A guerra suja por dinheiro. O corpo de Sala não interessa
Nantes e Cardiff não mostram respeito pela morte de Sala. Enquanto o corpo foi achado ontem, a preocupação dos clubes é com os R$ 72 milhões
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
Os últimos momentos de vida e os primeiros dias da morte de Emiliano Raúl Sala Taffarel foram marcados.
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Pela insensibilidade e pelo dinheiro.
A retirada do corpo do atacante de 28 anos, ontem, preso nos destroços do monomotor Piper PA-46, 67 metros submerso no Canal da Mancha, a 34 quilômetros da ilha de Guernsey, ainda não foi o ponto final nesta trágida história.
Muito pelo contrário.
A direção do Nantes já deixou claro que deseja os 15 milhões de libras, cerca de R$ 72 milhões, pelos quais negociou o atacante com o Cardiff, do País de Gales.
A cobrança da primeira parcela, 5 milhões de libras, cerca de R$ 23 milhões, foi feita por e-mail.
E, não foi nada amigável.
Os franceses não tiveram a menor preocupação de esperar o capítulo final da tragédia ocorrida na noite de 21 de janeiro. E, enquanto a terrível imagem dos destroços do avião no fundo do mar ganhava o mundo, a cúpula do Nantes ameaçava o Cardiff.
Se o pagamento não fosse feito em dez dias, os franceses processariam o clube galês.
Acionaria até a Fifa para ter o dinheiro.
A transação estava concluída.
Os dirigentes do Nantes repassariam 50% da transação para o Bordeaux, clube anterior do atacante.
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O combinado era : um terço do dinheiro seria pago uma semana depois da assinatura de contrato de Sala para atuar na Grã-Bretanha. Ou seja, dia 28 de janeiro.
Os dirigentes do Cardiff se mostraram desgostosos com o vazamento da cobrança. E decidiram alegar 'respeito à morte do jogador' e garantiram que iriam pagar no 'momento oportuno'.
O que é algo absurdo.
A terrível morte do jogador não pode servir de escudo para que o Cardiff não cumpra sua obrigação financeira.
Na verdade, é vergonhosa a atitude dos galeses.
O clube que disputa a Premier League também não assumiu publicamente que pagará os salários de três anos e meio combinados com Sala. Essa quantia precisa ser depositada à família do jogador.
Só que até agora, nenhum pronunciamento.
Aliás, tanto o Nantes como o Cardiff tiveram atitude lamentável em relação às buscas da aeronave. As autoridades da ilha britânica de Guernsey decidiram interromper a procura três dias depois do desaparecimento da aeronave que transportava o argentino.
Os dirigentes das duas equipes cruzaram os braços. Não se comoveram com o desespero da família do atleta. Nem com a comoção da opinião pública.
Não quiseram gastar, já que o atleta estava morto.
Foi necessária a organização de uma campanha de doação pela Internet para uma empresa particular continuasse com as buscas. Messi, Higuain, Otamendi e outros jogadores importantes argentinos foram os maiores doadores. A arrecadação chegou a 190 mil libras esterlinas, cerca de R$ 911 mil.
E a empresa Blue Water Recoveries foi contratada.
Os destroços do avião logo foram encontrados.
Havia um corpo preso às ferragens.
Aparelhos por controle remoto conseguiram retirar o cadáver.
Ele foi levado pela Inglaterra, para que houvesse a identificação.
Poderia ser do piloto David Ibbotson.
Houve o anúncio ontem à noite: era Emiliano Sala.
Só que a cúpula do Nantes queria saber do dinheiro prometido e não pago pelo Cardiff.
Os galeses já articulam o recebimento de 16 milhões de libras, R$ 76 milhões, valor que o clube teria direito ao seguro de vida do atacante.
Não será assim tão fácil.
Porque haverá uma investigação.Sobre os motivos que fizeram o clube galês aceitar que a mais cara contratação de sua história cruzasse o Canal da Mancha a bordo de um monomotor. À noite e em péssimas condições climáticas.
Lógico que a irresponsabilidade, o descaso do Cardiff serão grandes obstáculos.
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O corpo do jogador está na Inglaterra.
Ele será levado para a Argentina, onde será enterrado.
A família espera a última despedida.
Que os galeses pelo menos paguem essa despesa.
Por trás da enorme tristeza pela morte do atacante há dois componentes fundamentais.
A insensibilidade.
E o dinheiro.
O valor pela vida perdida ficou em segundo plano...
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