O capitão Betão esconde o rosto, chorando pelo rebaixamento. Chance do 'troco', amanhã
CorinthiansSão Paulo, Brasil
Fácil entender o porquê de os ingressos da partida de amanhã entre Corinthians e Grêmio, na Neo Química Arena, terem terminado em questão de horas.
O sentimento dos corintianos é de pura vingança.
Basta relembrar o dia 2 de dezembro de 2007, no estádio Olímpico, em Porto Alegre.
O dia mais triste da história corintiana.
Eu estava lá cobrindo, para o Jornal da Tarde, o jogo que culminou no único rebaixamento do Corinthians para a Segunda Divisão.
O jogo foi há 14 anos, mas a lembrança é inesquecível.
"O clima era de ódio ao Corinthians em Porto Alegre. A chance de rebaixar o segundo clube mais popular do Brasil era algo mais que estimulante. O time que havia sido campeão brasileiro, em 2005, com o dinheiro vindo da Rússia, via MSI.
"O presidente do Grêmio, Paulo Odone, não tinha bom relacionamento com o recém-eleito, Andrés Sanchez. A imprensa gaúcha também estimulava a importância em 'fazer história', rebaixando o rival.
"O treinador do Grêmio, Mano Menezes, também se despedia do clube. Tinha ambições. Buscar centros maiores do que o Rio Grande do Sul. Ele sonhava, desde então, chegar à Seleção Brasileira. E depois ir trabalhar em grande clube na Europa. E rebaixar o Corinthians seria excelente para o seu currículo.
"37 mil torcedores foram ao estádio gremista apenas para ver o desespero paulista. O Cruzeiro já tinha conquistado a quinta e última, que levava para a Libertadores. O máximo que o time de Mano conseguiria seria a sexta colocação.
"Mas o Grêmio se preparou como se fosse uma final. A ordem da direção era não perder 'de jeito' nenhum a partida. Só a vitória poderia salvar o Corinthians de sua maior humilhação.
"Nelsinho Baptista, o primeiro treinador campeão com o clube, em 1990, tratou de apostar em quatro volantes. Escalou Felipe; Fábio Ferreira, Zelão, Betão e Bruno Octávio; Carlos Alberto, Moradei, Vampeta e Éverton Ribeiro; Lulinha e Clodoaldo.
"O clima era de enorme tensão na concentração. Os jogadores tinham medo da reação da torcida corintiana, caso o time fosse rebaixado. Para piorar, havia vazado que a nova diretoria em outubro iria reformular completamente a equipe. Nelsinho Baptista sabia que, mesmo que salvasse o Corinthians do rebaixamento, não permaneceria. O time e o treinador eram pura tensão, antes mesmo de a partida começar.
Felipe evitou a derrota. Chorou muito com o rebaixamento. Time era muito fraco
Corinthians"Na entrada do estádio, torcedores organizados gremistas caçavam paulistas para bater. Com a complacência de poucos, mas péssimos soldados infiltrados na Brigada Militar do Rio Grande do Sul, que não se importavam com a covarde 'caça'. Principalmente dois deles, que deveriam cuidar das torcidas organizadas, cujas sedes ficavam grudadas no antigo estádio gremista.
"Alguns vândalos infiltrados nas organizadas bateram não só em torcedores corintianos, mas também em jornalistas paulistas. Não se contentavam com socos, pontapés. Queriam roubar tênis, relógios. Tudo sob o olhar displicente dos dois brigadistas incumbidos de trabalhar junto a essas torcidas gremistas.
"O local para os poucos profissionais da imprensa paulista era absurdo. No meio da torcida do Grêmio. 'Grudados' nos torcedores, ouvíamos palavrões, ameaças, éramos pressionados. Soldados se mostravam mais preocupados em acompanhar o jogo. E rir dos palavrões e ameaças que ouvíamos.
"O clima de guerra se refletiu em campo, com Mano Menezes estimulando seu time a sufocar o Corinthians. Desde o início do jogo. E foi assim que Jonas marcou 1 a 0, aos dois minutos de partida. O gol atingiu em cheio o fraco lado psicológico dos corintianos. O Grêmio foi sempre melhor. O polêmico goleiro Felipe fez ótima partida e evitou mais gols.
O sofrimento da torcida em 2007
Reprodução/Instagram"Enquanto isso, chegavam notícias de Goiás e Internacional. O time goiano, que disputava a sobrevivência na Série A com o Corinthians, não poderia vencer. O clube gaúcho estava em uma posição intermediária, 11ª colocação no Brasileiro, a partida não tinha maior relevância. Além do mais, ninguém havia se esquecido, no Beira-Rio, do Campeonato Nacional de 2005, quando o Corinthians venceu de maneira, no mínimo, injusta. Com um jogo que o Internacional foi muito prejudicado pela arbitragem.
"Houve uma certa animação da diretoria, dos poucos torcedores corintianos em Porto Alegre, quando Orosco marcou 1 a 0 para o Internacional, aos 12 minutos do primeiro tempo.
"Ela aumentou quando Clodoaldo marcou 1 a 1. O Corinthians empatava o jogo. A euforia durou pouco.
"Dois minutos depois, quando Elson empatou, houve festa no Olímpico. Os nervos dos jogadores corintianos vieram à flor da pele. Tensos, erravam passes, faziam faltas violentas, gritavam uns com os outros.
"A tensão virou desespero quando foi anunciado, no Olímpico, o segundo gol do Goiás. De novo, Elson. Aos 12 minutos do segundo tempo. Nelsinho colocou todo o Corinthians no ataque. Mas de maneira desordenada, com chuveirinhos da intermediária. Mas os jogadores gremistas lutaram com unhas e dentes para segurar o empate.
"A alegria do time da Mano Menezes foi enorme com a confirmação do rebaixamento corintiano. Jogadores se abraçavam felizes, enquanto vários atletas do time paulista estavam profundamente abalados. Sabiam que entravam para o pior momento da história do Corinthians. E tinham medo das consequências.
"A equipe e Nelsinho pediram perdão pelo vexame. O treinador até se ofereceu para ficar, comandar o Corinthians na Segunda Divisão. A segurança foi reforçada. Os dirigentes estavam com medo da reação das próprias organizadas corintianas. O clima até a volta a São Paulo foi de puro pavor.
"Grande parte da imprensa gaúcha comemorou com muita alegria o rebaixamento corintiano.
"Na segunda-feira, no Parque São Jorge, André Sanchez foi pedir apoio, conversar com torcedores organizados que foram ao Corinthians.
"Ele tomou uma cusparada no rosto. Muito nervoso, ele se limpou. E ainda deu entrevista. Prometeu que o Corinthians iria se transformar, depois de ter 'caído no fundo do poço', com o rebaixamento.
"O time foi desmanchado. Nelsinho Baptista dispensado.
"Andrés Sanchez contratou justamente Mano Menezes, o treinador que teve tanto prazer no rebaixamento corintiano.
"O dirigente tratou de modernizar o clube, com o acerto da contratação de Ronaldo Fenômeno, com a guerra vencida com o São Paulo para sediar a abertura da Copa do Mundo, com a construção do seu estádio, com apoio do governo federal, em Itaquera.
"Mas o rancor pelo que aconteceu em Porto Alegre, há 14 anos, não passou para muitos no Parque São Jorge. A começar pela cúpula que cerca o presidente Duilio Monteiro Alves, toda ligada visceralmente a Andrés Sanchez.
Desespero, medo dos jogadores
Reprodução/Instagram"Daí o clima de vingança para o jogo de amanhã.
"Todos sabem que basta o Corinthians vencer, e o Grêmio estará rebaixado para a Segunda Divisão. Não é por acaso que as organizadas levarão caixões para provocar, comemorar a possível queda.
"Por mais que os jogadores atuais, como Roger Guedes, e o técnico Sylvinho procurem disfarçar, não há como fugir.
"O clima é de vingança histórica amanhã.
"Quem esteve no Olímpico viu o quanto o Grêmio fez o Corinthians sofrer.
"Dá para entender por que tanta vontade de dar o troco..."
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