Com Ronaldo como dono, Cruzeiro deixa de ser 'falido, caloteiro'. Volta a ser gigante e atrair dinheiro
Como em um passe de mágica, a dívida de R$ 1,2 bilhão e os calotes foram esquecidos. A chegada de Ronaldo, com o aporte de R$ 400 milhões, faz com que o clube deixe as páginas policiais e volte a ser visto como gigante
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Desde 2019 o Cruzeiro era sinônimo de vergonha.
Não só pelo rebaixamento para a Série B.
Mas por dirigentes investigados pela Polícia Federal por envolvimento em corrupção. Ganhou rapidamente a fama de clube caloteiro, mau pagador, punido seguidamente pela Fifa por comprar jogadores e não pagar por eles.
Chegou até a dar como garantia de empréstimo a empresários contrato de criança, o que é absolutamente proibido, imoral, absurdo.
Por incompetência, e por suspeita de corrupção, as dívidas do clube chegaram a R$ 1,2 bilhão.
Diante desse quadro, o time só poderia ser fraco, formado por atletas de nível técnico limitado ou veteranos sem poder físico necessário. Daí o fracasso de técnicos como Luiz Felipe Scolari, campeão do mundo, e Vanderlei Luxemburgo, recordista com cinco títulos brasileiros na Série A, ao lado de Lula, treinador do Santos de Pelé.
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Salários atrasados, patrocínios baratos, dívidas crescentes, time fraquíssimo, incapaz de escapar da Segunda Divisão. Sede ameaçada de venda.
Um gigante do futebol brasileiro, bicampeão da Libertadores, sem credibilidade.
Esse era o quadro do clube até ontem.
Foi quando Ronaldo Fenômeno foi anunciado como o dono de 90% das ações do Cruzeiro Sociedade Anônima de Futebol. Comprou-as por R$ 400 milhões, que vai investir, aos poucos, no futebol.
A previsão é que R$ 80 milhões sejam em 2022. Quinze milhões de reais para pagar a dívida da compra de Arrascaeta e de Riascos, feita em 2015 e que, seis anos depois, ainda não foi honrada. Os R$ 65 milhões restantes serão divididos em contratações, pagamento de salários e de empréstimos feitos pelo futebol, melhoria da infraestrutura.
Ronaldo passaria o restante do ano em Dubai, em férias. Ele é presidente do Valladollid, da Espanha. Mas decidiu cancelar a viagem, ficar no Brasil. E já começar a trabalhar com uma equipe de executivos para analisar a situação econômica real do Cruzeiro. E priorizar aquilo em que realmente é necessário investir neste primeiro momento.
"Eu estava prevendo que iria acontecer. Já cancelei toda a viagem de fim de ano. As crianças já estão brigando comigo. Estou sofrendo pressão muito grande. Mas dia 2 de janeiro, aniversário de 101 anos do Cruzeiro. Estarei em Belo Horizonte. Vai ser um momento muito especial", avisou em seu canal no YouTube, RonaldoTV.
O simples anúncio do nome Ronaldo como comprador do Cruzeiro teve efeito imediato. A começar pela mídia internacional. O clube ganhou publicidade espontânea que nem nas suas maiores conquistas em campo conseguiu.
Portais mais importantes do planeta fizeram matérias, divulgaram fotos do três vezes melhor do mundo, 1996, 1997 e 2002, ao lado do presidente do Cruzeiro, Sérgio Rodrigues.
O clube recupera credibilidade para negociar. Porque deixa de ser o clube "caloteiro" para ser o "clube de Ronaldo Fenômeno". O ex-atacante tem, extraoficialmente, patrimônio de cerca de R$ 900 milhões.
Como fazem o Atlético Mineiro e o Corinthians, com dívidas de mais de R$ 1 bilhão, a estratégia de Ronaldo será focar o futebol. Montar uma equipe forte o suficiente para subir para a Série A em 2022. Aceitar os jogadores veteranos que o clube acertou, quando não havia a certeza de que Ronaldo assumiria o futebol do clube.
Maicon e Pará vão se juntar a jovens da base e outras promessas que serão garimpadas na América do Sul, para valorização e futura venda, em política parecida com a do Palmeiras e do Red Bull Bragantino. Ou ser levadas ao Valladollid para "entrar" na Europa.
Há a certeza de que, com Ronaldo à frente, o número de sócios-torcedores vai se multiplicar. Há dois meses, a situação era preocupante. O clube tinha apenas 10 mil sócios-torcedores atuantes e ocupava a 17ª colocação.
Além do retorno dos sócios-torcedores, é esperada a volta dos estádios cheios. Já no Campeonato Mineiro, no enfrentamento com o poderoso Atlético Mineiro e com o muito bem estruturado América, que tomou o lugar de segunda força em Belo Horizonte.
O desejo é uma boa campanha também na Copa do Brasil, com suas premiações milionárias.
O foco está, no entanto, na volta para a Série A.
A imprensa espanhola destaca que Ronaldo, desde que assumiu o Valladollid, não se deixou empolgar como administrador. Pelo contrário. O time segue modesto. Tanto que, depois de três anos na Primeira Divisão, foi rebaixado na última temporada.
Ronaldo comprou, em setembro de 2018, 51% das ações do clube espanhol. Depois, comprou mais 20%. Atualmente, tem 82%. O Real Valladollid está na quinta colocação nesta temporada, na Segunda Divisão.
O clube, com Ronaldo na direção, triplicou seu patrimônio.
Mas bastou a divulgação da associação do nome de Ronaldo ao Cruzeiro e a situação mudou.
O clube deixou as páginas policiais e voltou ao patamar dos grandes do futebol deste país.
Ronaldo sabe muito bem onde amarrou R$ 400 milhões.
A cobrança será ainda mais forte do que a surpresa.
Mas o primeiro efeito colateral foi excelente.
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