São Paulo, Brasil
Os dirigentes dos clubes brasileiros sonham, desde 1992, quando, admirados, acompanharam as equipes britânicas romperem com a Liga Inglesa, insatisfeitos com as cotas da tevê. E fundaram a Premier League, para cuidar dos torneios da Inglaterra.
São 29 anos sonhando.
Mas os presidentes da CBF não cediam. E tinham força para romper, na raiz, a criação de uma Liga de Clubes Brasileiros. Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero não permitiram que a ideia se consolidasse.
A estratégia era simples: conchavos com presidentes de clubes, adiantamento de cotas de televisão, apoio político, dinheiro emprestado. A cumplicidade da Globo, que dominava as transmissões nacionais, e das Federações.
E de maneira autoritária, os presidentes da CBF mantinham na entidade todos os direitos sobre as seleções brasileiras, as lucrativas organizações dos Brasileiros, Séries A, B, C e D. Além da Copa do Brasil.
Foi assim que Marco Polo del Nero esmagou a frustrada tentativa da Primeira Liga, que só teve fôlego para dois torneios fantasmas, esvaziados, em 2016 e 2017.
O único direito dos clubes era votar na eleição para a presidência da CBF. Seus votos eram apenas simbólicos, já que os das federações têm peso três. Ou seja, as Federações tinham direito a 81 votos e os clubes das Séries A a 40 e os da B, a 20.
Situação ridícula.
Só que agora, tudo mudou. Há semanas, presidentes dos maiores clubes do Brasil trocavam mensagens pelo whatsapp. Sabiam que denúncias gravíssimas contra Rogério Caboclo viriam à tona.
E elas vieram, com o seu afastamento. Há a certeza nos clubes que ele não retornará ao comando da CBF.
Com o presidente interino da CBF, Coronel Antônio Nunes, sendo obrigado a convocar uma eleição entre os vices da entidade para, que um deles, cumpra o mandato de Caboclo até 2023.
Era o momento de fraqueza ideal.
Mas a Copa do Brasil também é objeto de desejo.
Além de também exigir uma revolução nas eleições da CBF. Com os clubes e federações tendo o mesmo peso. E acabar com a obrigatoriedade que cada chapa precise necessariamente do apoio de oito federações e cinco clubes. Basta ter o apoio de 13 entidades.
A CBF cuidaria apenas das seleções.
Ou seja, as federações perderiam o controle do futebol do país.
Os presidentes dos 19 clubes se reuniram hoje em um hotel no Rio de Janeiro. E assinaram a carta que foi entregue à CBF. O Sport não participou do movimento porque seu presidente, Milton Bivar, renunciou hoje.
O presidente do São Paulo, Julio Casares, era o mais empolgado. E escreveu nas suas redes sociais.
"Aqui, no Rio de Janeiro, em defesa de um projeto para os clubes brasileiros nesse difícil momento. Participação, mobilização, organização, equilíbrio e serenidade são os pilares da nossa caminhada. Com diálogo e transparência! Viva o futebol! Viva os clubes de futebol do Brasil!"
Embora a CBF esteja com presidente interino, o blog apurou.
Os presidentes das principais Federações de Futebol do Brasil começaram a trocar mensagens, assim que souberam do motim dos clubes.
E prometem lutar para manter seus privilégios.
Tudo é muito embrionário.
Mas, desta vez, os clubes prometem não recuar.
Acossados por suas dívidas.
Juntos, os clubes da Série A devem cerca de R$ 9,5 bilhões.
A direção da CBF comemorava que, em 2020, seu faturamento teria passado de R$ 1 bilhão.
Depois de 29 anos sonhando, os clubes ameaçam tomar conta dos campeonatos que disputam.
A guerra foi declarada.
Resta saber se não será o fiasco da Primeira Liga...
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