Avisando Zetti. "Você foi pego por doping. Cocaína"
Dei a notícia ao goleiro que havia sido pego no doping pela Fifa. Ele tinha comido bolinhos artesanais e tomado chá de coca. A reputação o salvou
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Depois do vexame diante da Bolívia, o Brasil iria enfrentar a Venezuela, em San Cristóbal.
Jornalistas tinham acesso à concentração.
Capítulo 4
Metabólico de cocaína.
No sangue de Zetti
Ligo no jornal para detalhar a minha pauta. Sobre o que escreveria.
A repercussão do time à vergonha em La Paz.
Quando ouço do meu editor.
Tudo mudou.
Havia estourado uma bomba.
Zetti havia sido pego no doping.
Naquele tempo, em 1993, sem Internet, tudo era lento demais.
O JT tinha uma ótima fonte na Fifa.
A notícia ainda não havia chegado à CBF.
O meu editor, lógico, queria a palavra do goleiro.
A carreira do jogador do São Paulo era ilibada, sem manchas, problemas.
Exemplar, dentro e fora do gramado.
E no seu sangue, a Fifa descobriu indícios de metabólico de cocaína.
Lá fui eu, discretamente, chamar Zetti que estava almoçando.
Ele me conhecia do São Paulo.
E perguntou o que acontecia, afinal, era reserva de Taffarel.
Não sabia como dizer.
Mostrei a minha elegância, a minha sutileza de elefante.
"Você foi pego no doping contra a Bolívia.
Cocaína."
Zetti ficou vermelho, tenso.
"Você está brincando, de sacanagem."
"É sério", respondi.
"O que aconteceu?
"O que você fez?", perguntei.
Zetti, desesperado, pediu para eu esperar.
E falou com Parreira.
A notícia havia acabado de chegar na concentração.
Zetti teve a hombridade de voltar e terminar de falar comigo.
"Vou provar que não fiz nada. Você me conhece." Zetti sempre teve fama de ser mais correto do que uma freira.
Seu caráter pesou e todos na CBF se convenceram : ele havia comido biscoitos artesanais, feitos com folha de coca.
Além disso, bebeu chá de coca.
Ele e o lateral Rimba, da Bolívia, que também alegou ter comido os tais biscoito. E tomado chá de coca.
Acabou pego por doping, foram perdoados pela Fifa.
A incompetência da organização da CBF deixou o acesso dos jogadores aos tais biscoitos artesanais. E ao chá de folhas de coca.
Algo absurdo.
Mas compreensível pelo improviso na Seleção, naquelas Eliminatórias.
O goleiro foi salvo por sua reputação.
Incrível, mas verdade.
"Se fosse outro jogador e não o Zetti, pegaria um ano de suspensão. Sem direito a defesa", brincávamos nós, jornalistas.
Zetti sempre se lembra da situação quando me vê.
"Foi o maior susto da minha vida. Jamais cheguei perto de drogas. Foi um pesadelo. Aquelas Eliminatórias foram um horror. Tínhamos de ser tetra. Sofremos demais", diz o goleiro, 26 anos depois do trauma...
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