Rival do Brasil na Copa, Chile tem cultura rica
País tem dança la cueca, dois prêmios Nobel de Literatura e ícones musicais
Copa do Mundo 2014|Miguel Arcanjo Prado, editor de Cultura do R7
O Chile é muito mais do que o grande temor dos brasileiros nestas oitavas da Copa do Mundo de 2014. Os dois países se enfrentam às 13h deste sábado (28) no Mineirão, em Belo Horizonte.
Independentemente do resultado nos gramados, o Chile tem uma rica cultura que merece ser conhecida pelos brasileiros.
Gloria Pulgar Vargas, chilena que vive em São Paulo há 37 anos, onde é presidente da Assistência Social Chilena, conta que vai torcer pelo seu país natal.
— Minha família já está toda misturada. Mas é claro que vou torcer pelo Chile. Mas, se o Brasil ganhar, não vou ficar triste.
Em sua opinião, os brasileiros deveriam se interessar mais pela cultura chilena e ir além do grande poeta Pablo Neruda (1904-1973), Prêmio Nobel de Literatura em 1971.
Ela recorda outros nomes, como a escritora Gabriela Mistral (1889-1957), poeta chilena que também levou o Nobel de Literatura em 1945, de quem é fã. E revela outros ícones.
— A dança chilena, la cueca, é o baile folclórico nacional. Também temos comidas deliciosas como a empanada e o pastel de choclo [milho].
Apostando nesta riqueza cultural, o Memorial da América Latina, em São Paulo, vai exibir a partida entre Brasil e Chile em um telão a partir das 13h. Depois, haverá festa junina brasileira com comidas típicas chilenas e latino-americanas.
O lugar espera reunir torcedores dos dois países. Tanto que programou para a noite um show de variedades com grupos chilenos, brasileiros e argentinos, já que o jogo da Argentina nas oitavas de final é na próxima terça (1º), em São Paulo, contra a Suíça.
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Grande poeta
Pablo Neruda ainda é o nome mais conhecido internacionalmente do Chile. O sucesso do filme O Carteiro e o Poeta, de 1994, ajudou a propagar ainda mais o poeta junto às novas gerações.
Ele foi grande amigo da cultura brasileira, com a qual sempre manteve fortes laços, comprovados pela amizade da vida inteira com o casal de escritores brasileiros Jorge Amado e Zélia Gattai.
As três casas onde Neruda morou são movimentados pontos no Chile, que tem um mercado de turismo bastante movimentado, sobretudo por conta das estações de esqui e da tradição da metrópole Santiago, capital do país, além das praias paradisíacas no oceano Pacífico, como as no balnerário Viña del Mar.
Memória preservada
O país de 17 milhões de pessoas é um dos mais prósperos da América Latina. O Brasil manda cerca de 400 mil turistas para o Chile a cada ano; só perde para a Argentina em números de visitantes enviados. Gente como a pesquisadora paulistana Bruna Cristina, que esteve no país, acompanhada do namorado, durante as férias do ano passado.
—A área de turismo do país é muito bem preparada para receber os estrangeiros. Fiquei impressionada com a força da cultura do país, muito politizado. É um país que preserva sua memória, sobretudo em relação aos horrores do regime militar, sempre recordado.
Ditadura sanguinária
Após a cruel ditadura, comandada pelo sanguinário general Augusto Pinochet, que torturou e perseguiu seus opositores até o fim do regime em 1990, o Chile se reergueu e é hoje exemplo de democracia e também de modelo econômico no continente.
A troca cultural com o Brasil é antiga e teve seu auge durante o governo do presidente socialista Salvador Allende, quando vários nomes da esquerda brasileira se exilaram no Chile, até Allende morrer em 1973, quando os militares tomaram o poder.
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Outros talentos
Além dos ganhadores do Nobel, a literatura chilena tem outros ícones, como Isabel Allende, Roberto Bolaño e José Donoso. E revela novos talentos, como é o caso do jovem Alejandro Zambra, um dos principais nomes da atual literatura chilena e autor de Bonsái, lançado com sucesso em 2006.
Se a literatura é o ponto forte do Chile, sua música também impõe respeito no continente Sul-Americano. O país tem o principal festival musical da região, realizado no balneário Viña del Mar. O evento é lugar de projeção internacional para nomes importantes. Já participaram do festival a argentina Mercedes Sosa, a colombiana Shakira e até a brasileira Xuxa Meneghel.
O artista Victor Jarra (1932-1973), fuzilado pelo regime militar, também é outro grande nome da música chilena que merece ser ouvido. É antológica sua gravação da música Duerme, Duerme Negrito, poética canção sobre a exploração no continente a partir da visão de um menino pobre que espera a mãe que trabalha todo o dia para lhe trazer coisas gostosas.
Outro grande nome da música chilena é Violeta Parra (1917-1967), considerada a fundadora da música popular chilena, com canções que até hoje fazem parte do folclore. É dela a música Gracias a la Vida, cantada no Brasil por Elis Regina e ícone da canção esquerdista.
"Vai ser um dia sombrio"
Tanta riqueza precisa ser conhecida pelos brasileiros. Esta é a opinião da professora de espanhol chilena Berta Rosas, que vive em Campinas, interior paulsita. Ela está no Brasil há 36 anos. Já morou também em Salvador da Bahia. Junto do marido, Patricio Tapia, montou a Associação de Chilenos de Campinas Pablo Neruda. O objetivo: difundir a cultura chilena na cidade.
— Quando cheguei, quando falava que era do Chile, muita gente me perguntava se eu era da China. Hoje, já vejo que o brasileiro conhece um pouco mais do nosso país. Mas acho que a Copa pode aproximar ainda mais o brasileiro da cultura chilena. É revigorante poder mostrar nossa cultura para os brasileiros.
Ela ficará com o coração apertado na partida deste sábado.
— Amanhã para a gente vai ser um dia triste. Porque tanto a derrota do Brasil ou do Chile será horrível. Vai ser um dia sombrio para mim. Prefiro celebrar a amizade entre os dois países.