Pênalti indiscutível para o Santos. Mas CBF expôs, humilhou publicamente os árbitros
Ivan Storti/SantosSão Paulo, Brasil
VAR: "Ele não acerta a rasteira."
Árbitro: "Ele faz o corte e está caindo. E o outro está parado na frente dele."
VAR: "Aqui não vejo como penal, certo? A perna já está parada. O pé para do lado e ele tropeça no pé. Ele não chega a atingir, certo?"
AVAR: "Esse contato é sem impacto algum, Adriano?"
VAR: "Sem impacto nenhum."
AVAR: "Perfeito."
AVAR: "Isso mesmo. Uma câmera. Observa esse impacto, Adriano."
VAR: "Não vejo impacto nenhum aqui. A perna já está parada. Tem um contato ali. Volta um pouquinho. Esse joelho com joelho ali."
AVAR: "E o André está em cima da jogada também, pode ver. Observa o André olhando bem a jogada."
VAR: "A perna já para ali. Como ele vira para cá, ele vai trombar com o defensor. Para mim, lance normal."
Assim começava o maior pesadelo para a arbitragem brasileira desde que o VAR chegou ao país, em 2018.
O lance juntou tudo o que não podia.
Na partida de ontem, no Maracanã, Matheuzinho, do Flamengo, derrubou de forma clara, incontestável, Camacho, do Santos. Pênalti claríssimo.
O juiz André Luiz Freitas Castro estava a 8 metros da jogada, de frente para o lance. Mas não teve segurança para marcar a penalidade e repassou a responsabilidade para Adriano Milczvski, responsável pela arbitragem de vídeo.
O erro já foi gravíssimo.
Mas, para o inferno astral da dupla estar completa, o pior que poderia acontecer aconteceu. No mesmo lance, o Flamengo desceu em velocidade, e Pedro fez um humilhante gol de letra, contra o Santos.
A partida terminou 3 a 1 para o Rubro-Negro.
E com revolta generalizada dos jogadores, da comissãotécnica e, principalmente, da direção santista. O clube, com a derrota para o time misto do Flamengo, empacou na 12ª colocação. Ficando mais longe do sonho de disputar a pré-Libertadores, que deverá ser reservada para os oito primeiros no Brasileiro.
O presidente Andrés Rueda proibiu as entrevistas de todos no Maracanã, como protesto.
E ainda divulgou uma nota ridicularizando a situação.
"Presidente Ednaldo,
"Para que a CBF tem o VAR?
"Essa arbitragem é vergonhosa e cada vez mais prejudica o futebol brasileiro. O senhor deve excluir esse juiz do VAR e o árbitro de campo. Exigimos que esses senhores nunca mais atuem em nossos jogos.
"Nem mesmo uma consulta ao VAR foi feita. Entendemos que isso já passou de um erro comum para uma ação desastrosa.
"O que fizeram hoje foi criminoso.
"Nos dois últimos jogos enviamos ofício de erros e nem uma resposta recebemos. Pelo contrário, novamente fomos prejudicados.
"Em várias partidas, arbitragens tendenciosas. Devemos pensar que é algo direcionado?
"Para que o senhor Seneme mente que investem em treinamentos se esses árbitros não têm o mínimo de preparo?
"O que mais precisa acontecer?
"O Santos não vai mais tolerar essa falta de profissionalismo recorrente de uma entidade que tem os clubes como prioridade.
"Queremos que tornem pública, imediatamente, a conversa do árbitro com o VAR. Chega de “erros” que, de tão grosseiros, nos levam a pensar não serem simplesmente erros."
Só que, de maneira inédita, logo após o jogo, suspendeu os dois árbitros envolvidos no erro capital da partida.
"A Comissão de Arbitragem da CBF resolveu suspender por tempo indeterminado os Árbitros André Luiz de Freitas Castro e o Árbitro de Vídeo (VAR) Adriano Milczvski por entender que o desempenho deles, na partida entre as equipes Flamengo x Santos, válida pela 34ª rodada da Série A 2022, foi abaixo dos padrões exigidos. Os referidos oficiais serão incluídos no Programa de Assistência ao Desempenho da Arbitragem."
A decisão foi firme, justa, mas sem a menor necessidade de ser pública.
Os árbitros, além de saberem que erraram, foram humilhados.
A decisão poderia acontecer de maneira interna.
A situação acontece quando os árbitros brasileiros decidiram criar a Federação Nacional dos Árbitros, no Recife.
Na reunião para a criação da Federação Nacional dos Árbitros, o desejo é de profissionalização
Reprodução/ANAFOs sindicatos de Ceará, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo estão por trás do movimento. A advogada Gislaine Nunes, que participou da criação da Lei Pelé, dá guarida legal aos árbitros.
A manifestação da criação da Federação foi dura.
"Um momento histórico para nós, que esperamos 25 anos por isso. No momento de caos a ordem foi reestabelecida. A Federação vem para lutar de igual para igual com a CBF. A única diferença é o orçamento. Estamos usando de todas as estratégias possíveis para que o árbitro brasileiro venha a ser valorizado. Agora com um detalhe: uma representatividade legítima dentro do campo judicial, com todas as armas possíveis. Com as contratações perfeitas que fizemos para que possamos ter êxito e possamos de fato abraçar e ser abraçado pelos árbitros brasileiros.
"As entidades estão de parabéns. De 27 estados, estamos aqui com 24. Isso mostra a união, mostra que tudo que temos feito até agora tem credibilidade. Apesar da CBF não respeitar as entidades legitimadas, mas os representantes de classe mostraram que estão dispostos a libertar o árbitro brasileiro dessa escravidão que perdura há tanto tempo na mão da CBF e das federações", disse o presidente da Associação Nacional dos Árbitros, Salmo Valentim.
A reunião para a criação da Federação dos Árbitros aconteceu em agosto.
E eles prometem não recuar.
O que aconteceu ontem foi muito mal recebido pelos juízes mais vividos.
Eles perceberam que estão cada vez mais pressionados.
E sem respaldo.
Lembrando que eles seguem amadores.
Não são profissionalizados.
Não há interesse da CBF, por conta de questões trabalhistas, como a aposentadoria.
A situação está muito complicada.
Um posicionamento mais duro, como greve de árbitros, não está descartada.
Há muita revolta com o que aconteceu com André Luiz Freitas Castro e Adriano Milczvski.
Com a humilhação em praça pública...
São Paulo lidera ranking dos maiores campeões apesar da má fase
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