Messi completa 31 anos de olho em driblar tango da sua própria história
Inegável gênio da bola carrega paixão e drama de nunca ter conquistado título importante com seleção argentina e pode se despedir precocemente da Copa
Copa 2018|André Avelar, do R7, em Bronnitsy, na Rússia
A antevéspera da partida entre Argentina e Nigéria tinha tudo para ser de comemoração pelo aniversário de Lionel Messi. O domingo (24), no entanto, é de apreensão para o jogo que pode ser o último dos hermanos na Rússia 2018 e também do próprio Messi em Copas do Mundo. Aos 31 anos, o inegável gênio da bola parece não querer mais dançar o tango da sua própria história.
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Cinco vezes Melhor Jogador do Mundo, três vezes campeão mundial, quatro vezes campeão da Liga dos Campeões e nove vezes campeão do Espanhol… Nenhum título pelo time principal da Argentina. A paixão e o drama próprios da música argentina foram capazes até mesmo de diminuir o título Mundial Sub-20 e a medalha de ouro olímpica em Pequim 2008 de quem inclusive esteve perto de se naturalizar espanhol de tão cedo que foi para o Barcelona.
Tanto talento fez de Messi o ser-humano que mais se aproximou de Diego Maradona. Pesou, e talvez para sempre pesará, a Copa em que “La Mano de Díos” carregou a Argentina e um país inteiro no México 1986. Este, aliás, já é o quarto Mundial em que a cruel comparação o acompanha. Por mais que, os mais novos, já passem a reconhecer os feitos do jogador do Barcelona.
“Não importa o que faça, o Messi agora será visto como jogador do Barcelona. Ganhar com a seleção argentina virou uma questão de obrigação, mas não podemos falar isso”, disse um jornalista argentino, sob a condição de anonimato, em um treinamento da seleção, na pequenina e afastada Bronnitsy, nos arredores de Moscou.
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O clima pesado contrasta com os tempos em que os próprios argentinos tentaram exaltar o feito daquela geração dourada de Romero, Macherano, Di María e Aguero, que atropelou o Brasil na semifinal (3 a 0) e venceu a Nigéria (1 a 0). A expectativa era grandiosa. Daí vieram as decepções no que realmente importava para o futebol profissional: queda nas quartas de final da África do Sul 2010, vice-campeonato no Brasil 2014 e à beira da eliminação na Rússia 2018.
Mesmo em Copas América, a geração de Messi falhou: derrota em casa nas quartas de final para o Uruguai em 2011 e dois vice-campeonatos consecutivos (2015 e 2016) diante do Chile. Na última oportunidade, disse aos seus amigos do canal argentino TyC Sports, os únicos com quem fala regularmente, que a “seleção havia acabado para ele”.
Pelo bem dos hermanos, e do futebol, decidiu voltar a vestir a mítica camisa de Maradona. O Mundial na Rússia seria a grande oportunidade de redenção de uma carreira de infinitos títulos em clubes e prêmios individuais. Mas um time com desfalques e mergulhado em plena crise política entre os membros da federação, da comissão técnica e os próprios jogadores afastam neste momento o craque do troféu que passou tão perto há quatro anos.
Ainda em Barcelona, em uma entrevista muito franca ao jornal catalão Sport, Messi demonstrou abatimento com as críticas da imprensa. Talvez isso explique o motivo de deixar calado a área de entrevistas nas partidas em Moscou e em Nizhny Novgorod.
“O feito de chegar em três finais nos fez passar por momentos complicados com a imprensa argentina. Não é fácil e precisa ser valorizado. Claro que o mais importante é vencer, mas chegar em uma final também não é fácil”, disse Messi, antes de justificar sua provável ausência no próximo Mundial. “Não sei [como vai ser]. Dependerá de como nos comportaremos.”
O próprio Messi tem sua parcela de culpa. Nem tanto pelas acusações de escalar o time a sua maneira, mas pelo pênalti perdido na estreia contra a Islândia (1 a 1). No jogo seguinte, uma atuação com um sangue latino poucas vezes visto, mas que ainda assim não escapou de uma derrota vexatória para a Croácia (3 a 0). Agora, contra a Nigéria, em São Petersburgo, o time precisa vencer e torcer ainda para que a Islândia não vença a Croácia, no mesmo dia e horário, em Rostov.
Aos amantes do bom futebol, resta torcer para que Messi não dance, mas drible o tango de sua própria história.
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