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Ídolo Sávio acompanha Flamengo no Qatar: 'É meu clube de coração'

Ex-atacante falou sobre a carreira, desde a chegada ao Rio de Janeiro, ainda menino, vindo do Espírito Santo, para se consagrar no Rubro-Negro

Futebol|Eugenio Goussinsky, do R7

Dribles e velocidade eram o forte de Sávio
Dribles e velocidade eram o forte de Sávio Dribles e velocidade eram o forte de Sávio

Se fosse uma novela, o enredo não poderia ser mais atraente. Um menino desembarca no Rio de Janeiro, vindo de cidade pequena. Seu deslumbramento se mistura à apreensão diante dos carros, do movimento, da balbúrdia do asfalto em permanente diálogo com a natureza.

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O Rio é assim. Desafia com sua beleza, sua sensualidade, mas também sua perigosa malícia. Lá se dão bem aqueles que se abrem para sua própria natureza, expressando, em qualquer atividade, suas potencialidades.

Sávio até hoje acompanha o Fla
Sávio até hoje acompanha o Fla Sávio até hoje acompanha o Fla

E o menino Sávio, quando desembarcou lá, mirrado e com olhar estupefato, vindo do aconchego de Vila Velha-ES, foi um destes. Serviu-se de sua própria força interior, da paixão pelo futebol, sentindo-se, em vez de intimidado, impulsionado a vencer no time que sempre torceu: o Flamengo.

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"Tive uma infância tranquila, a paixão pela bola desde pequeno, descalço, jogando na rua. Meu pai (sr. Mazinho) tinha um time, Fluminensinho, ele era torcedor do Fluminense, comecei jogar no time dele com 10 anos. No mais, uma infância muito boa, mas já comprometido com o futebol", contou ao R7.

E o turbilhão da carreira passou como um sopro. Um glorioso sopro que ainda está presente nele, como um sussurro que resume seus anos como jogador de futebol. Além do futebol, Sávio, nascido em Vila Velha no dia 9 de janeiro de 1974, carrega o Flamengo até hoje dentro dele.

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Após encerrar a carreira, se tornou proprietário de uma empresa na área de investimentos imobiliários e de uma empresa de gerenciamento de carreiras de jovens atletas de futebol.

Ele foi determinante para a vinda do lateral-esquerdo Filipe Luís para o Flamengo. Mas, negócios à parte, como flamenguista, viajou para o Qatar a fim de acompanhar a equipe na luta pelo Mundial Interclubes, que se inicia nesta terça-feira (17), em jogo contra o Al Hilal.

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Sávio é respeitado no Real Madrid
Sávio é respeitado no Real Madrid Sávio é respeitado no Real Madrid

Com experiência de pelo menos oito anos no futebol europeu, Sávio é um dos brasileiros que se empolgaram com a atual fase do Fla. A vê como um canto de esperança de que o velho futebol brasileiro pode voltar a brilhar, com nova roupagem.

"O Flamengo resgatou esse ano a essência do nosso futebol, alegria, drible, fantasia, e, claro, juntamente com o comprometimento que exige o futebol moderno. Foi um ano fantástico", afirma.

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Vencer o Liverpool, para ele, não é uma tarefa tão impossível como foi, por exemplo, para o Santos vencer o Barcelona (2011) ou o Grêmio passar pelo Real Madrid (2017).

"Se acontecer a final que todos nós esperamos, vai ser um jogo complicado, difícil, o Liverpool hoje é o melhor time do mundo, é uma junção de força, tecnica, tática e talentos individuais. O Flamengo também é um grande time, e pode vencer, é uma final, detalhes podem decidir uma final como essa, são dois grandes times", prevê.

Intuição e pensamento

Sávio Bortolini Pimentel, aos 45 anos, vê cada jogador de hoje do Flamengo como uma continuidade de sua própria história. Sem se apegar muito a comparações.

"Não sou muito de comparações. Talvez quem mais se assemelhe a mim seja um pouco do estilo do Éverton Ribeiro, a bola pegada no pé esquerdo, e um pouco da velocidade do Bruno Henrique. Bom, se é que tem comparação", comenta.

Sávio também jogou pela seleção brasileira
Sávio também jogou pela seleção brasileira Sávio também jogou pela seleção brasileira

Na engrenagem do mundo, o Flamengo tem o papel de um polo de atração. Retrata em sua essência o coração de um Brasil que sonha. E, como uma sereia, leva muitos meninos a se embrenharem à sua procura. Sobrevive, no entanto, aqueles que desde cedo entenderam sua missão.

Sávio, por exemplo, já se sentia jogador do Flamengo, jogando pela vida, correndo descalço pelas ruas de Vila Velha, cabelos ao vento, brisa marítima, passos em direção ao seus objetivos, sempre ávidos da companhia da bola, uma grande paixão.

"Me tornar jogador foi natural, gostava de estar na rua jogando, toda hora, minha maior companheira era a bola. A cada momento que passava, que jogava, que me destacava, eu via que poderia encarar o futebol com mais seriedade", relembra.

Meninos como Sávio acabam se destacando por saberem unir a intuição ao pensamento. Vão se descobrindo de forma consciente e acabam tendo uma carreira exitosa, marcada pelo planejamento. Planejamento, aliás, é o que hoje ele mais prega para qualquer jogador.

No site de sua empresa, ele escreve um artigo em que ressalta que, além de almejar um objetivo, é preciso agir corretamente neste sentido.

"Lembro que, junto com a minha família e, claro, com o João Areias (empresário), montamos um plano de carreira para mim. Em 10 anos, o que eu poderia ser dentro do futebol? E, assim, estabelecemos metas curtas e outras mais longas, ousadas. Passei a acreditar e tomar atitudes condizentes com os objetivos, afinal, era o meu desejo alcançá-los", conta.

Ele mesmo foi aprimorando suas qualidades, enquanto driblava pela ponta, inspirado nos antigos pontas-esquerdas, mas aprimorando essa característica com a capacidade de armar o jogo.

"Foi algo natural também, era ponta-esquerda, com o tempo fui sentindo que o drible era minha principal característica. Comecei a utilizar mais, desenvolver mais, sendo cada vez mais objetivo em campo. Fui aprimorando juntamente com a velocidade, passe, cruzamento, finalização, enfim, melhorar como atleta."

Gestão de carreira é uma das atividades de Sávio
Gestão de carreira é uma das atividades de Sávio Gestão de carreira é uma das atividades de Sávio

Seria exagero dizer que Sávio chegou pronto ao Flamengo. Ele veio, porém, preparado para desenvolver seu potencial. Sua chegada ao Fla ocorreu depois de um torneio internacional em Vitoria (ES). Sávio se destacou e o Flamengo o chamou, assim como outros times. Mas o coração rubro-negro falou mais alto e no dia 1 de março de 1988 desembarcou no Rio de Janeiro.

"Seguramente, foi o momento mais difícil da minha vida, deixar meus pais, meu irmãos (Flávia, Wellington, Rodrigo e Júnior). Sempre fui muito unido à minha família, era agarrado à minha mãe (dona Rovena), eu queria vencer, e por isso eu tinha que superar os obstáculos. Chegar no Rio com apenas 14 anos foi muito difícil, mais era minha vida, era o Flamengo, meu clube de coração. Uma família me acolheu, me deu amor, carinho, tudo que eu tinha em Vila Velha. Dona Adélia, minha segunda mãe, foi fundamental pra que me desenvolvesse no Rio."

Ídolo no clube

A partir dali, tudo deslanchou. Com suporte e confiança, Sávio foi se tornando ídolo no clube, chegando a ser comparado a Zico, numa época em que a torcida estava carente de ídolos.

Sávio conseguiu ocupar esse espaço e até hoje é reconhecido no clube. Instrospectivo fora de campo, expressava-se com alegria e irreverência dentro dele. Aceitou de bom grado o papel de novo regente da equipe, sentindo-se alimentado pela energia dos torcedores.

"Sempre fui muito focado, uma pessoa de rotina. Minha vida era treinar e jogar, eram raros os momentos fora do futebol. Sobre o Maracanã, não consigo definir bem até hoje, acho que a melhor palavra é MAGIA", descreve, em letras garrafais.

Outra equipe que ele defendeu foi o Real Sociedad
Outra equipe que ele defendeu foi o Real Sociedad Outra equipe que ele defendeu foi o Real Sociedad

O sucesso no Fla e sua inteligência tática o levaram à Europa. Por cinco anos defendeu o Real Madrid e, mesmo não tendo sido um ídolo do mesmo porte que foi no Fla, soube como ober êxito no Velho Continente. Para isso, teve como uma das referências o astro Zinedine Zidane, com quem jogou por pelo menos quatro anos.

"No início, minha maior dificuldade foi o clima, muito frio, foi a parte mais difícil. Em relação ao clube, jogadores, torcida, pressão do Santiago Bernebeu, me adaptei rápido. Foram anos maravilhosos, de grandes conquistas. O Zidane é um cara sensacional, muito profissional, aprendi com ele em todos os momentos que eu pude, dentro e fora de campo. Um dos melhores jogadores que vi e com quem joguei. Cresci muito na Europa, esportivamente e pessoalmente", ressalta.

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Entre 1992, quando estreou no profissional do Flamengo, e 2010, quando encerrou a carreira no Avaí, foram dez clubes pelo qual ele passou: Flamengo (1992-1997); Real Madrid (1998-2003); Bordeaux - empréstimo (2002-2003); Real Zaragoza (2003-2006); Flamengo (2006); Real Sociedad (2007); Levante (2007); Desportiva Ferroviária (2008); Anorthosis Famagusta (2008-2009) e Avaí (2010).

"Encerrar a carreira foi muito tranquilo, fácil, me preparei para o momento, quando tomei a decisão, não senti. Temos que saber enfrentar as mudanças, mesmo que às vezes seja muito difícil", destaca.

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Mas uma coisa que não muda é o carinho por sua terra natal. Sávio se despediu da infância por lá, quando buscou novos horizontes. Mas nunca perdeu de vista o local em que nasceu e onde deu seus primeiros passos e dribles.

"Sou capixaba, amo minha cidade, Vila Velha, tenho orgulho da onde eu vim, toda a minha família mora no Espírito Santo, tenho investimentos no estado, nas áreas, imobiliária e logística. Investir e gerar empregos dentro do meu estado, é um orgulho!"

A esse sentimento ele soma seu amor pelo Fla, o clube de seu coração. E que o levou à seleção brasileira, onde jogou 24 partidas.

Na olímpica, atuou em 19 ocasiões e conquistou a medalha de bronze na Olimpíada de 1996. Foi nesta época, em 21 de outubro de 1996, que ele se casou com Suzana, sua atual esposa, com quem teve seus três filhos: Breno 22, Hugo 19 e Lucas 17 anos. O Fla teve influência nesta estabilidade familiar porque, mesmo em meio à pressão do futebol, ajudou Sávio em sua estabilidade emocional.

"Flamengo é um amor na minha vida. Foram onze anos dentro do clube, aprendi muito, agradeço a Deus por tudo que passei no clube, agradeço a todos, todos mesmo, do profissional com a função mais simples dentro do clube e a mais importante, todos colaboraram com o meu crescimento. Momentos maravilhosos, momentos difíceis. Foi intenso, foi único. Amo esse clube!"

O futebol, para Sávio, foi mesmo como uma novela. Após o último capítulo, nas lembranças se perpetua um final feliz, a cada dia. E o Flamengo simboliza a própria vida. Com começo, meio e fim da carreira. Mas não dos sonhos, como ele bem planejou.

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