Globo expõe Galvão Bueno sem voz. E ele pede desculpas pela narração
Aos 69 anos, não conseguiu narrar os gols de Grêmio e Flamengo. Alegou estar com gripe. Mas sua voz não é mais a mesma há muito tempo
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Estou com uma gripe forte.
"Fiquei devendo aos dois times o grito de gol.
"Peço desculpas aos milhões de telespectadores."
Galvão Bueno pediu desculpas ao final da transmissão da Globo, do empate em 1 a 1, entre Grêmio e Flamengo.
Foi uma atitude digna.
Inédita.
E justa.
O narrador de 69 anos passou a partida toda mostrando rouquidão, com dificuldade de falar, com a respiração ofegante.
Tudo veio ainda mais à tona nos gols.
Ele não conseguiu elevar a voz.
Nitidamente, Galvão Bueno não tinha condições de transmitir o jogo.
Se fosse qualquer outro narrador não teria empunhado o microfone.
Mas ele foi usado como o personagem principal da transmissão da emissora carioca.
Tinha de narrar o jogo.
No dia dez de setembro, há menos de um mês, Galvão não narrou o amistoso entre Brasil e Peru.
A alegação dada foi a mesma.
Gripe.
Galvão estava muito abatido na semifinal da Libertadores.
Nas poucas vezes que encarou a câmera, olheiras profundas dominavam seu rosto.
Após a final da Copa de 2010, ele anunciou que seria a última Copa do Mundo que transmitiria fora do Brasil.
Avisou que o Mundial de 2014, no Brasil, seria a derradeira como narrador. Ele já sentia a que potente voz falhava.
Mas sua figura seguia importante demais para a Globo.
E transmitiu a Copa da Rússia, como narrador.
A ideia de comentar apenas jogos nunca mudou.
Só que ele é o maior pilar do esporte da emissora.
Só que, devido à crise financeira da Globo, teve seu salário de R$ 1,5 milhão reduzido para R$ 500 mil mensais.
Mas foi liberado para fazer propagandas.
Fez para a Gol.
E para a Volkswagen, dirigindo o Jetta GLI, em um quadro batizado de "Na Estrada com Galvão", do programa Esporte Espetacular.
Galvão Bueno se mostra cada vez menos confortável transmitindo futebol.
Inteligente, vivido, ele comenta muito mais durante os jogos.
Poupa a voz.
Mas ontem, com gripe, a estratégia falhou.
Rouco, desafinado, quase irreconhecível.
Galvão Bueno só não é mais velho do que Silvio Luiz, com seus 85 anos.
Caminhando para os 70 anos, o narrador renovou contrato até 2022.
Para, aí sim, transmitir sua última Copa do Mundo, no Qatar.
A Globo errou feio ao expor o narrador na partida de ontem.
Deveria preserva a figura mitológica que criou.
E Galvão Bueno se respeitar.
Ele mesmo assume que a humildade nunca foi sua marca registrada.
Pedir desculpas depois de um jogo tão importante foi algo dolorido.
E completamente desnecessário.
Era só não ter transmitido a partida.
Admitir a si mesmo estar sem voz.
Chegou a hora o bom senso vencer o ego...
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