‘Ninguém vai morrer se o Palmeiras não se classificar.’ Abel se prepara para o pior. Precisa torcer contra a Ponte Preta, para não encarar a eliminação precoce do Paulista

Léo Jabá correu convicto para a bola.

Eram 48 minutos do segundo tempo no Pacaembu.

Bateu no canto direito, enquanto o goleiro Rafael Santos se atirou, desesperado, no esquerdo.

O São Bernardo empatava o jogo contra a Portuguesa, ontem à noite.

E conseguia a classificação antecipada para as quartas.

Como líder do grupo D, com 23 pontos.

Sete vitórias.

O Palmeiras, que venceu o Botafogo, de Ribeirão Preto, de virada, por 3 a 1, não alcança mais o clube do ABC.

Pode ganhar os três pontos do Mirassol, empatar em pontos, mas chegaria apenas a seis vitórias, segundo critério de classificação, depois do elementar número de pontos.

Só há uma saída para a sobrevivência do Palmeiras.

A Ponte Preta não vencer o Bragantino no domingo, em Campinas.

Porque o clube tem dois pontos a mais, 22 contra 20.

Se a Ponte empatar e o Palmeiras vencer, a vantagem será do time de Abel, pelo número de vitória.

“Temos no sangue o querer ganhar, mas estamos numa situação em que podemos ficar de fora e temos que aceitar. Sim, eu cobro o Barros, a Leila... eu faço isso internamente. Depois, cada um faz seu trabalho dentro.

“A ansiedade tem um pouco disso: estamos com tantos pontos e podemos ficar fora.

“Se isso acontecer, ninguém vai morrer, vamos seguir nosso trabalho.”

Não é bem assim.

Morrer ninguém vai.

Mas o prejuízo será enorme.

Serão cerca de cerca de, no mínimo, R$ 10 milhões, em arrecadação e premiação pelo título, que vale R$ 5 milhões.

No planejamento do clube, o tricampeão paulista chegaria ao menos à final.

Só que na projeção, o desejo era assumir a liderança geral do torneio.

Isso fez a diferença, decidindo em casa, as três últimas vezes, se tornando tricampeão paulista.

Abel sempre considerou importante começar a temporada com o título estadual.

Ele sabe que tem muita culpa na situação aflitiva que o Palmeiras vive.

O excesso de testes fez com que o clube desperdiçasse pontos preciosos.

O técnico português não se arrepende.

“Nós perdemos o Maurício e o Gustavo Gómez, dois titulares importantes.

“Em duas vezes que escalei os nossos jogadores principais.”

Mas é uma desculpa frágil, já que os seus rivais, Corinthians, Santos e São Paulo, também usaram seus titulares.

Abel celebrou a vitória e admitiu a pressão antes do jogo de ontem, contra o fraco Botafogo.

Foi o pior público de 2025, com 23.079 torcedores

Houve muitos palavrões e cobranças para a presidente Leila Pereira e para o executivo de futebol Anderson Barros.

Por falta de reforços.

“A chapa estava quente, em função do contexto, em função dos resultados e por méritos dos nossos adversários. A Ponte Preta e o São Bernardo têm feito um campeonato extraordinário e não me custa reconhecer isso. Na minha opinião, o Palmeiras não está fazendo um campeonato extraordinário, mas está a fazer um campeonato bem satisfatório.”

A situação do Palmeiras é muito desconfortável.

Abel usou a questão do gramado natural contra o sintético para desviar o foco.

Foi a resposta que mais consumiu tempo na coletiva.

“Já que todos deram opinião, eu também posso dar, não é?

“Aliás, ela está no meu livro. O que eu posso dizer é, a pergunta que vocês têm que fazer é: por que o Atlético, que fez uma arena nova e colocou um gramado novo, vai trocar por sintético? Não está em lado nenhum escrito cientificamente que um gramado sintético provoca mais lesões do que um gramado natural ruim, que é o que acontece aqui. Se você conseguir me dizer quatro gramados tops aqui no Brasil, vou até além, três (gramados).

“Entendo o Neymar (reclamar), nós já estivemos lá no Mundial e vocês também estiveram lá, quem aqui não esteve no Mundial comigo quando lá fomos? Não viram a qualidade da grama natural? Melhor do que o carpete que a minha mulher tem em casa, é melhor do que o carpete que tenho em casa.

“Parabéns aos jogadores, adoro quando se unem por uma causa, estão falando dos gramados, tudo certo. Falem dos salários em atraso, falem do fair play financeiro, falem da profissionalização dos árbitros, falem do gramado, está certo, não tem problema nenhum. Juntem-se e falem. Eu estou no Brasil há cinco anos, já posso ser brasileiro, pedir o passaporte, pelo menos me disseram. Aqui todos falam, mas fazer, bola (zero). Quando é preciso fazer as coisas, tomar decisões e fazer alterações naquilo que tem que fazer ao futebol, zero. Em cinco anos que estou aqui, que mudanças fizeram? Zero. Vocês (imprensa) são uma parte fundamental nisso, juntamente com os jogadores que se uniram”, continuou.

“Jogadores como Neymar, (Marcos) Rocha, (Raphael) Veiga, como o Thiago Silva... sim, senhor, os jogadores têm que se unir, o sindicato do jogador tem que falar, não se omitir, de tudo. Se tem salários em atraso, tem que denunciar, é assim que tem que ser. Adoro quando as pessoas se unem em volta de uma causa. Sabe qual a causa maior? O futebol brasileiro. Eu amo isso, só que nós não saímos daqui. É um tema bom, vai render cliques, todos vão falar, o treinador do Palmeiras também falou, amanhã vão fazer manchetes. Mas no fim, fazer coisas, passar para a ação, zero. É o que acontece, seguimos, assobiamos para o lado, e amanhã nada a ver do tema.”

O discurso de Abel, defendendo o gramado sintético do Allianz foi perfeito.

Mas ele só errou que sua opinião será o assunto de hoje.

O tema é muito mais problemático para o Palmeiras.

A chance real de eliminação do clube, que começou 2025 como favorito a ser tetracampeão paulista...

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