São Paulo, Brasil
Vargas e David Luiz.
Duas estrelas, do Atlético Mineiro e do Flamengo.
Jogadores que defenderam as seleções chilena e brasileira.
Milionários, depois de passagens por clubes europeus poderosos, como Napoli, Chelsea, PSG, Arsenal.
32 e 35 anos.
Mas, por trás da imagem de atletas de físico perfeito, de vida financeira resolvida, da idolatria, a fragilidade a que todos estão sujeitos.
Depressão e hepatite viral.
A situação de Eduardo Vargas é bastante complicada.
O atacante já estava muito abalado. Ele viveu toda a frustração de a melhor geração de jogadores nascida no Chile não conseguir vaga para o Mundial do Catar. Assim como havia acontecido na Copa de 2018.
Alexis Sánchez, Arturo Vidal, Charles Aránguiz, Gary Medel, Isla e Vargas formaram o time que fez a população chilena lastimar. O último jogo das Eliminatórias Sul-Americanas provocou choro coletivo do time e da torcida, na derrota para o Uruguai, em Santiago, por 2 a 0, no dia 22 de março.
Vargas já havia deixado de ser titular no Chile. E no Atlético Mineiro também deixou de ser o companheiro ideal de Hulk. Passou a acompanhar o início dos jogos no banco.
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A velocidade, as arrancadas, os dribles e o oportunismo deixaram de ser os mesmos.
Só que, para um profissional acostumado à admiração, aos aplausos, a reserva é torturante. No Brasileiro, o reserva Vargas marcou um gol e deu duas assistências, em 14 partidas.
Pior só na Libertadores da América. Nos 203 minutos em que ficou em campo, em sete jogos, não fez um gol sequer.
Para transformar tudo em um caos, aos 50 minutos do segundo tempo da partida fundamental na Libertadores, contra o Palmeiras, no Allianz Parque, ele não se conformou e reclamou de uma falta não marcada pelo árbitro colombiano Wilmar Roldán.
O atacante se irritou e fez questão de encará-lo, cobrar dele, colocar a mão no seu rosto. E foi expulso. Ele é um dos melhores cobradores de pênalti do Atlético Mineiro. Não pôde bater. O seu time perdeu a vaga na semifinal da Libertadores para o Palmeiras, por 6 a 5, nos pênaltis.
Vargas acabou como o bode expiatório da derrota.
Foi multado e afastado por Cuca.
Desde o dia 11 ele não é escalado no Atlético.
O treinador ficou revoltado com a atitude do atacante.
Para piorar, torcidas organizadas atleticanas decidiram, como sempre, ficar de tocaia na entrada da Cidade do Galo, centro de treinamento do clube.
Torcedores cobraram, xingaram, ameaçaram Vargas.
O chileno não só abriu a janela do seu carro como ficou ouvindo as queixas.
Ele revelou que procuraria o comando das organizadas para se explicar.
Se desculpar.
Mas, diante desse cenário, na mais profunda depressão, ele não teve outra saída. A não ser buscar ajuda profissional.
"Depois da expulsão, eu caí tipo na depressão. Me sentia com vontade de nada. Não queria sair na rua, não queria ir ao supermercado. Inclusive meus filhos vieram no fim de semana. A gente ficou aqui com meus amigos e filhos deles."
"Saímos aqui no parquinho [do condomínio], sendo que eu podia ter levado no shopping, sabe? Qualquer lugar para eles desfrutarem. Mas não tinha vontade. Porque eu sabia que talvez o atleticano, o torcedor, ia me olhar de uma forma diferente."
"Eu estou em uma fase ruim, mas por isso eu já me desculpei com meus companheiros, meu treinador Cuca. Não tive a oportunidade de me desculpar com a torcida. Quero dizer que estou muito arrependido por causa da eliminação da Libertadores. Pedir desculpa a todo torcedor que sempre está apoiando no estádio. Fiquei chateado."
Ele procurou a ajuda de Lincoln Nunes, "preparador mental", especialista em performance esportiva, e está fazendo tratamento contra a depressão.
A revelação do seu estado psicológico à TV Globo Minas mobilizou a direção e a comissão técnica atleticanas. Vargas ganhou o apoio dos jogadores e de Cuca. A reaproximação pode fazer com que volte a ser escalado.
Mas o tratamento contra a depressão vai continuar.
Já em relação a David Luiz, o quadro ainda é incerto.
O jogador, que ganhou respeito rapidamente e se tornou um dos líderes do Flamengo desde que chegou, no ano passado, passou a mostrar sinais de cansaço extremo há cerca de 15 dias. Mais dores de cabeça.
Jogador de elite, foi logo submetido a uma bateria de exames. E eles apontaram indícios de hepatite viral. A confirmação chegou nos últimos dias. Mesmo assim, o jogador mostrava força, potencial físico para treinar.
Só que sua condição foi diminuindo rapidamente. Ele era um dos melhores jogadores na partida contra o São Paulo, quarta-feira. E pediu substituição.
Negou ter qualquer dor muscular. Deixou escapar que seu problema era "um pouquinho mais sério".
Com a divulgação da hepatite viral, doença que causa inchaço no fígado, David Luiz já foi afastado do clássico contra o Botafogo.
E se submeteu a exames mais profundos hoje.
A hepatite viral, se não tratada, pode levar à cirrose, que é a paralisação do fígado. O órgão tem várias funções.
A principal é a desintoxicação do organismo.
Há preocupação no departamento médico do Flamengo.
Vargas e David Luiz.
Duas estrelas do futebol.
Mas sujeitas aos mesmos problemas dos mais comuns dos mortais...
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