O arrependimento de Neymar. Virar as costas, por dinheiro, ao Barcelona
Em um ano e meio, Neymar só perdeu prestígio ao ir para o PSG. Ele é um protagonista egocêntrico e triste. Sua alegria ficou em Barcelona
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Um ano e meio depois, há dois balanços sobre a troca do Barcelona pelo PSG.
O financeiro, que tanto agrada Neymar pai, foi espetacular.
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Nunca seu filho ganhou tanto dinheiro.
Deixou para trás os 17,5 milhões de euros anuais, R$ 77 milhões, na Catalunha.
Passou a ganhar 36 milhões de euros anuais, R$ 160 milhões, na França.
Deixou para trás Cristiano Ronaldo, 30 milhões de euros, R$ 133 milhões.
Só segue atrás de Lionel Messi e seus 40 milhões de euros, R$ 178 milhões.
Ganhou o status de jogador de futebol mais caro de todos os tempos.
Comprado por 222 milhões de euros, R$ 868 milhões.
Além de todo esse dinheiro, o Futebol Leaks fez uma grave revelação. A publicação é o braço esportivo do WikiLeaks, site que divulga informações e acordos sigilosos de governos de todo o mundo. Neymar receberia um incrível 'bônus ético' anual. R$ 2,5 milhões para não criticar o técnico. E mais R$ 1,5 milhão para cumprimentar a torcida do PSG após a partida.
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Além de tudo isso, mora em uma mansão cinematográfica de cinco andares, em Bougival, comuna na região administrativa da Île-de-France, no departamento de Yvelines, que fica a 20 quilômetros da Torre Eiffel. O aluguel é de 14 mil euros, cerca de R$ 62 mil mensais. Ele deveria pagar, mas o PSG decidiu fazer mais este agrado à sua estrela.
A mansão tem dez quartos, piscina enorme, moderno sistema de segurança. O PSG banca também os guardas que protegem a residência e o jogador por 24 horas. Um muro de dois metros e inúmeras árvores mantêm a total privacidade do jogador.
Ele é tratado como um rei.
Nem Messi tem tanta mordomia no Barcelona.
Só que todo esse respaldo financeiro que nenhum jogador de futebol jamais sonhou, desde 1863, quando se assumiu oficialmente como esporte, com regras específicas na Inglaterra.
Fora os cerca de R$ 100 milhões anuais que recebe em publicidade, dos seus 13 patrocinadores.
Ou seja, desde que foi para a França, os cofres do atleta de 26 anos recebem R$ 260 milhões por ano.
Mas todo esse dinheiro não o tornou um jogador melhor.
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Muito pelo contrário.
Críticos, jornalistas, torcedores e até 'parças' (grupo de amigos que paga para o acompanhar pelo mundo) acreditavam que, sem rédea curta e pouco milho, do Barcelona, ele seria o grande protagonista em Paris.
Daria sangue real ao 'novo rico' PSG, clube comprado e bancado pela família real qatariana. O PIB do país que sediará a próxima Copa do Mundo, cujo direito foi conquistado assumidamente graças à corrupção da cúpula da Fifa, chegou a 167 bilhões de dólares, a R$ 652 bilhões, só em 2017.
Petróleo e gás garantem a imensa riqueza aos cerca de dois milhões de pessoas que vivem no país árabe. São inclusive livres de pagar qualquer imposto ao governo. Não faz falta.
A família real qatariana quer melhorar sua imagem com o futebol. Exatamente como a Rússia fez, muito bem feito, com o Mundial de 2018. A visão atual remete a um regime autoritário, absolutista. E que convive acusações de entidades humanitárias de restrição de liberdade política e exploração do trabalho infantil e até escravo.
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O PSG e a Copa do Mundo de 2022 serviriam para desviar a imagem pesada que o Qatar tem no 'mundo ocidental'.
Neymar é o garoto-propaganda do regime autoritário qatariano.
Foi a grande aposta para a conquista fundamental, desejada ansiosamente por Nasser Al-Ghanim Khelaïfi, representante da família real e dono do PSG: a conquista da Champions League. O torneio mais importante do mundo.
Na sua visão tacanha do futebol, bastaria ter Neymar, que considera o melhor de todos, e cercá-lo de grandes jogadores. Um técnico vencedor. E tudo estaria resolvido. A conquista do torneio seria garantida até 2022.
Ele teria cinco chances: 2017/2018; 2018/2019; 2019/2020; 2020/2021 e 2021/2022. Com os bilhões de euros que Al-Ghanim Khelaifi tem à disposição, acredita ser 'impossível' não conquistar a primeira Champios da história para o PSG.
A primeira chance já foi, com o time caindo nas oitavas de final para o Real Madrid. A desculpa de Neymar foi a contusão, a fratura do metatarso, osso que liga o 'dedinho' ao pé direito.
Mas em um ano e meio de convivência, a fantasia de Nasser já não existe mais. Ele é muito mais realista em falar sobre sua principal estrela.
Neymar não se transformou no protagonista do futebol europeu.
Muito pelo contrário, nem mesmo no PSG.
Ele não tem personalidade e carisma de líder.
Viu nascer e se impor Mbappé como o principal jogador do esquema do alemão Thomas Tuchel. O atacante de 20 anos, vencedor da Copa do Mundo da Rússia, tem o total apoio da torcida e da imprensa francesa, que tem sérios problemas com Neymar. Suas atitudes egocêntricas são publicadas sem disfarce nos jornais de Paris, principalmente, o L'Equipe.
Para quem foi para a França para ser o melhor do mundo, o retorno foi angustiante. Neymar foi prejudicado com a fratura do metatarso, sem dúvida. Mas não conseguiu ficar nem entre os dez melhores do planeta. Nem na eleição da Fifa e nem da prestigiosa revista 'France Football'.
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Suas simulações na Copa da Rússia o transformaram em piada mundial.
O péssimo nível técnico do Campeonato Francês desmoraliza a sequência impressionante de vitórias do PSG. Tanto que seus títulos são todos nacionais.
Campeão francês, da Copa da França, da Copa da Liga da França e a Supercopa da França.
Chega a ser covardia comparar a força econômica do PSG, que montou um elenco fortíssimo, em relação às outras equipes.
Ou seja, os 'feitos' de Neymar em território francês não são levados a sério.
Ele tem a Champions para mostrar quem realmente é. E segue com futebol inconstante. Jogando como meia, como articulador, recebendo a bola de frente para os defendores adversários. É assim que Thomas Tuchel espera aproveitar toda a 'genialidade' do brasileiro.
O resultado segue bom, mas nada de anormal, na Champions. Não é temido pelos adversários, como era no Barcelona. E sabe disso.
Na Seleção Brasileira ganhou até promoção, depois da frustrante Copa da Rússia. Depois de rolar pelos gramados fingindo ter tomado pontapés, para enganar os árbitros, e prejudicar os rivais, Tite decidiu dar a tarja de capitão para Neymar.
Atitude incoerente e que só mostrou o quanto o técnico é dependente do instável jogador.
Para piorar a situação, a atual geração de jogadores segue submissa a Neymar. De forma impressionante. Não há qualquer jogador com coragem de cobrá-lo em campo.
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Os dois últimos que fizeram, com a camisa da Seleção, foram Thiago Silva, na Copa. Recebeu um palavrão como resposta. E nunca mais se atreveu a repetir o gesto.
O outro foi Marcelo. Que, por coincidência, deixou de ser convocado por Tite.
Não é por acaso que, quando pode, Neymar faz questão de se encontrar com Messi, Suárez, Piqué. Ele adora estar com as estrelas do Barcelona e não esconde isso de ninguém.
Esse sentimento é repassado 'em off' para jornalistas catalães. Daí as manchetes constantes que colocam Neymar de volta à Catalunha. Depois de seis meses que ele estava na França, elas começaram a ser publicadas. E não pararam mais.
O balanço de um ano e meio de Neymar com a camisa do PSG é frustrante. Principalmente pela expectativa.
Chega a ser inacreditável lembrar que a Torre Eiffel chegou a saudar a chegada do brasileiro, como se fosse um enviado dos céus.
Ele realmente mudou a geografia do futebol europeu.
O Campeonato Francês nunca foi tão valorizado.
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Mas, em um ano e meio, a curiosidade do mundo passou.
Os jogos seguem monótonos, de enorme disparidade técnica entre o PSG e os outos pobres coadjuvantes. Thomas Tuchel deveria ser cobrado duramente pelos dois empates que o time teve até agora. As 15 vitórias foram obrigatórias.
Mesmo sem cobrar todos os pênaltis e faltas, Mbappé é o artilheiro do Francês, com 14 gols. Neymar está em quarto, com 11.
Os veículos de comunicação de Paris seguem apostando que o jogador está mesmo no PSG de passagem. Não o perdoam por não falar francês. Um ano e meio é tempo de sobra para quem quer aprender o idioma, ainda mais morando em Paris.
Neymar segue craque no espanhol.
E se vira até em catalão.
Sua ligação com Barcelona voltou a ser ótima.
A revolta dos torcedores com sua saída se transformou em saudade.
O ambiente é favorável ao um retorno.
Até mesmo Messi deixou claro sentir a falta do brasileiro.
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"Gostaria que voltasse pelo que significa, tanto como jogador quanto para o vestiário. Somos amigos, vivemos coisas lindas, outras nem tanto, mas passamos muito tempo juntos. Acho muito difícil que deixe Paris. O PSG não vai deixar Neymar sair", disse ontem ao jornal "Marca".
Neymar sabe que errou.
Estaria mais feliz em todos os sentidos no Barcelona.
Menos no financeiro.
A sua obsessão por ser protagonista se mostrou traiçoeira.
Fazer parte do ataque mais forte do planeta era algo fantástico.
Ter Messi e Suárez a seu lado dentro e fora do campo é algo insubstituível.
Os sorrisos eram mais verdades.
O manual de comportamento do Barcelona o deixava centrado.
Não precisava ganhar dinheiro para respeitar técnico e saudar torcida.
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Não nasceu para carregar a responsabilidade um time nas costas.
Não para garantir a conquista do torneio mais importante, a Champions.
O tempo é inclemente até para ele e sua cara de garoto de Mogi das Cruzes, que os cabelereiros e tatuadores não disfarçam.
Fará 27 anos no dia 5 de fevereiro.
Seu filho, David Lucca caminha para sete anos.
Não é o menino que Tite e Edu Gaspar gostam de propagar.
É um homem.
O principal jogador do Brasil nesta geração.
Mas que errou, influenciado pelo pai, em virar as costas ao Barcelona.
Segue no PSG.
Com seu futebol de altíssima técnica, talento diferenciado.
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Mas longe de ser o 'novo Pelé' que a Times vaticinou em 2013.
Jornalistas importantíssimos espanhóis garantem que Neymar está infeliz na França.
E que busca maneiras de voltar para a Catalunha.
Nasser Al-Ghanim Khelaïfi o quer até 2022, pelo menos.
Para propagar o Mundial no Qatar.
O "As", jornal de Madrid, publicou que Neymar poderia ter um cláusula no contrato com o PSG que garantiria sua venda por 160 milhões de euros, cerca de R$ 711 milhões,em 2020. Situação completamente descabida e sem sentido. Não há motivo algum para a família real abrir mão do jogador. Na França não há a necessidade de impor uma multa rescisória. Se o clube quiser, vale o tempo de contrato, não importa qualquer proposta financeira.
E Neymar assinou cinco anos de contrato com o PSG. Ele termina em agosto de 2022, não por coincidência, logo após o Mundial de 2022.
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Mas o que chama a atenção nos bastidores do futebol é que pessoas que têm proximidade com Neymar vão pelo mesmo caminho. Seja no Brasil e na Espanha.
Ele estaria arrependido por ter deixado a Espanha.
É um rei absolutista triste em Paris.
Estava mais feliz ao ser um dos três regentes do Barcelona.
E aprenderia ainda muito mais, tendo dois jogadores que respeita profundamente.
Do que ter companheiros que se comportam como súditos.
Até mesmo, por enquanto, Mbappé.
Messi tem 31 anos.
Suárez fará 32 em janeiro.
A sucessão como protagonista seria natural.
Mas o passo errado foi dado.
O dinheiro embolsado.
O que resta é fazer o que Neymar está acostumado.
A posar para as câmeras.
Fazer selfies.
Dar entrevistas, com aquele sorriso forçado, que não convence ninguém.
Neymar era muito feliz no Barcelona.
E sabia.
Mas se esqueceu de avisar seu pai...
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