionar entre os grandes do estado. Mas, por enquanto, eliminar o maior campeão do estado — Sampaio Corrêa, com 33 títulos — na semi, o coloca na final contra o segundo maior vencedor como um inevitável azarão, apesar de ter feito a segunda melhor campanha na primeira fase, atrás apenas do próprio Moto Clube. Após empate por 0 a 0, timer se enfrentam neste sábado (13) para definir quem fica com o troféu em 2019.

Campeonato Sul-Mato-Grossense: Aquidauanense x Águia Negra

Neste caso, os dois finalistas são surpreendentes. Os dois maiores campeões — Operário, com 11 títulos, e Comercial, com 9 — ficaram pelo caminho, ambos derrotados pelo atual campeão, Aquidauanense. Já o Águia teve caminho mais tranquilo até a final e busca seu terceiro título estadual.

Campeonato Amazonense: Manaus x Fast

Apesar de não serem os maiores campeões do estado e não terem grande história, não se pode dizer que esta é uma final inesperada. Isto graças ao histórico recente de ambos os clubes, que venceram o campeonato estadual em 2016 (Fast), 2017 e 2018 (Manaus). O atual campeão se aproveitou do regulamento para vencer o segundo turno e eliminar o maior campeão do estado, o Nacional. Já o Fast garantiu seu lugar na final já no primeiro turno, em cima do Penarol.

Relegados por muitos clubes de grande expressão, tidos como uma pré-temporada estendida ou chamados no diminutivo, graças à sua suposta perda de relevância no cenário nacional, os estaduais chegam ao seu ápice nesta semana, com finais repletas de clássicos Brasil afora. Mas se engana quem pensa que em todos os estados a dominância foi total dos times tradicionais. Até mesmo em locais com dois clubes que disputam as divisões principais do Brasileirão, houve casos das famosas zebras. A expressão "zebra" talvez soe como um desmerecimento ao grande campeonato que estas equipes de menor expressão fizeram em seus respectivos estados neste ano para alcançar o confronto mais esperado da história para alguns. Veja a seguir quem são as surpresas nas finais de estaduais neste ano