O assustador motivo que fez Vagner Love não ficar no São Paulo
O jogador que impediu o final do jejum de 7 anos sem títulos no Morumbi, e deu o tricampeonato para o Corinthians, fez uma vergonhosa revelação
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Jogar contra o São Paulo sempre teve um peso especial para Vagner Love.
Dos inúmeros confrontos, o jogo mais representativo foi o de ontem.
Leia mais: Após reclamações, VAR passa despercebido na final do Paulista
Marcar o gol decisivo para o Corinthians, aos 44 minutos do segundo tempo, saindo do banco de reservas foi o mais marcante diante do clube do Morumbi.
Mesmo aos 34 anos, ele não se esquece do que viveu com a camisa tricolor.
Sim, ele ficou três meses em testes.
Nascido e criado na periferia do Rio de Janeiro, criado pela mãe Jaira, auxiliar de enfermagem, era obcecado pelo futebol.
"Ele me dizia que seria jogador de futebol ou mendigo", repete sempre que pode, a mãe, destacando que era a única profissão que desejava seguir.
Leia mais: Transparência ou continuidade: o que esperar de Caboclo na CBF?
Habilidoso e artilheiro, logo se destacou na base do Bangu. Foi para o Campo Grande, já assessorado pelo empresário Evandro Ferreira, conseguiu um teste no São Paulo. O agente ligou para Gilmar Rinaldi e obteve a grande chance para o garoto de 16 anos.
A versão oficial que ele não ficou no Morumbi graças "à divergência em relação à porcentagem dos seus direitos econômicos".
Mas a versão do jogador é completamente diferente.
Assustadora.
E revelada, com todas as letras, em julho de 2015.
"Tinha um diretor do São Paulo que acho que pediu dinheiro para o presidente na época.
Eu cheguei muito bem.
Cheguei no São Paulo de manhã, minha sina de testes era marcar quatro gols. Fiz quatro gols em um teste de manhã, à tarde, um gerente que estava lá da base falou : 'Quem é que trabalha contigo, quem é o teu empresário e tal?
Falei 'é o Evandro'.
Ele me disse, 'vou ligar para ele e dizer que você já está aprovado'. Falei 'beleza'. E à tarde já estava treinando com o time titular juvenil do São Paulo", relembrou.
"Carioca", como era chamado na época, foi dominado pela euforia. O garoto de 16 anos iria realizar seu sonho.
"Eu estava feliz da vida Falava 'cara, São Paulo'. A estrutura da base do São Paulo sempre foi referência. Muito à frente de todos. Aquilo lá era um mundo para mim. Fiquei treinando, disputei um campeonato juvenil no Sul. (No Rio Grande do Sul.) Chegamos na semifinal, perdemos, acho para o Grêmio.
Veja também: CBF apresenta novo símbolo, que só estampa camisa da Seleção em 2020
Quando voltei desse campeonato já me colocaram para treinar com os juniores. Na época era Saraiva, Oliveira, Renatinho, Alemão. Todos esses caras. Eu falei 'caraca' e cada vez com mais vontade."
Foi quando surgiu o motivo real dele não ficar no São Paulo.
"Um diretor pediu dinheiro para o presidente (na época, Paulo Amaral). Disse 'olha tem um jogador aí na base que tem de assinar contrato e o empresário pediu 'tanto'.
Era mentira. Ele não pediu nada. Eu só queria estar lá. Fazer o contrato e ficar lá."
Love foi mais específico, explicou o esquema no qual esteve envolvido na base do São Paulo.
"Vou dar um exemplo. Você chegou para treinar, eu sou o diretor. Eu vi você treinar. Eu falo 'caraca, esse moleque é muito bom.' Vou chegar no presidente e falar 'chegou um moleque muito bom. E já está aprovado e passou no teste. Só que o empresário dele está pedindo R$ 50 mil para assinar o contrato dele com o São Paulo.
Se o presidente fala sim, o dinheiro vai para o diretor."
A jogada do diretor do São Paulo não deu certo.
"O presidente não quis pagar. Disse 'eu não vou dar dinheiro para um jogador que nunca vi jogar assinar contrato. E não sei se vai chegar no profissional. Aí não deu certo."
Love não ficou no São Paulo porque um diretor mentiu. Usou o nome do seu empresário para pedir dinheiro que Evandro Ferreira jamais pediu.
"É muito comum. Hoje eu falo, a categoria de base deveria ser mais respeitada. O futebol tem de mudar. Não pode mais seguir nessa linha. Tem de fazer uma estrutura boa na base."
"A base é o futuro dos clubes. Por que os garotos estão indo para o Exterior com 17 anos? Porque os clubes não dão estrutura para a base.
E porque tem muito esquema. Deveriam colocar pessoas mais honestas para trabalhar no futebol. Em geral. Não é só na base, não."
O depoimento de Love foi dado para a ESPN/Brasil.
Depois do São Paulo, ele foi rejeitado no Vasco, pela baixa estatura para jogar como atacante.
Até que chegou ao Palmeiras e se transformou em grande artilheiro.
Mas jamais esqueceu o que viveu no São Paulo.
Atualmente, ele evita o assunto.
Mas no íntimo sabe toda a frustração que viveu.
E que poderia nem ter se transformado em jogador de futebol.
Daí a alegria imensa ontem ao materializar o tri corintiano.
Justo no clube que viveu a pior experiência na carreira...
Negócio fechado! Veja as contratações do mercado da bola
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.