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Rivalidade de 110 anos enriquece a final Boca x River na Libertadores

Boca Juniors e River Plate fazem um dos maiores clássicos do mundo e terão a oportunidade única de se enfrentarem na final da Libertadores de 2018

Futebol|Rodolfo Rodrigues, do R7

Boca x River na final da Libertadores
Boca x River na final da Libertadores Boca x River na final da Libertadores

No dia 2 de agosto de 1908, Boca Juniors e River Plate se enfrentaram pela primeira vez na história num amistoso. Desde então, nesses 110 anos, o clássico entre os dois maiores clubes da Argentina ganhou enorme dimensão, tradição e se transformou em dos maiores do mundo — para muitos, o maior.

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Recentemente, o jornal inglês The Guardian, esse é o maior evento que qualquer amante do esporte poderia assistir antes de morrer. Em 2016, a tradicional revista inglesa 442 listou os 50 maiores clássicos do mundo e colocou o Superclássico argentino como o número 1. 

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Clubes de tiveram origem da região portuária de Buenos Aires, River e Boca foram fundados no início do século passado (1901 e 1905). Donos das maiores torcidas do país (representam 70% dos 44 milhões da população, maioria do Boca), os times tornaram-se grandes rivais em meados 1920, principalmente depois da mudança do River para o bairro de Nuñez, região nobre de Buenos Aires. Em pouco tempo, o clube e seus torcedores passaram foram então chamados de Millonarios (milionários), ampliando a rivalidade esportiva para um duelo de classes na Argentina, já que o Boca, do bairro pobre de La Boca, sempre reuniu mais simpatizante de classes mais simples. 

O xingamento entre os torcedores é algo também característico nessa rivalidade. Os torcedores do River Plate são chamados pejorativamente de Gallinas (galinhas) desde a final da Libertadores de 1996, quando River, favorito ao título, perdeu o título depois de fazer 2 a 0 no primeiro tempo do jogo desempate e depois levou a virada de 4 a 2. Já os torcedores do Boca são chamados de Bosteros (comedores de estrume), por serem de uma região suja, fedida, segundo os hinchas do River. O atacante Carlos Tevez, na semifinal da Libertadores de 2004, entre as duas equipes, comemorou um gol imitando uma galinha no estádio do River Plate e acabou expulso. 

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"O superclássico é, talvez, a único em que um jornalista pode se arriscar a escrever o comentário antes do seu início e não ser contestado. Possivelmente (ou certamente) vai ser assim. Um jogou feio e até ruim, mas, sem dúvida, com a carga emocional deixando o aspecto lúdico em segundo plano (ou terceiro). Mas chato não será, devido ao grau de intensidade sem precedentes. Não é impossível ver um bom futebol ou pelo menos alguns momentos de técnica. Houve jogadores clássicos e extraordinários nesse clássico, como Moreno, Pedernera, Labruna, Sívori, Maradona, Batistuta, Riquelme, tantos", diz o jornalista e historiador argentino Jorge Barraza, autor do livro "História da Copa Libertadores", pela Conmebol.

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Maior campeão argentino, com 36 títulos contra 33 do Boca, o River Plate orgulha-se de ser o maior vencedor do país. O Boca, com duas Libertadores a mais (6 a 4) e com vantagem no confronto direito (também pela Libertadores), gaba-se de ter uma história de títulos internacionais mais rica que a do rival. Recentemente, porém, na era do técnico Marcelo Gallardo, o River Plate vem levando a maior — foram 9 vitórias nos últimos 13 jogos. Além disso, os Millorarios eliminaram recentemente o Boca na quartas de final da Libertadores de 2015, vencida pelo River. Naquele ano, o Boca acabou sendo punido pela Conmebol pelo episódio do gás de pimenta sobre os jogadores do River antes do início da partida.

"Depois de 110 anos, 371 jogos e 246 confrontos oficiais, esses dois jogos finais da Libertadores serão os dois picos da história de ambos, a instância mais alta. Quem vencer, vai chegar ao seu auge e quem perder terá que suportar uma tempestade jamais vista... Críticas, memes, ridicularização... É o duelo onde cada jogador de futebol tem um selo na testa com as iniciais: PP (proibido perder)", explica Barraza. 

A final da Libertadores de 2018 será a primeira na história entre dois clubes da mesma cidade e dois grandes rivais. Em 2005 e 2006, o torneio contou com duas finais entre clubes do mesmo país — São Paulo x Atlético-PR e Internacional x São Paulo, duelos sem grande rivalidade no futebol brasileiro.

Na Europa, a Liga dos Campeões contou até hoje com seis finais entre clubes do mesmo país. Em 2000, entre os espanhóis Real Madrid e Valencia; em 2003, entre os italianos Milan e Juventus; em 2008, entre os ingleses Manchester United e Chelsea; em 2013, entre os alemães Bayern Munique e Borussia Dortmund; e em 2014 e 2016, entre Real Madrid e Atlético de Madri. Este último, o único grande clássico, mas sem o mesmo tamanho desse Boca x River. 

Dessa forma, essa inédita final sul-americana vem sendo tratada por muito como a maior da história ou a maior final de clubes do futebol mundial em todos os tempos. "A presunção faz parte da luta secular entre os dois lados e, acima de tudo, do modo quase patológico pelo qual o futebol é vivido na Argentina. Sim, é um confronto sem paralelo. Algo como "a Terceira Guerra Mundial". Um Corinthians x Palmeiras ou Flamengo x Fluminense talvez produzissem maior brilho estético, mas não geram tanta expectativa. Barcelona x Real Madrid fazem o confronto entre duas cidades, o separatismo catalão contra o poder central da Espanha. Boca x River é um jogo com regras de futebol", analisa Barraza.

Brasileiros

Desde 1908, o atacante argentino Ángel Labruna, o maior artilheiro da história do River Plate, é o maior artilheiro do Superclássico com 16 gols, seguido por Oscar Más, com 12 gols (também do River) e do brasileiro Paulo Valentim, que atuou pelo Boca Juniors nos anos 1960, vindo do Botafogo, e marcou 10 gols no clássico. Nesse século XXI, o Boca contou outros brasileiros no elenco, como o lateral esquerdo Jorginho Paulista, o lateral direito Baiano, o zagueiro Luiz Alberto, e o atacante Iarley, o único que ganhou destaque. O ex-jogador do Inter, aliás, foi protagonista de um Superclássico de 2003. 

Relembre jogadores que atuaram por Boca Juniors e River Plate

Expectativa global

Jogo de enorme importância, o Superclássico entre Boca e River fez com que a Conmebol mudasse a data das finais, saindo da tradicional quarta-feira à noite para o sábado, algo que não acontecia desde 1987, quando América de Cali e Peñarol disputaram um jogo desempate —e por falta de data. Com o horário local das 17h (18h de Brasília), o jogo também mudou de horário para atender o público europeu (começará às 20h no Velho Continente). 

O atual presidente da Argentina, Mauricio Macri, que já foi inclusive presidente do Boca Juniors, entre 1995 e 2007 (ano do último título do clube na Libertadores), chegou a pedir que as finais pudesse receber torcida visitante, o que não acontece desde 2013. O desejo de Macri, em ver "maturidade e paz", porém, não foi atendido e acabou vetado pelo presidente da AFA (Associação de Futebol Arentino), Claudio Tapia. Uma mega-operação de segurança também vem sendo montadada pelas autoridades de Buenos Aires, que deverá contar com cerca de 2000 policiais nos arredores do estádio La Bombenora para esse primeiro jogo. 

Apesar desse temor e alguns casos isolados, o clima na cidade de Buenos Aires é bom e vem cercado de uma grande expectativa TVs, jornais, rádios e redes sociais não têm outro assunto nos últimos dias a não ser a grande final. "O clima está muito tranquilo. Estão todos aguardando por esse grande clássico, o maior na história de Boca e River. Há muito tempo que não há torcida visitante nos estádios e isso diminuiu a violência em dias de jogos. Não sei se essa será a melhor final de Libertadores. Mas será uma final extraordinária. Há uma expectativa grande. Não acho que o Superclássico de antigamente era melhor. Para mim, ele sempre foi muito importante. Agora, é importantíssimo", completa Jorge Barraza. 

Pelo mundo, algumas celebridades do futebol se manisfestaram recentemente sobre a final. O goleiro italiano Buffon, do PSG, disse que vai torcer para o Boca Juniors do amigo Tevez. "Se ele precisasse de mim no Boca, faria essa loucura por ele. Espero que ele possa conquistar essa alegria importante", disse o goleiro à ESPN argentina. O técnico Ernesto Valverde, do Barcelona, disse comparou a decisão com o clássico espanhol. "É como se fosse um Barcelona x Real Madrid na final da Liga dos Campeões, algo assim. Será bonito de ver". 

Um episódio curioso envolvendo a final aconteceu também na Europa nessa semana. Na Rússia, o meia Paredes, do Zenit, ex-jogador do Boca, foi acusado por torcedores do próprio clube de cavar uma expulsão no campeonato nacional para poder folgar no fim de semana e poder voltar para a Argentina para ver o final. 

Restaurante temático, o Mooca Aires recebe torcedores argentinos:

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