São Paulo, Brasil
Duílio Monteiro Alves é filho do sociólogo Adilson Monteiro Alves.
Seu pai foi o autor intelectual da Democracia Corinthiana. Grafia que fazia questão de manter o h, em respeito ao h do Corinthians.
O movimento, de 1982 a 1984, foi muito corajoso. O Brasil vivia em plena Ditadura. Bastava citar a palavra democracia para provocar a ira de muitos militares.
A proposta de Adilson ia muito além da participação dos jogadores nas decisões do futebol. Mas também defendia a transparência. Até da vida financeira do clube.
39 anos depois, na presidência do Corintians, Duílio tinha a responsabilidade de honrar o pai. E fez questão que o primeiro balanço sob sua gestão fosse claro. Mostrasse a real situação do clube, refém do péssimo acordo envolvendo a construção do seu estádio.
Erro do ex-presidente Andrés Sanchez, de dez anos atrás, a favor da construtora Odebrecht e da Caixa Econômica Federal.
E que repercute até hoje.
O Corinthians deve R$ 956,9 milhões.
Caminha rapidamente para R$ 1 bilhão, empurrado pela pandemia, que proíbe a presença de torcedores e da debandada de sócios-torcedores e de sócios da área social. Futebol proibido em São Paulo. Patrocinadores querendo reduzir acordos. E Globo buscando o adiamento de pagamento de transmissão.
A revelação do balanço trouxe à tona uma velha prática no Corinthians.
O empréstimo de dinheiro de empresários.
Agentes adiantam verba para o clube poder contratar atletas que trabalham com eles.
Não é ilegal.
Mas muito questionável.
Giuliano Bertolucci e Carlos Leite são velhos conhecidos nesta prática.
Denis Maldelbaum e André Cury são recentes.
A Bertulucci, a dívida final de 2020 é de R$ 9,5 milhões.
Ele é o empresário de Léo Santos e Ramiro.
Os juros são de 1,5% ao mês, ótimo investimento.
Já a Carlos Leite, empréstimo de R$ 7,7 milhões.
Ele cobra juros de 1,94% ao mês.
E trabalha com Cássio, Fagner, Gil, Camacho e Matheus Vital.
Denis Maldelbaum não cobra juros.
Mas emprestou, em 2018, R$ 300 mil para a contratação do lateral esquerdo Rael. Jogador que é empresariado por seu irmão, Maurice Cohen.
O atleta não pertence mais ao clube.
Só que a dívida, sim.
E, por último, André Cury.
Ele emprestou R$ 2,8 milhões, a 0,68% de juros.
Para o Corinthians contratar dois jogadores que trabalham com ele.
São Otero e Cazares.
E é Cury que está tentando negociar a renovação de contrato da dupla.
Como a situação não é ilegal, conselheiros não podem fazer nada.
A não ser protestar, reclamar em grupos de whasapp.
Com a dívida chegando a R$ 1 bilhão, Duílio dá sinais que não mudará a postura assumida por Andrés Sanchez.
Se houver um jogador que a Comissão Técnica acreditar ter potencial e o empresário desse atleta resolver emprestar dinheiro para que o Corinthians o contrate, a negociação será feita.
O ajuste fica apenas na definição dos juros.
O futebol brasileiro é surreal...