Argentina ou Alemanha? Conheça a cultura dos finalistas da Copa do Brasil 2014
Argentinos e alemães estão confiantes no título no Maracanã neste domingo
Copa do Mundo 2014|Miguel Arcanjo Prado, editor de Cultura do R7

De um lado, o assado e as empanadas. Do outro, o chucrute e a salsicha. Um tem como filho renomado Ernesto Che Guevara. O outro, ninguém menos do que Karl Marx.
Se o primeiro tem escritores do porte de Jorge Luís Borges e Julio Cortázar, o segundo tem Goethe e Thomas Mann. Quando o assunto é cultura, a disputa entre Argentina e Alemanha realmente é complicada. Porque os dois têm muita coisa para mostrar ao mundo.
E, pelo jeito, futebol também. Afinal, Argentina e Alemanha se enfrentam neste domingo (13), no Maracanã, na grande final da Copa do Mundo do Brasil 2014.

Tango e Nietzche
Se ambos países fizeram campanhas superiores à do Brasil, eliminado pela Alemanha na semifinal por 7 a 1, os dois conservam culturas reconhecidas no mundo todo.
A Argentina é marcada pelo ritmo do tango, além de ter um dos melhores cinemas da atualidade. Seu teatro também é marcado por ótimos atores e peças de vanguarda, com nomes como Daniel Veronese. Também se destaca na música, oferecendo ao mundo astros da potência da cantora Mercedes Sosa ou do roqueiro Charly García.
A Alemanha também não fica atrás. É berço do melhor que existe na música clássica mundial, tem um cinema sofisticado e é um dos berços do teatro moderno e também deu ao mundo grandes pensadores, como Nietzsche.
E o que é mais importante: ambos têm povos que gostam de ler e de se interessar por assuntos culturais. Livrarias e bibliotecas são tradição não só nas ruas de Buenos Aires, como em Berlim também.

Disciplina
O alemão Süleyman Yilmaz, morador de Berlim e estudante de engenharia, diz que em seu país há muita expectativa pelo título no domingo.
— De certa maneira já nos vemos como campeões. Os alemães são muito disciplinados e não muito emotivos.
Por isso, ele diz que já esperava que seu país derrotasse o Brasil, que em sua análise “tem um meio de campo muito fraco”. Mesmo assim, ficou surpreso com o resultado e diz que “não esperava uma vitória tão expressiva”.
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O brasileiro Marcelo Gonçalves, que vive na Alemanha desde 2012, ficou decepcionado com a derrota brasileira. Ele viu a partida no trabalho, rodeado de alemães. A maioria urrava a cada gol.
— Meus amigos me olhavam com aquele semblante de “sinto muito”. Depois do terceiro gol, já queria pegar minhas coisas e ir, mas não tinha coragem de passar na frente de todos aqueles alemães e olhar na cara de júbilo deles. Fiquei.
Apesar de afirmar que vai torcer pela Argentina no domingo, Marcelo reconhece que o pragmatismo do povo alemão pode ajudá-los na final.

— São pessoas muito organizadas e centradas. Planejam tudo muito bem antes de executar.
A professora de alemão brasileira Lourdes Castro, que também viveu cinco anos na década de 1990 no país europeu, afirma que o “foco” alemão é impressionante.
“Eles sempre têm em mente o objetivo que querem alcançar”, conta; o que ficou bem claro nesta Copa.
— Eles planejam com muito afinco e antecedência qualquer coisa e raramente a gente consegue persuadi-los a mudar o rumo já programado. Isso me irritava muito, pois adoramos improvisação. Só que ela nos dá prazer, mas nem sempre o sucesso.

Passionais
Se os alemães são pragmáticos e podem até passar certo ar de frieza, os argentinos não precisam se preocupar com este adjetivo. Muito pelo contrário, são um povo que demonstra sua passionalidade, sobretudo diante de seu futebol.
O furor com a vitória da Argentina sobre a Holanda nos pênaltis na última quarta (9), dia da Independência da Argentina, tomou conta de todas as cidades do país vizinho, aumentando a confiança pelo título no Maracanã.
Sobretudo em San Lorenzo, na Província de Santa Fé, terra natal do jogador Mascherano, um dos heróis do time. Morador da cidade, o empresário argentino Mario Abel Pacheco conta que a “reação foi impressionante” e que na principal avenida da cidade havia mais de 6.000 pessoas em festa.
Para ele, o Mundial serve para unir os argentinos, que, durante o período, se esquecem das rivalidades políticas ou mesmo no futebol local. “No Mundial, somos todos iguais”, declara.
— Somos mesmo um povo apaixonado pelo futebol.
Só uma coisa Mario não consegue entender: por que há tantos brasileiros torcendo pela Alemanha na final.
— Não compreendo porque há tanto ódio em alguns em relação a Argentina. Somos todos latino-americanos.



