Neymar exagera e cria armas contra si ao jogar intimidade no ventilador
Sem necessidade, craque divulga nudes e diálogos quentes com mulher. Deveria ter guardado para a Justiça, até porque poderá pagar nos tribunais
Futebol|Eduardo Marini, do R7
Neymar, como o mundo soube há pouco, divulgou um vídeo de sete minutos e um segundo defendendo-se da acusação de estupro feita por uma brasileira que o encontrou em um hotel chique de Paris no último dia 15 de maio.
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Para início de conversa, vamos lá: então um homem adulto, de 27 anos, milionário, midiático até a medula, pai de um filho, viajado, calejado em experiências e relacionamentos pelos quatro cantos do mundo, acostumado à fama, promotor de badalos extremos e plenamente acostumado à avalanche de gente e acontecimentos que orbitam em torno dessas situações troca mensagens com uma mulher, paga para ela passagens Brasil-França-Brasil, a hospeda em um hotel de luxo em Paris, os dois passam uma noite juntos e, depois, ele argumenta ter caído em uma armadilha?
Ah, tá. Mas vamos ao mais grave e importante: o filme é outro exemplo do desastre que tem pautado os comunicados e reações públicas de Neymar e de sua família nos episódios em que são acusados de algo negativo.
Uma combinação nada delicada – e em alguns momentos grotesca – de aparente falta de conhecimento, bom senso, limite e capacidade de escolha de recursos e linguagem adequados a cada situação.
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E o mais constrangedor: tudo isso diante de assessorias que parecem não saber como (e passam a sensação de não receberem abertura profissional para) orientar o craque, seu pai e os que flanam em torno da família a adotar linguagem, tratamentos e posturas públicas compatíveis com o conglomerado em que o jogador e sua família se transformaram.
Neymar, como qualquer cidadão do planeta, pode, deve e tem todo direito de reunir provas e, com elas, se defender na Justiça e perante à sociedade. Mas nunca sem sentido público, refinamento e sensibilidade, como vimos uma vez mais neste episódio.
Na primeira parte do filme, Neymar apresenta seus argumentos e destaca não ter interesse em divulgar “a intimidade do encontro entre um homem e uma mulher” pelo motivo óbvio da preservação da privacidade.
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O curioso é que, a partir do quarto minuto, tudo – rigorosamente tudo – o que se vê é, no extremo contrário do que ele disse querer evitar, um despejo em praça pública despropositado, mal calculado e literalmente in natura, para usar a primeira expressão adequada ao momento, da privacidade e intimidade das duas partes envolvidas.
Ali estão mensagens trocadas e fotos da moça à vontade em roupas íntimas – com “Ney” e coraçãozinho romântico pintado no alto de um dos seios, entre otras cositas más. Há também frases do antes, em pleno preparo para transformação do carvão em brasa, do naipe de “tudo o que mais desejo é satisfazer você”, “vai gostar ainda mais da massagem que eu vou te fazer”, “resumo da história: eu sou a presa, você é o caçador” e “vou deixar essa b... perfeita para você”, ditas pela moça, que, registremos, mostrou-se, ao menos nos aplicativos, tomada por temperaturas consideravelmente mais elevadas do que as exibidas pelo habilidoso rapaz.
Talvez um ventilador ou ar condicionado do hotel tenha sido útil ao casal, em algum momento, para amenizar tamanha caloria – mas nunca deveria ter servido de plataforma de lançamento do material de exposição negativa - e rigorosamente desnecessária - da intimidade da moça e do próprio Neymar.
Entre outras façanhas, o jogador chega a publicar uma imagem do derrière, ou da b... da moça, como a dupla deixou a entender que prefere, rigoramente desprotegido, ao domínio imperioso do vento, como no dia da palmada de nascimento, a exibir o contraste acentuado da marca clara do fio dental a dividir a pele escurecida pelo bronzeado.
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E que não se use como argumento a constatação de que a divulgação quase erótica, sem cortes, cuidados ou censura etária, serviu ao intuito de mostrar que a moça, a rigor, curtiu tudo, deu like no Face, tocou o sininho, continuou a mandar mensagens carinhosas ao craque nos dias seguintes, não se queixou à polícia ou à justiça francesa e, depois, veio com o papo de estupro no Brasil.
Não, não vale. Tudo isso é verdade e, de fato, soa bastante estranho. Mas Neymar e os seus assessores obviamente deveriam ter se limitado a esclarecer sobre a posse de provas consistentes da falsidade da denúncia, prometer apresentá-las à Justiça e anunciar a espera pela chegada da verdade à tona.
Poderiam até informar rapidamente, com bom senso e sem apresentar provas explícitas (oooopa...), que a moça continuou a manifestar carinho e vontade de rever o jogador mesmo após o encontro, o que tornaria esquizofrênica a denúncia posterior de estupro – mas nada além disso.
Mesmo porque, com o material exibido (oooooopa...), a não ser que a moça e seus defensores tenham argumentos, indícios e provas concretas em sentido contrário, será muito difícil Neymar ser enquadrado em crime de estupro.
Talvez até responda, se for o caso, por ter exibido fotos da moça em tamanha sintonia com a natureza, mas não por essa denúncia. Por sinal, Neymar e os seus sequer tiveram o cuidado de tirar a imagem de seu filho da tela do celular em que as mensagens foram divulgadas. A foto do menino entre um e outro é mais um simbolismo irônico desse conjunto de desacertos.
Neymar não é criança – e o argumento de que devia ou não confiar em uma mulher, ou em qualquer um que se aproxime dele, é machista e reprodutor (ooopa...) do erro de achar que um camarada dessa dimensão está sempre, em rigorosamente todos os casos, na posição de vítima de botes dos “mal-intencionados” que voam em torno dele como se fossem insetos em volta da lâmpada, para usar o verso do poeta.
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Cada vez mais, a vida mostra que o que se tem, em situações envolvendo gente do porte de Neymar, é exatamente do contrário. No mundo da batalha diária, gente com recursos infinitamente inferiores se defende ou escapa de situações bem mais complicadas e comprometedoras com dignidade e sabedoria.
Outro detalhe: os fatos parecem desmentir a surpresa revelada por Neymar com a denúncia. Seu pai disse ter sido procurado em sua casa, em São Paulo, antes do caso estourar, por representantes da moça, em busca de dinheiro para, supostamente, abafar a situação e “deixar tudo por isso mesmo”.
Quanto aos exageros de Neymar e de seus assessores no episódio, eles trazem à luz, uma vez mais, a brutalidade e a insensatez historicamente características de boa parte do mundo do futebol. Tão características que levam uma parcela grande de seus atores a achar desnecessária a tarefa mera de corrigir ou amenizar essas reações. “Ah, é assim mesmo; futebol sempre foi dessa forma, na pancada...”. Triste.
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