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BRASILEIRO 2022

Copa dos Vips: celebridades vão a jogos sem problemas

Famosos têm acesso privilegiado e podem até levar acompanhante

Copa do Mundo 2014|Miguel Arcanjo Prado, editor de Cultura do R7

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Angélica e Luciano Huck na abertura da Copa: Vips
Angélica e Luciano Huck na abertura da Copa: Vips

Eles não precisam passar madrugadas a fio tentando comprar entradas no site da Fifa. Tampouco enfrentam filas quilométricas para, ao final, descobrir que não há mais ingressos. Pelo contrário, assistem às partidas da Copa do Mundo no Brasil dos lugares mais privilegiados, sempre posando para alguma câmera, é claro. São os Vips da Copa.

Para entrar em tal categoria – muitos até recebem uma boa quantia de dinheiro para marcar presença nos jogos – é preciso ter um nome que atraia a imprensa. Ou seja, ser muito famoso. Os apresentadores Angélica e Luciano Huck fazem parte deste privilegiado time. Tanto que ambos deram as caras na abertura do Mundial, no Itaquerão, no último dia 12.


O Vip, além de receber passagem, traslados e hospedagem para ele, consegue tudo isso para um acompanhante também. Se for muito Vip, pode conseguir mais do que o costumeiro par de entradas, como foi o caso da estrela Jennifer Lopez, que causou rebuliço nos bastidores da abertura por levar um verdadeiro séquito.

Os camarotes comprados por empresas patrocinadoras oficiais da Copa do Mundo disputam entre si para ver qual é o mais apinhado de Vips. O da Sony, por exemplo, contratou Alicinha Cavalcanti, promoter com mais de três décadas de experiência em rechear eventos de famosos. Ela administra 30 pares de entradas por partida.


Mas há também os que prefiram ir ao estádio de maneira mais anônima, mas não menos confortável. Exemplo é o ator de Hollywood Leonardo DiCaprio, também flagrado na abertura do Mundial. Sua aparição foi digna de uma celebridade de primeiro quilate, quase que involuntária.

Afinal, ele viajou de jato particular e se hospedou um iate fornecido pelo amigo e sheik Mansour bin Zayed bin Sultan Al Nahvan – o nome é enorme assim mesmo. O barco é simplesmente o quinto maior iate do mundo, com mais de 150 metros de comprimento e custa R$ 1,5 bilhão. Tudo para não ter de cruzar com torcedores e dar autógrafos. É claro que, para conseguir as entradas sem ter de se expor tanto, ele contou com o poderoso amigo que, entre outros negócios, é dono do time inglês Manchester City.


Mas, se há tantos Vips na Copa, há também aquelas celebridades de poder de fogo menor, as chamadas subcelebridades. Se o nome não garante um bom lugar na arquibancada, pelo menos rende exposição do lado de fora dos estádios. Seja em eventos onde os jogos são transmitidos ou até em pautas inventadas por elas mesmas.

Exemplo desta categoria é Andressa Urach, a eterna vice-Miss Bumbum. A moça fez questão de aparecer com o corpo nu pintado com a bandeira de Portugal, time de Cristiano Ronaldo, que ela jura ser um ex-affair. Do lado de fora do estádio mesmo.


Retrato da exclusão

Para Maíra Moraes, historiadora pela USP (Universidade de São Paulo),"grandes eventos no Brasil expõem os piores lados da exclusão social no País". Para ela, isso cria "uma ideia de que cidadania só pode ser adquirida por meio do poder aquisitivo". Em sua opinião, tal modelo de tratamento diferenciado é resultado da própria história do País, com passado de produção escravista e colonial.

— Os descendentes de negros e indígenas ainda sofrem com a falta de direitos, o que gerou uma sociedade patologicamente doente, cuja marca é a "cultura do privilégio". Nesse cenário, os "Vips" ou celebridades são apenas mais uma das faces dessa pseudo-cultura, que no caso do Brasil está normatizada.

Ela lembra que prioridade para ricos e famosos não é exclusividade da Copa e cita como exemplo os camarotes do Carnaval de Salvador, ou mesmo os blocos que cobram caros abadás para quem quiser desfilar atrás dos trios elétricos.

— Um país em que a maioria está sempre excluída de quaisquer direitos, a cultura da celebridade irá prosperar. Pois dissemina-se a crença de que apenas alguns poucos chegaram lá. Quando na verdade o que deveria ser disseminado é que existe um Estado de Direito para todos. A cultura da celebridade expõe apenas aquilo que está implícito na sociedade brasileira: um enorme vazio político e existencial. Em suma, a Copa apenas cristaliza um inimigo conhecido entre nós, o da exclusão.

Leia o blog de Miguel Arcanjo Prado

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