O cerco se fecha. Del Nero nunca esteve tão perto do banimento
Fifa deverá efetivar o banimento do presidente da CBF. Agora inimiga, Globo divulga documentos contra o dirigente. Mas Marco Polo articula por sucessor
Cosme Rímoli|Cosme Rímoli
O cerco apertou para Marco Polo del Nero.
A Fifa irá se pronunciar neste mês se efetiva o banimento do futebol do presidente da CBF. A decisão deverá acontecer na próxima quarta-feira, dia 15.
A tendência é que o dirigente seja afastado de vez do futebol.
Embora haja a possibilidade de que o afastamento seja mantido por mais 45 dias, para novas investigações.
Suas chances de não poder mais exercer qualquer cargo no futebol são imensas.
Calculista, Del Nero sabe que esta possibilidade é real. E já trata de articular para que Rogério Caboclo, assuma no seu lugar, na eleição marcada para o próximo mês, abril. Caboclo é fiel ao dirigente e, se assumir, não deverá fazer uma devassa nas negociações feitas por Marco Polo e Marin. Há documentos da CBF que seguem sigilosos. Não foram entregues, por exemplo, na CPI do Futebol.
Graças à mudança que fez no estatuto da CBF, Del Nero só precisa dos votos das federações, que valem o dobro dos clubes. Os principais times do país não tem representatividade efetiva no destino da entidade que comanda o futebol no país.
Del Nero já foi afastado pelo Comitê de Ética, em dezembro, por 90 dias. O motivo: as inúmeras denúncias contra ele surgidas no julgamento do ex-presidente da CBF e ex-governador biônico de São Paulo, José Maria Marin.
As testemunhas que denunciaram Marin, no julgamento em Nova York, confirmaram a apuração feita pelo FBI e pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Aos 85 anos, ele foi condenado em seis das sete acusações que pesavam contra ele. Só escapou de lavagem de dinheiro da Copa do Brasil. Mas foi considerado culpado por três crimes de fraude financeira (Copa América, Copa Libertadores, Copa do Brasil), dois de lavagem de dinheiro (Copa América e Libertadores) e um por conspirar/formar uma organização criminosa. O julgamento aconteceu também em dezembro de 2017.
A sentença deverá ser confirmada nas próximas semanas. A previsão é que sua pena seja de, no mínimo, dez anos. E terá de cumpri-la na cadeia. Ele já está encarcerado, aguardando a definição do período que passará preso. Está no Centro de Detenção Metropolitana do Brooklin, conhecido por sua rigidez com os condenados. Marin é obrigado a arrumar a própria cama, varrer sua cela, cuidar do lixo de sua ala. Não tem privilégios, apesar dos 85 anos.
Os depoimentos das testemunhas que foram fundamentais na condenação de Marin e na confissão do principal delator do escândalo da Fifa, Jota Hawilla, foram pelo mesmo caminho. Apontaram Marco Polo del Nero como a pessoa responsável pelos atos do ex-presidente da CBF. Marin era um fantoche nas mãos de Del Nero.
No julgamento, o próprio advogado de José Maria Marin, Charles Stillman definiu. "Os discursos eram de José Maria Marin. Mas as decisões eram de Del Nero. Era ele quem mandava na CBF, quando Marin era o presidente."
Alejandro Burzaco, que comandava a agência de marketing esportivo argentino, Torneos y Competencias, resumiu de maneira irônica a situação na CBF. Comparou a uma monarquia moderna. "Marin era o rei. Mas quem mandava em tudo era o presidente, Del Nero."
Marin e sua defesa delataram Del Nero. O abandono, inclusive financeiro, do atual presidente da CBF, teria sido o motivo do rancor do agora presidiário de 85 anos.
Para piorar a situação de Marco Polo, há a postura da Globo, dona do monopólio do futebol neste país. Quando estouraram os escândalos na Fifa, o presidente da CBF foi aconselhado por seus advogados a não mais sair do país. O Brasil não autoriza a extradição de seus cidadãos.
Isso foi um veneno para a Globo. Nas últimas décadas, todos os presidentes da CBF estiveram nos congressos da Fifa, principalmente naqueles que definiam a tabela das Eliminatórias. Sem Marco Polo, a emissora carioca teve de suportar o Brasil sendo obrigado a atuar em dias de semana, em horários completamente inviáveis, que complicaram sua grade de programação. Fez com que encavalassem patrocinadores do futebol e de novelas, por exemplo. Desagradando a todos. Del Nero virou sinônimo de prejuízo.
Foi quando a cúpula da emissora carioca liberou Galvão Bueno a criticar, a atacar Marco Polo. Estava rompida publicamente a parceria de décadas. Aliás, a Globo está tentando se afastar publicamente da entidade desde que estouraram os escândalos na Fifa. O principal executivo de futebol da emissora, Marcelo Campos Pinto, foi aposentado.
Campos Pinto tinha uma procuração para representar a emissora junto à Fifa e à CBF. A intimidade era total. O executivo viajava de jatinho com presidentes da entidade. Viajava para solenidades com Marin e Marco Polo. Campos Pinto foi citado em vários depoimentos no julgamento de Marin, nos Estados Unidos.
Desde 2015, a Globo mudou sua postura em relação à CBF de Marco Polo. E hoje seu site de esportes, vem com mais uma denúcia. Del Nero fez parte do Comitê Executivo da Conmebol. Ele e Marin receberam R$ 3 milhões pelo 'trabalho'. R$ 1,5 milhão para cada um dar sua assinatura, celebrando inúmeros contratos com agências de marketing esportivo, que acabaram sendo considerados suspeitos por parte do FBI. E cuja investigação acabou mandando vários ex-dirigentes da Conmebol para a cadeia.
Del Nero sempre negou ter sido membro do Comitê Executivo da Conmebol.
Mas documentos comprovam sua primeira participação como diretor do Comitê Executivo da Conmebol no dia 23 de maio de 2012. A última foi em 31 de julho de 2013. Marin seguiu no seu lugar. A partir desta data, Del Nor se tornou representante da Conmebol no Comitê Executivo da Fifa. Recebendo dinheiro pelo cargo.
A denúncia, documentada por atas de reunião com papel timbrado da Conmebol, chega em péssima hora para Marco Polo. É mais uma prova importante contra ele. Justo quando o Comitê de Ética da Fifa irá decidir, dentro de uma semana, se ele será ou não banido de vez do futebol.
Desesperado, o dirigente já convocou dois dias de reuniões entre todas as federações do país. Elas acontecerão hoje e sexta-feira. Quer as assinaturas dos presidentes se comprometendo a apoiar Rogério Caboclo como presidente da entidade. Com essas assinaturas na mão, Del Nero ficará tranquilo, se for banido definitivamente, no dia 15, quinta-feira.
Embora sem poder oficial, continuará mandando na CBF.
E, mais importante, contando com a fidelidade de Caboclo.
Haverá a certeza que documentos sigilosos, como contratos envolvendo patrocínios e amistosos da Seleção Brasileira, sigam indevassáveis, secretos.
Del Nero sabe.
O cerco se fechou.
Ele nunca esteve tão perto do banimento.
E não está respondendo a qualquer questionamento da imprensa.
Decidiu se calar.
Como o blog antecipou.
Se Del Nero for banido, conselheiros também o querem fora do Palmeiras.
Vão exigir sua exclusão do clube, apesar de ser conselheiro vitalício.
Mas isso não significa que não esteja poderoso.
Tanto que fará o novo presidente da CBF.
Tem recebido dirigentes das Federações na sua casa.
Enquanto isso, o coronel Antônio Nunes segue no cargo.
Só tomando atitudes que Del Nero faria.
Por pura coincidência, lógico...
(Atualização. E Rogério Caboclo acaba de ser confirmado como candidato à presidência da CBF. Não deverá concorrer com ninguém. Quem Del Nero indica tem o apoio das federações. E matematicamente se torna imbatível nas urnas. Graças à conivência e covardia dos dirigentes de clubes, que assistem omissos...)
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