Técnico que deu cabeçada em bandeira foi 'premiado'. Justiça 'converteu' um terço da pena ontem. E ele assume, hoje, o Americano
Péssimo exemplo para a sociedade, que luta contra agressões às mulheres. Rafael Soriano, que agrediu com uma cabeçada a auxiliar Marcielly Neto, teria de ficar 200 dias longe do futebol. Depois de 136, assume o Americano
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Os julgamentos são feitos para punir quem erra.
E também servir de exemplo para quem ainda não errou.
O que aconteceu ontem no Tribunal de Justiça Desportiva do Espírito Santo foi revoltante.
No dia 10 de abril, o então treinador da Desportiva Ferroviária, Rafael Soriano, agrediu com uma cabeçada a bandeira Marcielly Netto. Seu time enfrentava o Nova Venécia pelas quartas de final do Campeonato Capixaba.
Além da agressão, Soriano ameaçou processar Marcielly.
"Se você disser que eu te agredi, a gente vai para a delegacia."
"A gente vai fazer corpo de delito."
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"Senão, eu vou te processar, vou te processar..."
"Ela está dizendo que eu agredi."
"Mentira!"
"Está se usando porque é mulher."
“Está querendo aproveitar de uma situação porque é mulher."
Mas três dias depois Soriano pediu desculpas públicas à bandeira.
Não negou mais que houvesse acertado a cabeçada.
"Há 19 anos, exerço a profissão, e uma atitude como essa não representa a pessoa que sou, o caráter que tenho, mas infelizmente foi uma reação falha, intempestiva, e por isso quero me retratar com todos e que Deus possa abençoar. Que tudo isso seja resolvido da melhor forma possível."
Nas imagens da TV Educativa, que transmitia o jogo, o gesto de Soriano de buscar dar a cabeçada na assistente é claríssimo. Jogadores cobrem a visão dos dois na sequência. Mas a Comissão Disciplinar do Tribunal de Justiça Desportiva do Espírito Santo investigou a fundo a situação e chegou à conclusão de que houve mesmo a cabeçada.
E suspendeu o treinador no dia 27 de abril.
Duzentos dias sem poder exercer a sua profissão.
O caminho da Justiça estava sendo exercido normalmente.
Um homem agrediu uma mulher e foi punido.
Só que o Tribunal de Justiça Desportiva do Espírito Santo resolveu abrandar a pena.
Em vez de 200 dias, 136.
64 dias virarão serviços sociais.
E a multa de R$ 1.212 será dividida em três vezes.
Tudo que aconteceu foi legal.
Mas a atitude é incompreensível.
Ainda mais no Brasil, que luta contra a violência contra as mulheres.
Para piorar ainda mais a situação, Rafael Soriano já negociava com o Americano, de Campos.
Mal sua suspensão foi reduzida, ontem, no mesmo dia ele foi anunciado como novo treinador do clube carioca.
E já deve começar a trabalhar hoje, contra o Nova Iguaçu, nas oitavas da Copa Rio.
Marcielly registrou Boletim de Ocorrência pela agressão.
Ela foi muito lúcida ao analisar o que aconteceu.
"Se não houver uma punição agora, vai mostrar que isso é rotineiro e que não tem punição."
"Não pode virar rotina."
A substituição dos 64 dias de afastamento por "trabalhos sociais" é algo estarrecedor.
Na prática, Soriano teve reduzida sua pena em 32%, um terço.
Por quê?
O futebol do Espírito Santo estava fazendo história com a punição.
Retrocedeu com a antecipação da liberação do treinador para o trabalho.
E o Americano comemora a contratação de Soriano.
Como se nada tivesse acontecido.
Como se o técnico não tivesse agredido uma mulher.
Afinal, Soriano "já foi" punido.
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