Corinthians renasceu. Porque tinha de perder a final para o Palmeiras
Felipe Melo comemora com raiva, vingança, a conquista do Paulista. O Palmeiras foi campeão também por apostar em garotos como Patrick de Paula
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Há três anos, Pelezinho corria com a camisa laranja, número 5, do bom time batizado de Cara Virada, do bairro de Santa Margarida, zona Oeste do Rio de Janeiro.
Disputava a Taça das Favelas, no Rio de Janeiro.
Hoje, Patrick de Paula, com a camisa do Palmeiras, bateu a penalidade decisiva na final do Campeonato Paulista, contra o maior rival, o Corinthians.
Depois de um emocionante empate em 1 a 1, a decisão estava empatada em 3 a 3.
Diante de Cássio, goleiro campeão mundial, o volante bateu forte de pé esquerdo, com convicção, talento, no alto, indefensável.
Depois de longos 12 anos, o Palmeiras voltou a ser campeão paulista.
O jogador de 20 anos, explodiu de alegria. Jogou a camisa para o alto. Sabia que estava no centro dos holofotes do país.
"Estou muito feliz, trabalhei bastante para estar aqui.
"Estar podendo fazer o último pênalti... treinei bastante e pude dar alegria para a torcida alviverde.
"Vai, Palmeiras!"
Patrick de Paula é a prova viva da nova filosofia imposta pelo Palmeiras. Depois de fracassos seguidos no sonho de reconquistar a Libertadores, com times caros, seguindo a política megalomaníaca do executivo Alexandre Mattos, o clube finalmente resolveu apostar em garotos. Olhar para a base, em vez de sair comprando atletas 'de baciada'.
Esse sangue novo, de Patrick de Paula e Gabriel Menino foi fundamental na equipe que não só venceu, mas se vingou do Corinthians, impedindo o arqui-inimigo de ser tetracampeão paulista.
"Eu comecei a jogar bola com 5 anos de idade. Meu irmão me levou jogar em um campinho e desde lá segui minha trajetória.
"Fui levando o futebol a sério, fiz testes nos quatros grandes do Rio, passei no Botafogo, mas acabei não indo treinar pois não tinha condições financeiras de ir todo dia e aí acabei nem indo mais e fui seguindo e aí fui a Taça das Favelas, depois joguei o torneio da Nike, viajei com eles para França, depois joguei um campeonato armador da capital (Rio de Janeiro) até o Palmeiras me levar para fazer testes", diz o jogador, que não custou um centavo ao clube paulista.
Sua habilidade como meia esquerda amador o transformou em hábil volante, capaz de driblar, lançar e fazer gol.
Vanderlei Luxemburgo já tinha a determinação do presidente Galiotte de apostar em garotos da base. Ele escolheu Gabriel Menino, eficiente e objetivo volante, e em Patrick de Paula, mais habilidoso, veloz e dono de força física impressionante.
Os dois foram fundamentais para dar vibração, vontade de vencer, que faltava ao Palmeiras. Principalmente nos jogos decisivos do Paulista.
O foco, na era Alexandre Mattos, sempre esteve voltado para a Libertadores. O Paulista era realmente tratado como "Paulistinha". Até que chegou 2018 e toda a polêmica com a conquista do título pelo Corinthians, dentro do Allianz Parque.
Galiotte foi claro a Luxemburgo. Queria o título, desta vez, como vingança até por tudo que o clube sofreu há dois anos.
Não queria nem imaginar o Palmeiras perdendo o título em casa, outra vez.
E depois do 0 a 0, no Itaquerão, na quarta-feira, Luxemburgo passou o recado a seus jogadores, da vantagem que seria definir o título em casa, mesmo sem torcida.
Além do elenco muito melhor do que o adversário, o gramado sintético era uma grande vantagem que não seria desprezada.
O jogo outra vez foi tenso, disputado. E com as intermediárias superpovoada, com o Corinthians de Tiago Nunes, bem postado, no 4-5-1. O Palmeiras apelava para o velho 4-4-2, que Luxemburgo gosta, com Willian jogando como um falso meia, como fazia o já saudoso Dudu.
A partida outra vez não tinha chances claras de gol.
Até que, aos três minutos do segundo tempo, Viña faz ótimo cruzamento. Luiz Adriano se aproveita de falha de posicionamento de Danilo Avelar e cabeceia forte. Palmeiras 1 a 0.
O Corinthians seguia com uma inoperância ofensiva assustadora. Mesmo com o Palmeiras de Luxemburgo recuando, convidando o rival para sua área.
A marcação deu certo até os 50 minutos do segundo tempo.
Jô conseguiu espaço na área e o paraguaio Gustavo Gómez o derrubou.
Pênalti.
Jô não desperdiçou, cobrando forte no canto esquerdo de Weverton.
1 a 1, injusto para o Palmeiras.
Decisão por pênaltis.
O lado psicológico estava do lado do Corinthians.
Mas cobranças mal feitas de Michel e de Cantillo deram a chance do Weverton defender. Cássio só segurou o de Bruno Henrique.
Eis que chegou a vez de Pelezinho, ou melhor, Patrick de Paula.
O Palmeiras é, novamente, campeão paulista.
Ou melhor, evitou que o Corinthians fosse tetra.
"Quando você joga contra o maior rival, torna-se um título duplo. São dois campeonatos. A gente está muito feliz, foram dias de muita luta e batalha para jogar.
"Estou muito feliz, porque eles (Corinthians) não iam classificar e Deus ressuscitou eles para a gente acabar de matar aqui.
"Foi muito bacana."
Comemoração que Felipe Melo, que reproduz com exatidão o sentimento de vingança verde.
A conquista do Paulista foi da renovação.
Do fim da megalomania.
Mas também da raiva por 2018...
Depois de 12 anos: Palmeiras volta a comemorar título do Paulistão
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