R$ 28 milhões? O São Paulo não quer pagar nem R$ 250 mil a Milton Cruz
Exclusivo. Não é só o ex-auxiliar que vai recorrer da Justiça. O São Paulo também não quer pagar um centavo a mais ao seu ex-funcionário de 22 anos
Cosme Rímoli|Cosme Rímoli
"Foram quase 23 anos como funcionário. Não digeri porque me demitiram em 30 segundos. Eu tenho uma história no clube. Não estava no São Paulo havia dois dias. Poderia me demitir, não tem problema. Ele (Leco) pode escolher com quem quer trabalhar. Não aceitei o jeito como foi e não aceito ainda. Isso me magoou muito. Ganhei títulos importantes. Ajudei na montagem do time campeão do mundo. Revelei jogadores...
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"Foi ciúmes da minha relação da minha relação com o Abílio Diniz (o empresário é um dos que faz oposição a Leco), com o Juvenal. Sempre dei a minha cara para bater. Coloquei o time duas vezes na Libertadores. Foi vergonhoso o que fizeram comigo. Hoje saio na rua e são-paulino, corintiano e palmeirense dizem que foi uma sacanagem o que fizeram comigo
"Era só me agradecer, não me chamar depois de um treino, do lado do campo, e me mandar embora. Ainda mais um dirigente (Luiz Antônio da Cunha) que ficou três dias no clube. O Leco não teve coragem de me demitir, nem o Gustavo (Vieira de Oliveira, ex-gerente), nem o Ataíde (Gil Guerreiro, ex-vice de futebol. O Leco estava sentado no banco, vendo o cara falar comigo.
"Fiquei 23 anos lá e não entendo nada de legislação. Meus advogados vão analisar se tudo foi pago corretamente. Eles vão fazer revisão de todo o período em que trabalhei no clube. Não é contra o São Paulo. Estou fazendo isso pelas pessoas que estão lá no momento.
"Não tiveram dignidade na hora de me mandar embora."
Essa foi toda a mágoa que Milton Cruz expôs em várias entrevistas, após ser demitido do São Paulo. Estava claro que ele reagiria. E decidiu mesmo entrar na justiça.
Ele quis equiparação e substituições salariais. Milton pedia também para ter o seu salário igualado ao de todos os técnicos que substituiu como interino e também para ter vencimentos igualados aos dos auxiliares trazidos por técnicos contratados.
Foi divulgado que seria o maior processo da história do São Paulo. Chegaria a R$ 28 milhões as reivindicações de Milton Cruz. E tudo o que ele teria conseguido da juíza Maria Fernanda Duarte, da 30ª Vara do Trabalho de São Paulo, foram R$ 250 mil. Menos de 1% do alegado 'maior processo da história do São Paulo'.
"Olha, os valores pedidos foram altos mesmo. Foram seis ações do Milton contra o clube, onde ele trabalhou por mais de 20 anos. Ele queria milhões de reais. Não posso precisar se chegavam a R$ 28 milhões, como toda a imprensa divulgou. A juíza indeferiu cinco delas. Ela só entendeu que bichos e premiações” têm natureza salarial e, por isso, são devidos ao ex-funcionário 13ºs salários, férias + 1/3, descansos semanais remunerados e FGTS + 40%. Foi nessa ação que surgiu o valor de R$ 250 mil.
"E eu já antecipo já. Não é que o São Paulo foi processado em R$ 28 milhões e pagará apenas R$ 250 mil. Não. O São Paulo não quer pagar nem esses R$ 250 mil ao Milton Cruz. Vamos recorrer a todas as instâncias. O clube não deve absolutamente nada ao seu ex-funcionário. Tudo foi pago."
A declaração é do advogado Mauricio Corrêa da Veiga. Ele defende o São Paulo há três anos e meio. E dá alguns detalhes sobre as ações que a juíza indeferiu.
"O valor mais alto era a equiparação aos salários dos treinadores demitidos. A justiça entendeu o correto. Não teria como o São Paulo pagar ao Milton o mesmo que recebia o Muricy Ramalho, Osório, Leão, Paulo Autuori e vários outros. Vou explicar de uma forma simples. Quando esses treinadores saíam, o cargo deixava de existir. E assumia o auxiliar do São Paulo. O Milton nunca foi efetivado como técnico. Era um auxiliar e recebeu cada centavo como auxiliar", explica Corrêa da Veiga.
"O mesmo se aplica à equiparação dos auxiliares técnicos desses treinadores, que recebiam mais do que o Milton. Ele tinha o salário dele, definido como auxiliar do São Paulo. Ele não substituía ninguém. Quando técnicos e seus auxiliares eram demitidos, Milton seguia cumprindo sua função. Uma delas era comandar o time quando não houvesse treinador. Simples."
"Ele chegou também a pedir indenização por danos morais ao clube porque um funcionário (Rodrigo Gaspar, assessor de Leco) o ofendeu, (o classificou como 'erva daninha'). A justiça também não acatou porque não concordou que o clube tenha responsabilidade pela ofensa. E que não houve dano moral."
Corrêa da Veiga diz ter certeza que Milton Cruz recorrerá. "O processo vai correr na justiça trabalhista por pelo menos oito anos. E repito, o São Paulo também recorrerá. Se ele não está satisfeito com o resultado da ação, nós também não estamos. Não concordamos com esse pagamento de R$ 250 mil. E iremos até o final para não pagar. Provavelmente até o Tribunal Superior de Trabalho, em Brasília.
"O São Paulo sempre foi correto no pagamento dos seus funcionários. Alguns deles não concordaram como o Washington, o Aloísio e o Denílson. Processaram o clube e tiveram seus pedidos negados na justiça. É o que acontecerá no caso do Milton Cruz", assegura Mauricio.
Não é que acredita André Oliveira de Meira Ribeiro, advogado de Milton Cruz. Primeiro, ele pede para o blog esclarecer.
"O valor pedido pelo Milton Cruz foi superdimensionado na imprensa. Não chega a R$ 28 milhões. Não sei de onde surgiu esse número. Posso garantir que fica, no máximo, em 30% desse valor (cerca de R$ 8,2 milhões). Até porque a legislação brasileira só permite que o trabalhador cobre o que deixou de ganhar nos últimos cinco anos."
Mas Milton Cruz vai recorrer até o final. "Nós temos a certeza que as reivindicações são justas. O Milton realmente exerceu a função de treinador por inúmeras vezes. E nunca recebeu por isso. Assim como também exercia a mesma função dos auxiliares desses treinadores, que ficavam no clube ganhando muito mais do que ele. A Legislação Trabalhista é clara em relação isso", garante André.
Os valores, não confirmados pelor André ou Maurício, seriam de 80% a mais do que ganhou quando foi auxiliar direto, e seis vezes a mais do que recebeu nos momentos em que foi o treinador interino.
Há ainda a questão sobre direito de arena. E Milton deseja a anulação do contrato de imagem. A alegação é que todos os ganhos mensais, incluindo bichos por resultados positivos, devem ser considerados salário bruto registrado em carteira, consequentemente regidos pela CLT.
Na primeira batalha judicial, ele perdeu.
E sua defesa garante que vai recorrer.
Que não sejam R$ 28 milhões.
R$ 8,2 milhões já é uma quantia importante.
E marcante.
O São Paulo segue nunca tendo sido processado por valor tão alto.
"O Milton Cruz fez por onde. Trabalhou e tem o direito ao que está reivindicando", garante André.
"Nem os R$ 250 mil serão pagos ao Milton", assegura Maurício.
Quem está com a razão?
A resposta, provavelmente, em 2026.
Graças à morosidade da justiça deste país...
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