Corintianos revoltados com políticos na entrega da taça. Deprimente
Para contar com o apoio dos políticos para que os Estaduais não acabem, FPF chama deputado para levantar taça com Cássio. Jogadores inconformados
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
A cena foi patética.
De um lado, Cássio, figura fundamental na conquista do tricampeonato corintiano.
Do outro, o deputado estadual do PSDB e presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Cauê Macris.
Leia mais: Gustagol vai de desacreditado a campeão paulista no Corinthians
Enquanto o melhor goleiro da história do Corinthians estava no seu merecido lugar, no pódio no meio do gramado de Itaquera, o político havia se colocado a seu lado por convite da Federação Paulista de Futebol.
E assim que a taça pelo tricampeonato chegou, o momento constrangedor.
O goleiro tentou levantá-la, mostrá-la para a torcida.
Mas o político também a erguia e puxava para o seu lado.
Foi impossível para os fotógrafos registrarem a cena sem Macris.
Agachado, acompanhando a cena, o senador do PSL, Major Olimpio. Agachado, ele ostentava no peito uma medalha de conquista do Campeonato Paulista de 2019. Recordação que deveria pertencer apenas aos jogadores e à Comissão Técnica do Corinthians.
Por que esses políticos participaram de momento tão íntimo e que deveria ser reservado apenas aos atletas tricampeões paulistas?
"Você tem que perguntar primeiro para os políticos e segundo para o presidente da Federação (Paulista, Reinaldo Carneiro Bastos).
Eu não podia colocar um diretor lá naquele cercado que tinha ali.
Não tem nada a ver com o Corinthians", desabafou o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez.
Macris confirmou que era a 'maior autoridade' em Itaquera. E por isso foi chamado pela Federação Paulista de Futebol. Realmente, sem a autorização expressa de Reinaldo Carneiro Bastos, ele não poderia nem entrar no estádio sem ingresso. Quanto mais entrar no gramado, dividir o pódio com o time. Brigar por levantar a taça com Cássio.
Quanto ao senador Olimpio, a explicação estaria na proximidade que tem com Andrés Sanchez. Apesar de ideologias diferentes, ambos cresceram juntos. E são muito amigos. Não foi a FPF que deu a medalha ao político, foi o Corinthians.
O secretário estadual de Esportes, Aido Rodrigues, também estava ao lado dos jogadores na entrega da taça, para desespero dos fotógrafos.
"Eu fico boladão, velho. Fico bolado com essa parada aí. Quem tem que estar ali é a gente, os amigos, família, os companheiros que ralam no dia a dia. Mas entrou ali, participou, levantou o troféu...", desabafou Vagner Love, irritado com os infiltrados.
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"Eu não vi (que era um político), só vi que tinha uma pessoa puxando a taça, e eu puxava para erguer e tinha uma pessoa. Eu não sabia. Geralmente eles me dão a taça e eu ergo. Mas eu não sabia quem era. Vi depois que era um político, li em algum site", disse, contrariado, Cássio.
O dirigente da Federação Paulista de Futebol e campeão do mundo, Mauro Silva, se recusou a dar explicações sobre esses políticos.
Assim como o presidente Reinaldo Carneiro Bastos não tocou no assunto.
Jogadores e Comissão Técnica do Corinthians ficaram revoltados com a situação. Mas Fábio Carille tomou à frente e disse que o assunto deveria 'morrer'. O Corinthians foi tricampeão paulista e ponto final.
O que aconteceu ontem foi o contrário da final do Brasileiro em 2018, quando o presidente eleito Jair Bolsonaro.
Primeiro, Bruno Henrique a levantou sozinho, cercado de companheiros de time.
Depois, ela chegou às mãos de Bolsonaro.
E então ele a levantou, comemorando.
O presidente eleito foi convidado do Palmeiras para a festa.
Os atletas e Felipão sabiam.
No Corinthians, nem os jogadores e nem a Comissão Técnica conheciam Cauê Macris, major Olimpio e Aido Rodrigues.
Tomaram um susto quando viram os políticos no momento mais especial do torneio.
A explicação está na busca de apoio que a Federação Paulista de Futebol busca para que os Estaduais não sejam banidos do calendário do futebol brasileiro, como deseja a maioria dos dirigentes de grandes clubes.
O novo presidente da CBF, Rogério Caboclo, já anunciou que, a partir de 2020, os torneios terão duas datas a menos. Serão apenas 16 rodadas.
Até os executivos globais finalmente entenderam a rejeição popular aos campeonatos que são cada vez mais insignificantes. A última imagem dos estádios repletos não disfarça que 90% dos torneios, que não levam a nada, são modorrentos. E que só sabotam a pré-temporada dos clubes, principalmente os envolvidos na Libertadores. Quatro meses para nada.
A Globo decidiu não mostrar jogos às quartas-feiras nos Estaduais, em janeiro e fevereiro. Tamanha a inutilidade da primeira fase.
Os Estaduais são os grandes torneios para as Federações. E mesmo sabendo da rejeição e do prejuízo em todos os sentidos que geram aos clubes, os dirigentes lutam para mantê-los.
Mesmo sabendo que, com a importância da Libertadores, com os empresários levando os melhores garotos entre 15 e 18 anos para o Exterior, não há razão racional e nem esperança de grandes revelações à existência dos Estaduais.
Daí, a busca de aliança com os políticos.
Eles têm cacife para pressionar a frágil cúpula da CBF.
E manter o futebol brasileiro no atraso.
Portanto, ninguém estranhe.
Se em 2020, um político levante sozinho a taça.
Independente de quem for o campeão paulista...
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