Presença de barra bravas no Brasil para Libertadores é sinal de alerta
Torcidas de Boca Juniors e River Plate, cujos líderes estão impedidos de entrar no Brasil, deverão estar aqui para acompanhar as semifinais da Libertadores
Futebol|Cesar Sacheto, do R7
Os confrontos entre as equipes brasileiras e argentinas nas semifinais da Copa Libertadores deste ano trazem à tona um tema antigo e que gera aflição na sociedade: a violência das torcidas organizadas.
A possibilidade do encontro entre barra bravas argentinos e grupos de uniformizados brasileiros causa preocupação. Autoridades da segurança pública, dirigentes dos clubes e das entidades que organizam o torneio traçam planos para evitar os confrontos.
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A entrada dos barra bravas no Brasil está impedida após uma decisão que envolveu os governos de ambos os países. Assim, foi criada uma espécie de "lista negra" com nomes dos principais chefes dessas torcidas. A Polícia Federal é o órgão responsável por fiscalizar os aeroportos e bloquear o acesso dessas pessoas.
Durante a Copa do Mundo de 2014, um integrante de uma torcida do Independiente foi preso no estádio Mané Garrincha, em Brasília, antes da partida entre Argentina e Bélgica.
Pablo Alvarez, conhecido como Bebote, que era procurado na Argentina, tentou despistar a polícia ao vestir uma camisa do Flamengo. Ele foi deportado dias depois — retornou à prisão no ano passado por cometer outros crimes.
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De acordo com o Ministério da Segurança Pública do Brasil, questionado pelo R7, a solicitação para impedir a entrada dos barra bravas deve partir do governo argentino.
Pelo protocolo, depois de acionado formalmente, o Itamaraty passaria a demanda para a pasta. Então, a Polícia Federal, responsável pela fiscalização nos aeroportos e acessos ao país, executaria as ordens.
Entretanto, não há conhecimento de pedidos para os jogos das semifinais da Copa Libertadores deste ano, segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Segurança Pública brasileiro.
Ministério Público paulista não se pronuncia
Procurado pelo R7, o Ministério Público de São Paulo — órgão que solicita e fiscaliza medidas de segurança para evitar confrontos nos estádios em todo o Estado — não se pronunciou sobre quais medidas pretende estabelecer para preservar os torcedores e moradores da capital paulista enquanto os barra bravas estiverem na cidade.
Os pedidos de entrevista foram enviados para a assessoria de imprensa do órgão, mas não tiveram respostas por parte dos promotores responsáveis.
Operação da PM
Em nota, a Polícia Militar do Estado de São Paulo adiantou que prepara uma operação especial para evitar conflitos entre torcedores de Boca Juniors e Palmeiras nas proximidades do Allianz Parque no próximo dia 31 de outubro.
Ainda de acordo com a corporação, deverá haver reforço da tropa do 2º Batalhão de Choque, responsável pelo policiamento nos estádios. Os barra bravas também serão escoltados por batedores da Rocam na chegada e saída da arena palmeirense.
Calma aparente
O jornalista Gustavo Grabia, que trabalha no diário argentino "Olé" e é autor do livro "La Doce", que conta a história da principal torcida organizada do Boca Juniors, afirma que os 12 principais líderes dos barra bravas continuam impedidos de ingressar no Brasil.
No entanto, Grabia ressalta que não houve problemas na partida entre Boca e Palmeiras, disputada em abril passado e válida pela fase de grupos da competição, em Buenos Aires. Ele também não acredita em distúrbios envolvendo as organizadas do Boca na capital paulista.
"Na verdade, o foco de 'La Doce' é muito mais em chegar a uma final com o River. Aqui (na Argentina), a barra do Boca está enfrentando dois processos legais e tenta não se meter em problemas para não complicar ainda mais a sua situação", avaliou.
O jornalista argentino tem opinião semelhante em relação à torcida do River para o embate diante do Grêmio, na capital gaúcha.
"O último grande problema do River foi o São Paulo", lembrou o jornalista, citando as confusões ocorridas em 2003 (semifinal da Copa Sul-Americana) e 2005 (semifinal da Libertadores), ambas nos arredores do estádio são-paulino.
Relações entre organizadas argentinas e brasileiras
Apesar da rivalidade histórica entre os torcedores dos países vizinhos nos mais variados esportes, a consolidação dos campeonatos internacionais na América Latina, especialmente a Libertadores, deverá alterar as relações entre as organizadas nos próximos anos.
"Em termos de organizadas, existe um antigo sistema de alianças que privilegia os aliados. A premissa é: amigo de amigo é amigo. Amigo de inimigo é inimigo. Inimigo de amigo é inimigo", revela o professor Felipe Tavares Paes Lopes, que leciona no Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura da Universidade de Sorocaba.
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Segundo o professor Felipe Lopes — que pesquisou as torcidas organizadas argentinas para tese de doutorado —, dentro dessa relação, que ainda está em crescimento, as torcidas recebem suporte e estrutura nas viagens, como: hospedagem nos países dos jogos, pontos de alimentação e segurança.
"No Rio Grande do Sul, o sistema de alianças é mais robusto devido à localização geográfica que aproxima o Estado gaúcho e a fronteira argentina", explica o professor.
Os confrontos no Brasil desta semana
O Grêmio, atual campeão da Libertadores, enfrentará o River Plate, enquanto o Palmeiras terá pela frente o Boca Juniors na luta pelo segundo título da história do clube. Para este jogo, a torcida do Boca esgotou já na última sexta-feira (26) as entradas disponibilizadas para seus torcedores no Allianz Parque. Foram comercializados um total de 1.816 ingressos para os argentinos.
Por terem campanhas melhores que os adversários nas fases anteriores do torneio, as equipes brasileiras fizeram o primeiro jogo fora e terão o benefício de decidir a vaga em casa.
Nas partidas de ida, o Grêmio venceu o River Plate no estádio Monumental de Nuñez por 1 a 0, enquando o Palmeiras foi derrotado pelo Boca Juniors por 2 a 0, em La Bombonera.
Conflitos entre organizadas é problema antigo na América do Sul: